Apego sempre mais forte a seus
irmãos. Estima crescente à vocação religiosa, “a melhor parte”. Devoção a
Maria, aos Anjos da Guarda. União fraterna “Ecce quam bonum”.
Saint
Valéry-en-Caux, 5 de setembro de 1854
Caríssimo amigo e filho em N.S.,
Minha ausência deve ser tão curta, que poderia ter-me dispensado de lhe escrever,
mas tenho um tão constante costume de vê-lo, assim como nossos outros irmãos, e
de conversar com vocês que, quase instintivamente, me ponho a fazer-lhe esta
carta. À medida em que avançamos, com efeito, os laços da família se apertam,
unimo-nos mais estreitamente e sentimos melhor tudo o que somos uns para com os
outros. Por isso, torna-se-me extremamente penoso afastar-me de nossa querida
Comunidade, a não ser que um dever imperioso, uma coisa interessante para a
glória de Deus e a utilidade de nossas obras o peçam absolutamente. Como esses
motivos determinantes estavam só vagamente indicados no caso presente, sentia
uma grande resistência em
partir. Mas, na falta de uma razão grave e de peso
considerável, havia várias juntas que, reunidas, se avolumavam e devem ter-me
decidido. Assegure nossos bem-amados irmãos de que, mais isento aqui dos
numerosos pormenores que me absorvem demasiadas vezes, penso mais livremente
neles, nos seus interesses espirituais, nos seus trabalhos, nas suas
necessidades e rogo ardentemente ao Senhor que os abençoe e os cumule de suas
graças. Agrada-me pensar que, dessa forma, não lhes sou inútil e, longe deles,
participo, no entanto, de suas obras. À distância também, penetro-me mais
vivamente da grandeza de nossa condição, de suas preciosas vantagens e dos
deveres que ela nos impõe. Mas sobretudo, percebendo na mudança de locais
alguns novos aspectos do mundo, vendo seu afastamento de Deus, sua adesão cega
às criaturas, a espécie de impotência em que está de se elevar para as coisas
de cima, bendigo a divina bondade que nos deu a melhor parte, fortaleço-me na
vontade de abraçá-la cada vez mais estreitamente e procurar em tudo somente
Deus.
Nosso irmão Paillé, ao qual fiz uma pequena visita, me parece animado pelos mesmos
sentimentos; penso que vai se achar completamente reconfortado. Voltaremos
juntos, na terça-feira próxima, 12 de setembro. Teria querido voltar mais cedo
ainda, mas minha irmã me faz tão vivas instâncias para obter que eu lhe conceda
ao menos alguns dias indispensáveis, assegura ela, para o bem de seus negócios,
que não posso lhe recusar. O irmão Paillé ficará aqui até segunda-feira e virá
neste mesmo dia me encontrar, na casa de minha irmã. Encontramos aqui o Sr.
Pároco de Grenelle com seu vigário tomando alguns banhos; devem também partir
no fim da semana, mas para seguir sua viagem a diversos pontos da
Normandia.
Hoje, quarta-feira, o irmão Paillé e eu estamos unidos de coração à sua
peregrinação a Notre-Dame des Anges. Pedi à Santa Virgem para cercar-se de
todos os anjos da guarda de vocês e de encarregá-los de todos os seus dons
misericordiosos. O irmão Paillé, tendo tido esta manhã grande apetite,
pretendeu que era um efeito da peregrinação e da união perfeita em que se tinha
posto com vocês. Estou bem seguro de que terá participado nessa piedosa
excursão em outros aspectos ainda, mas esse resultado é ao menos muito
positivo.
Estarei ausente domingo na reunião da Santa Família, mas escrevi ao Sr.
Decaux para pedir-lhe que me substitua e combine com o Sr. Lecoin para os
pormenores da reunião. Peço ao meu irmão Maignen, para assegurar-se sábado
junto a este último, se tudo foi bem previsto.
Lamento muito ter perdido a visita do Sr. padre Decaix, a quem desejo muito
conhecer; espero que ele não partirá antes de minha volta e que poderei vê-lo
na quarta-feira: o Sr. Caille me diz que ele deve deixar Paris somente
pelo fim da semana. Assegure-o de meus sentimentos de sincero devotamento e
recomende-me bastante às suas orações.
Meu caríssimo amigo, você não terá descuidado, acho, do pedido de nosso irmão
Caille, que recomenda instantemente às nossas orações o negócio importante de
que nos falou e que deseja uma comunhão dos irmãos nessa intenção.
Não vejo muita outra coisa útil a mencionar; peço ao Sr. Maignen para solicitar
ao Sr. Lecoin o endereço de Dejuilly, o pedreiro especializado em
chaminés, etc.. Desejo recorrer a seus serviços para as portas a abrir ou
a fechar em Grenelle, para a instalação da rouparia da Senhorita Delphine.
Estou atrasado para essas obras, que queria fazer mais cedo; tenciono
começá-las logo depois de minha chegada.
O Sr. Maignen encontrou de novo o Sr. Lequeux e tem seu projeto para as obras de
Montparnasse? Ele poderia certamente vê-lo e apressá-lo um pouco, se ainda não
tivesse recebido nada.
Adeus, caríssimo amigo, cada vez que me afasto de nossa pequena família, faço o
propósito firme que seja minha última saída, de tanto mal-estar que sinto fora
de casa e de tanta necessidade que tenho de suportar com vocês o fardo de
nossos trabalhos. Descansar, quando os outros estão penando, me pesa no coração
e não me deixa em paz.
Volto, portanto, o quanto antes. Na terça-feira os abraçarei
a todos e, a não ser por grande necessidade, não os deixo mais. Quereria chamar
pelo nome aqui todos os nossos irmãos, os grandes, os pequenos, os médios; mas
isso daria toda uma ladainha. Reúno-os a todos no Coração sagrado do divino
Salvador e me coloco ali com eles, dizendo do mais fundo da alma: Ecce quam bonum et quam jucundum habitare
fratres in unum [Como é
bom e agradável para irmãos habitarem juntos]. Abrace
a todos eles por mim e receba, você mesmo, caro amigo, minhas bem ternas
afeições.
Seu devotado amigo e Pai em N.S.
Le Prevost
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