Impossibilidade de
mandar irmãos a Chartres. Exposição dos encargos que pesam sobre a Comunidade.
Razões que determinaram o Sr. Le Prevost a mandar dois irmãos a Amiens.
Qualidades exigidas para uma vocação.
Vaugirard,
25 de setembro de 1854
Caríssimo amigo e irmão em N.S.,
Demorei um pouco para responder à sua boa e afetuosa carta. Queria a todo o
custo satisfazê-lo e testemunhar-lhe nossa viva simpatia por suas obras.
Procurei, do fundo de meu coração, em nome de nossa velha afeição à qual você
apela, dar-lhe satisfação, mas sobretudo para o bem e para a glória de
Deus que queremos de ambos os lados; acredite que, se não entro mais
completamente em suas intenções, é por incapacidade, não por falta de vontade.
Não podemos mandar-lhe um irmão imediatamente; a Providência, que desenvolveu
tão lentamente nossa pequena Comunidade, quis, para melhor nos fazer
sentir nossa fraqueza, que encargos multiplicados pesassem ao mesmo tempo sobre
nós. Assim, temos, neste momento, ao mesmo tempo, que completar a fundação de
nosso estabelecimento de órfãos, que tem cem meninos a conduzir e a sustentar,
sem contar os aborrecimentos dos prédios e construções, a criação de um asilo
novo para nossos idosos de Nazareth, de quem os demolidores derrubaram a casa;
temos o transporte de todas as nossas obras da rua do Regard para o antigo
local destinado aos Capuchinhos, local que tem 3 células para irmãos, mas
nenhuma construção, a não ser uma pequena capela inacabada. Enfim, o assento
definitivo de uma pequena fundação há muito tempo esboçada na província e para
onde devemos mandar dois irmãos. Se o próprio bom Mestre não tivesse
cuidado de nos proporcionar uma tal situação, ficaríamos, com razão,
apavorados, mas não fizemos nada senão obedecer, parece-nos, às suas
prescrições: temos confiança portanto e vamos para frente. Mas você entende,
caríssimo amigo, que não é sem dificuldade e sem trabalhos que nosso pequeno
rebanho terá bastante condições para arcar com sua tarefa, embora esteja um
pouco crescido desde que você o viu.
Parece duro responder por desculpas a um pedido tão comovedor como o seu.
Parece-me que, se pudesse ir eu mesmo ajudá-lo, na falta de outro, seria minha
alegria trabalhar com você, também minha consolação mais suave ver um ramo de
nossa pequena família implantar-se perto de você, à sombra de Notre-Dame de
Chartres, mas a impossibilidade por demais real, demasiadamente invencível está
aí. Você me perguntará como encontramos, no entanto, meio de destacar juntos
dois irmãos para um outro ponto da província. A coisa se explica. Há muitos
anos, um homem, totalmente dedicado à caridade, e que sustentava sozinho
diversas obras muito interessantes, teve o humilde pensamento de unir-se a nós,
de associar-se à nossa pequena família; sucessivamente, ele decidiu alguns bons
jovens a vir fazer conosco um tipo de noviciado; enfim, quando o momento
pareceu-lhe ter chegado de estabelecer perto dele uma pequena colônia de nossa
obra, combinou conosco as medidas a serem tomadas.
Sem deixar de seguir para Chartres um caminho semelhante, importa,
contudo, prover às necessidades presentes. Proponho-lhe este expediente: um
moço de 33 anos, que tinha ajudado durante vários anos em Bordeaux o Sr. padre
Lange, na conduta de uma obra de órfãos que não pôde alcançar bom êxito, apesar
dos mais louváveis esforços e de uma admirável dedicação, tinha pedido para
entrar em nosso grupo e, com efeito, ficou conosco durante 7 meses. Mas a vida
um pouco sedentária demais que lhe proporcionamos causava-lhe dores de cabeça
freqüentes, talvez também a regularidade um pouco estrita apresentava algumas
dificuldades para ele. Teve que voltar para perto de sua irmã residente na
Bretanha, para se refazer e assegurar-se bem de sua vocação. No entanto, esse
jovem tem boas qualidades; tem a experiência das obras; é seguro e
desinteressado; tem o desejo do bem e uma piedade satisfatória. Você poderia
confiar nele e encontrar uma ajuda muito útil. Acabo de lhe escrever para
falar-lhe de suas obras e da necessidade que você teria de assistência. Tenho motivo
para pensar que este posto é precisamente feito para ele e, se o aceitasse,
tudo me faz pensar que você seria satisfeito. Ele é ativo, não lhe falta
educação; apresenta-se bem, tem o tom conveniente e polido; somente sua
primeira educação tem sido um pouco descuidada; fala com um tom e expressões
provinciais e, embora redija muito facilmente, não o faz sem incorreção nem
erros de ortografia. Eis os pontos positivos e os fracos. No conjunto, pode
ajudá-lo muito com iniciativa, atividade, perseverança, exatidão. Aguardo sua
resposta, que não o comprometerá em nada. Desde que a tiver recebido, o informarei e
você julgará qual será a melhor decisão.
Eis tudo o que seu velho amigo pode fazer neste momento; é muito menos do que
teria querido por você, por seu venerável pároco, pelo excelente Sr. Delorme.
Mas ele guarda esperança para o futuro e promete-lhe associar-se às suas boas
obras desde que o bom Mestre lhe tiver dado os meios para isso.
Agradeça o Sr. Delorme pela sua amável lembrança, assegure-o de nossa sincera
dedicação. Não esqueci da boa confraternidade que nos unia aqui, e, apesar da
distância, estou feliz por continuá-la e entretê-la.
Adeus, caríssimo amigo e irmão, escape por um momento, quando vier a Paris,
para fazer-nos uma pequena visita: há um só coração entre nós; mesmo depois de
longas ausências, nos reencontraremos sempre, espero, amigos, irmãos em Jesus e
Maria.
Seu todo afeiçoado
Le Prevost
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