Estado da Comunidade e
das Obras. O ano 1854, ano da mudança para Vaugirard. Muitos encargos difíceis
de serem controlados.
Vaugirard
15 de janeiro de 1855
Monsenhor,
O primeiro mês do ano já está meio passado e seus filhos de Paris ainda não
vieram oferecer-lhe suas homenagens e seus votos. De onde vem, portanto, tanto
atraso? Esqueceram, então, suas bondades paternas, suas preciosas direções, a
terna gratidão que lhe devotaram? Oh não! Monsenhor, tudo isso ainda está vivo
no fundo de seus corações e nunca se apagará; só que estão fracos e ainda bem
pouco experimentados no caminho santo em que o Senhor dignou-se de fazê-los
entrar sob seus auspícios, e as menores tarefas são para eles um pesado fardo.
Ficam, portanto, curvados sob a carga e gemem incessantemente por sua
insuficiência. Tenha a bondade de perdoar-lhes, Monsenhor, e tenha a certeza
absoluta de que, não obstante sua aparente negligência, nunca foram repletos
para com Sua Grandeza de maior veneração e gratidão, de que nunca fizeram em
seu favor e em favor de seu povo votos mais ardentes, de que nunca, enfim,
desejaram mais vivamente a felicidade de vê-lo, de ouvir suas doces e afetuosas
exortações, de receber sua paterna bênção. Possa o Senhor atendê-los, dar êxito
a seus santos empreendimentos e conservá-lo durante muitos e longos anos como
objeto do amor de seu rebanho. Possa também, em sua bondade, proporcionar
alguma ocasião favorável que o traga novamente entre nós e nos dê a alegria de
cercá-lo de nossas solicitudes respeitosas e sempre devotadas.
Desde que tivemos a felicidade de vê-lo, Monsenhor, tivemos algumas passagens
bastante difíceis de transpor. Em fevereiro do ano passado, tivemos que
transportar nossa casa de órfãos e a sede principal de nossa pequena Comunidade
para Vaugirard, sobre um terreno adquirido por nós e em prédios construídos
quase inteiramente por nossos cuidados. O rebanho de nossas crianças é de mais
de 100, não era uma tarefa sem dificuldade instalá-los convenientemente em sua
nova morada, com todo o pessoal dos que as dirigem, as ensinam, e as vigiam de
noite e de dia. A divina bondade do Senhor providenciou a tudo; estamos
estabelecidos de maneira suportável, por enquanto, e em condições perfeitas
para o futuro.
De outro lado, temos sempre nossa pequena casa de Grenelle; o estabelecimento
caridoso da rua do Regard em Paris; um outro que está se construindo no local
destinado primitivamente aos Capuchinhos, enfim um também que se funda
definitivamente em Amiens.
Sua Grandeza verá por essa enumeração sumária como estamos sobrecarregados por
tantas obras ao mesmo tempo, com uma pequena família que tem somente 20
membros, eclesiásticos, leigos e irmãos de trabalho incluídos. Nos temos
repetido, porém, muitas vezes seus sábios avisos, Monsenhor, sobre os
inconvenientes dos encargos por demais multiplicados, mas estamos cedendo a
necessidades imperiosas e que não depende de nós controlar. Esperamos que o bom
Mestre, ao qual cremos obedecer, continuará a nos amparar e a prestar à nossa
fraqueza seu todo-poderoso apoio.
No meio de nossos trabalhos um pouco duros, de nossa pobreza aumentada pela
penúria do ano207, permanecemos todos firmemente apegados ao nosso
pequeno instituto, ternamente unidos entre nós e dedicados sem restrição às
nossas obras. Nenhum fraqueja e fica para trás, todos caminham juntos orando,
trabalhando e bendizendo a Deus. Não é ele, com efeito, muito misericordioso
para conosco, e não tirou de nossa nulidade muito mais do que deveríamos ter
esperado? Tenha bastante bondade, Monsenhor, para agradecer-lhe por isso
conosco e para pedir-lhe a continuação de suas ternas e generosas
benevolências.
Contamos entre seus mais preciosos favores a proteção e o interesse paterno com
que Sua Grandeza se digna de nos cobrir, esperamos que Ele nos conservará um
bem tão valioso para nós. Na falta de sua presença e de seus avisos bem
diretos, sua palavra escrita, no excelente e muito gostoso livro que Sua
Grandeza nos enviou, nos instruiu constantemente durante este último ano;
fazíamos nele nossa leitura espiritual comum de cada dia e ouso responder que
nenhuma frase, nenhum aviso, nenhuma observação terão sido perdidos para a
pequena família. Assim, persuado-me, Monsenhor, de que, visitando-nos, nos
encontrará ainda mais seus do que pelo passado, teremos guardado algo de seu santo
zelo, de sua constância generosa, em uma palavra, de seu espírito que é o de
Jesus que vive em sua pessoa.
Todos juntos, nosso Pe. Beaussier conosco, ajoelhamo-nos a seus pés para
recebermos sua bênção de Bispo e de Pai.
Seu muito respeitoso e submisso filho em N.S,
Le Prevost
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