A respeito de alguns
incidentes da vida de comunidade. Toda vida de comunidade tem suas
dificuldades, que, no entanto, forjam as almas. Exortação à confiança e à
paciência. Notícias de Vaugirard.
Vaugirard,
15 de abril de 1855
Caríssimo amigo e filho em N.S.,
Deixei passar muitos dias sem responder à sua boa carta do começo deste mês;
minha desculpa está, como sempre, em nossos trabalhos fortemente multiplicados
e também numa certa impotência de cabeça, que me causou a mudança da estação;
sacudo da melhor forma essas dificuldades para escrever-lhe algumas
palavras hoje.
Agradeço-lhe pelo envio de seus relatórios; nos interessaram muito e nos mantêm
ao par de seus esforços; é um encorajamento para nós, já que, se
somente cumprimos aqui uma pequena tarefa, esta se acha
engrandecida por suas obras, cujo mérito partilhamos, como você também
participa de nossos humildes trabalhos. Aí está o benefício da íntima união que
reina entre nós. Sinto sempre mais vivamente o quanto doce e preciosa ela é e
espero que o Senhor dignar-se-á de aumentá-la ainda e confirmá-la cada vez
mais.
Fico muito grato com suas cordiais aberturas comigo sobre os pequenos
incidentes de sua vida de comunidade. Eles não têm gravidade nenhuma, mas
seriam mais inquietantes a partir do dia em que você pensasse em não me
falar deles, mesmo que fosse num espírito de mortificação e de caridade, pois
então a pequena contrariedade dissimulada se poderia envenenar, enquanto, sendo
exposta, apaga-se e se reduz a nada. Aliás, não se inquiete de forma alguma por
esse pequeno incidente: nosso irmão Vince é impressionável, como os homens de
frágil e delicada complexão, pode ceder a um movimento de pena ou de irritação,
mas tem um fundo de sólida razão e sobretudo uma dedicação cristã a toda a
prova. Respondo-lhe por seu coração e garanto-lhe também sua submissão; sempre
voltará a si após um primeiro impulso e, afinal, só lhe dará satisfação. Tenha
toda a confiança nele, ele a merecerá e o secundará com a afeição e o zelo que
você tem direito de esperar.
Compadeço-me cordialmente com os embaraços que lhe dá sua situação tão
complicada, mas tenhamos confiança em Deus e o deixemos agir. Ele nos indicará
bem seguramente o caminho que devemos seguir.Quando você tem alguns cansaços e
dificuldades, coloque-os no Coração tão terno desse bom Mestre, com toda
simplicidade, e pedindo-lhe que o ajude: seu socorro não lhe faltará. Rezarei
com você, ou melhor, rezaremos todos juntos, e nosso Pai Celeste nos ouvirá.
Aqui não temos nada novo; nosso bom padre Lantiez está restabelecido e retomou
suas ocupações costumeiras; nosso pobre Sr. Viollat vai sempre se apagando,
parece estar por um fio.
Tivemos, em nossa pequena capela, todas as solenidades da Semana Santa e das
festas da Páscoa. Não nos esquecemos de você nelas. E você, está entrevendo
alguma esperança de ter, em sua casa, o Santíssimo Sacramento: tem a missa de
vez em quando? O Sr. Cacheleux é sempre, como o vi, bom e dedicado por você e
por suas obras? Você vê aparecer algum indício de vocação? Aqui, não temos nada
bem marcado sob esse respeito. Mas temos 8 meninos perseverantes, já bastante
avançados, e que se classificaram definitivamente como aspirantes ao serviço do
Senhor. Se todos não forem até o objetivo, alguns, esperamos, poderão
atingi-lo.
Você agiu bem e sabiamente ao firmar nosso pequeno irmão Thuillier contra seus
escrúpulos; ele não tem motivo nenhum de tê-los, tendo o coração reto e
simples. Creio que irá muito bem e sem desvio em seu caminho.
Não vejo ocasião para mandar-lhe o livro de Monsenhor de Angers e os
catecismos; se não achar daqui a alguns dias, farei a remessa pela estrada de
ferro.
Adeus, caríssimo amigo e filho em N.S., não fique triste com as poucas e
pequenas dificuldades que, nos primeiros tempos, pode apresentar sua situação
em vida comum. São quase inevitáveis até que os corações se tenham entendido,
que os caracteres se tenham um pouco formado e acomodado e que a posição esteja
estabelecida. Nós tivemos, também, em nossos começos, alguns pequenos atritos;
nosso Pe. Beaussier não se inquietou de forma alguma com isso e, com sua
elevada experiência, nos prescreveu não nos importarmos absolutamente com isso;
com um pouco de tempo, tudo se conserta. Os pequenos choques servem para
humilhar, para mortificar o amor próprio, e, enfim, deixam as almas melhores
depois do que antes. Não tenha também modéstia e desconfiança excessiva de si
mesmo, pois Deus o escolheu e colocou como chefe da pequena família, Ele estará
com você se se apoiar nele; espírito de fé, espírito de abandono e de
confiança, espírito de paciência e de suporte, todo o seu caminho está ali;
permaneça nele, caríssimo amigo, você chegará a um final feliz.
Seu amigo e Pai em N.S.
Le Prevost
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