Índice | Palavras: Alfabética - Freqüência - Invertidas - Tamanho - Estatísticas | Ajuda | Biblioteca IntraText
Jean-Léon Le Prevost
Cartas

IntraText CT - Texto

  • Cartas 1 - 100 (1827 - 1843)
    • 8 - ao Sr. Pavie
Precedente - Sucessivo

Clicar aqui para desativar os links de concordâncias

8 - ao Sr. Pavie

Anuncia a seu amigo que “volta a ser crente”. Oração a um Deussentido”. Procura um padre a quem “entregar sua consciência”. Hesita entre os padres Gerbet e Lacordaire.

 

Paris, 9 de agosto de 1832

            Escute bem, meu caro amigo, eu queria um conselho sobre uma questão grave que você compreenderá bem, uma questão de consciência enfim. Por aberto e acessível que eu seja para com você, em todos os sentidos, sinto em mim alguma repugnância a entretê-lo por carta sobre tal assunto que quase não se toca, mesmo entre amigos, senão com precaução, em horas escolhidas de confiança e de abandono. Mas como remediar isso, sendo que você não está aqui, e que ao meu redor não tenho ninguém a quem  possa consultar e cujo parecer esclarecido possa dirimir-me as dúvidas? Você me viu, lembra-se, a caminho do catolicismo, olhando-o como meu objetivo, mas a alguns passos bem lentos, parando muitas vezes no caminho e ficando afinal naquele triste estado misto, que não é nem luz nem trevas, e que ora me parecia o crepúsculo de minha antiga , ora a aurora de uma nova. Graças a Deus saio enfim destes nevoeiros de incerteza e de dúvida, volto a ser crente, sinto que meus laços se quebram e que estou subindo novamente em direção à verdade. Minha oração não é mais vaga, incerta, jogada ao acaso em direção ao Deus desconhecido. Vai numa inclinação natural ao Deus que eu sinto, que vejo, que eu ouço e sob o olhar do qual estou neste instante como em todos os outros. Você partilhará, eu sei, meu caro amigo, minha felicidade e eu não teria deixado de dizer-lhe isso antes, se não tivesse encontrado em mim a repugnância de que eu falava acima, uma espécie de pudor do amor divino que se fecha e se esconde como os outros amores de que ele é o modelo eterno.

 

            Mas não basta crer, você sabe, é preciso uma forma para sua , é preciso obras, é preciso cumprir os deveres do cristão. Tive, então, de pensar em entregar minha consciência nas mãos de um padre, em procurar remédio para o passado, ajuda para o futuro. Um digno eclesiástico de quem você me ouviu falar talvez, o Pe. Busson, antigo secretário geral de nosso Ministério, catequista da senhorita de Berry22, me inspirava essa confiança terna e elevada que gostaria de ter para com um diretor; ele estava ausente. Desde sua volta de Holyrood onde esteve para dar à senhorita sua primeira comunhão,  havia sido obrigado a deixar Paris e toda carreira lhe estava doravante fechada; todavia, o arcebispo, que tem grande confiança nele, o nomeou recentemente cônego e cura de Notre-Dame; mas determinado a um esquecimento absoluto, desconcertado talvez também por algumas odiosas brincadeiras do Constitutionnel sobre sua nomeação, ele recusa decididamente e fiquei sabendo no arcebispado que isso é sem esperança de volta.

            Agora, meu amigo, diga-me, o que devo fazer? Devo bater à porta do primeiro padre de paróquia e dizer-lhe: Venho ao Sr., receba-me; sem dúvida o mais humilde sacerdote, eu sei, me fará ouvir a palavra de Deus, mas estou bem fraco ainda, minhas luzes estão bastante incertas; teria gostado de encontrar ensinamentos para os dias sombrios e, para todos os dias, um guia nos estudos que quero empreender. Vocêentende aonde vou chegar. O Sr. Gerbet23 ou o Sr. Lacordaire seriam aqueles, entre todos, cuja direção me seria a mais preciosa, cuja palavra me penetraria melhor.

            Mas o Sr. Gerbet deve voltar somente no mês de outubro a Paris, onde parece que estes Senhores devem se reunir de novo, e o Sr. Lacordaire, que nunca vi, incute-me um pavor de criança. Além do mais, parece-me que estes Senhores nada irão querer comigo, pois  têm tantas e tão graves ocupações. Eu teria, no entanto, uma grande alegria se um ou outro deles, sobretudo o primeiro, quisesse me orientar. Diga, o que fazer? É preciso esperar a volta do Sr. Gerbet? Parece que vai demorar muito. Ir logo ao Sr. Lacordaire que me dirá sim ou não, ou ao simples sacerdote de paróquia?

 

            Você que me conhece bem, meu amigo, vai compreender melhor do que eu, estando há muito tempo no bom caminho, o que me convém melhor. Reflita um instante e dê-me um bom e salutar conselho. Vou segui-lo; para dizer-lhe meu pensamento com toda a simplicidade. Entre todos, teria preferido o padre nomeado em primeiro lugar, o padre Busson. Cada vez que eu o via, tinha de me controlar para não chamá-lo de pai, tanto me sentia inclinado por ele pelo respeito e a terna confiança que ele inspira; depois, seria o Sr. Gerbet, e, a seguir, o  Sr. Lacordaire.

 

            Procuro no mundo inteiro que conheço a quem, senão a você, meu amigo, eu teria ousado endereçar tal carta. Certamente a ninguém; talvez seja por você não se parecer com ninguém, ou, para não o envaidecer, talvez por querê-lo melhor do que ninguém.

Léon Le Prevost

 

            Queime isso imediatamente, peço-lhe encarecidamente. Responda-me sem demora, por favor. Esse assunto me preocupa e quero uma solução rápida.

 





22 Era a irmã do conde de Chambord, cuja intransigência, mais tarde, em 1871, sobre a famosa bandeira branca, entre outras razões, fez falhar o acesso ao trono dos Bourbons. Sua mãe, a duquesa de Berry, se tornava célebre nesse ano 1832, tentando levantar a Provence e a Vendée contra Louis-Philippe.



23 Philippe Gerbet (1798-1864), padre em 1822, pertenceu ao grupo de Lamennais até 1835. Filósofo e historiador, teólogo, grande escritor, vai precisar o sistema filosófico de Lamennais. Publica em 1829 um livro importante, Considérations sur le dogme générateur de la piété catholique, onde rejeita o jansenismo e recomenda a comunhão freqüente. Em Roma, de 1839 a 1849, trabalha em Esquisse de la Rome Chrétienne. Será nomeado bispo de Perpignan, em 1854. Segundo a carta do Sr. LP do 1o de dezembro, parece que o padre Gerbet, após tê-lo ouvido em confissão, o confiou a um outro sacerdote (cf. carta 10).





Precedente - Sucessivo

Índice | Palavras: Alfabética - Freqüência - Invertidas - Tamanho - Estatísticas | Ajuda | Biblioteca IntraText

Best viewed with any browser at 800x600 or 768x1024 on Tablet PC
IntraText® (V89) - Some rights reserved by EuloTech SRL - 1996-2008. Content in this page is licensed under a Creative Commons License