Detalhes
sobre o desenrolar de sua viagem e sua instalação no vilarejo pireneu do
Vernet. Como o Sr. Le Prevost conta tirar proveito da provação do afastamento e
da inação. Ele convida o Sr. Caille a se corresponder com o Irmão
Myionnet para os negócios do Instituto.
Le
Vernet, 24 de novembro de 1855
Caríssimo amigo e filho em N.S.,
A carta que lhe escrevi na véspera de minha saída de Paris o terá inquietado
talvez, por causa da súbita determinação que havia tido de tomar, por ordem dos
médicos, de ir para tão longe procurar meios de cura. Por isso, não demoro em
escrever-lhe de nosso lugar de residência, para tranqüilizá-lo, dando-lhe
diretamente notícias minhas.
Chegamos aqui no domingo passado, dia 18 deste mês, após 7 dias de viagem,
porque meu irmão Paillé, que a Comunidade encarregou de me acompanhar, não quis
que eu viajasse de noite, o que atrasou nossa marcha. As chuvas, que são raras
nesta região, mas que parecem-se com um dilúvio quando caem, nos
causaram também algumas dificuldades nos últimos dias. Fora disso, chegamos sem
problema, menos cansados que se poderia ter pensado, após uma tão longa
caminhada e para forças tão esgotadas como as minhas. Com efeito, aí está minha
principal doença: uma fraqueza extrema, que a ausência de apetite e um nojo
absoluto pelos alimentos tinham aos poucos levado até um começo de tísica.
Parece certo que, se tivesse permanecido em Paris, eu não teria encontrado
bastante forças para suportar ali o inverno, como o declaravam formalmente os
médicos. No entanto, eu tinha muita dificuldade em resolver-me a uma viagem tão
longínqua e necessariamente bastante dispendiosa; mas todos os nossos irmãos,
nosso Padre Beaussier o primeiro, se reuniram para pedi-lo; acreditei ver
nessas instâncias e pareceres a vontade de Deus e me decidi.
Estamos aqui faz pouco tempo demais para que possa, até agora, prever
claramente quais resultados terão os cuidados que se dão à minha saúde; tenho,
porém, indícios favoráveis: o ar tão puro que respiramos me devolveu o apetite;
o sol que brilha quase todos os dias me esquenta e sem dúvida vai me
fortalecer. As águas sulfurosas que se vem tomar aqui, a disposição geral da
casa que está constantemente numa temperatura igual por meio de água quente
circulando através de canos em todas as peças, são outros tantos meios que
tendem a destruir meu mal, quer dizer meu estado de esgotamento e a lesão,
aliás pouco considerável, de meu peito. Penso, portanto, caríssimo amigo, que
entra nas intenções de Deus, que me deu esses diversos meios de cura, que eles
atinjam seu objetivo e me recoloquem em condição de partilhar ainda por
um tempo seus trabalhos e suas obras. Procuro, aliás, permanecer em
indiferença e abandonar-me plenamente à sua muito adorável vontade.
Reduzido à inutilidade, por enquanto, por minha miséria corporal, esforço-me
por compensar um pouco pela oração as obras ativas que não posso realizar.
Nossa pequena casa de Amiens, acredite-me, tem sobretudo uma parte em minhas
lembranças diante de Deus: peço muitas vezes, todos os dias, a esse bom Mestre
que Ele digne-se fundá-la ele mesmo como Ele a quer e em disposições tão boas
que possa servir de modelo para as que teríamos para fazer em seguida.
Espero que você tenha agora consigo nosso querido Sr. Allard; ainda não recebi
a esse respeito informação positiva, nossos irmãos, até agora, puderam
escrever-me uma só palavra, às pressas, e que não incluía tipo nenhum de
pormenor, porque eles ainda não tinham nosso endereço e temiam que sua
carta não chegasse até nós.
Espero que você me escreva logo e que me diga bem precisamente como vão você e
meu pequeno irmão Marcaire, e suas obras, e tudo o que lhes interessa. Você
sabe o quanto tudo isso me toca vivamente. Se precisasse de conselho para
alguns negócios, você poderia consultar o irmão Myionnet, que me substitui em
tudo e cujo bom espírito você conhece. Para mim, estou a uma distância por
demais grande e na maioria das vezes minhas respostas tardariam demais a lhe
chegar. Acho também que daqui a um certo tempo, quando o irmão Myionnet estiver
bem seguro, poderia fazer-lhe uma pequena visita e ir ver com você o Sr. padre
Halluin; você me dirá se devo escrever a esse excelente Senhor. Parece-me que o
faria melhor e mais convenientemente depois que ele mesmo nos tivesse feito
alguma abertura positiva e tivesse pedido para examinar conosco se convém
realizar em nossas obras alguma útil união; você me comunicará seu parecer
sobre esse ponto.
Adeus, caríssimo amigo, abrace para mim meus dois pequenos irmãos Marcaire e
Allard; ofereça meu respeito ao Sr. padre Mangot e Cacheleux, nossas boas
lembranças a seus amigos.
Sou com uma terna afeição, em Jesus e Maria,
Seu devotado amigo e Pai
Le Prevost
P.S. --- O irmão Paillé assegura os irmãos de Amiens de sua fraterna afeição.
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