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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 301 - 400 (1855 - 1856)
    • 326 - ao Sr. Maignen
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326 - ao Sr. Maignen

Contas a acertar com os empreiteiros de Nazareth. A oração é indispensável nos embaraços financeiros. Diretivas para as providências caridosas. Zelo dos irmãos Eclesiásticos. A vida cotidiana do Sr. Le Prevost e do irmão Paillé em Vernet. Privações espirituais.

 

Le Vernet, 28 de novembro de 1855

 

            Caríssimo filho em  N.S.,

 

O Sr. Myionnet me fez redigir ontem, de um só fôlego, uma longa nota para o SrCarboy: com isso, sinto-me ainda todo moído hoje. Por isso,  responderei bem por cima à sua carta todavia tão afetuosa, tão filial, mas você  sabe há muito tampo que tudo quanto não lhe digo não está menos por isso no fundo de meu coração.

 

            Trato primeiro dos negócios que, com razão, absorvem neste momento seus principais cuidados.

            É preciso examinar quais são estritamente os direitos do Sr. Georges, a partir dos termos de seu ajuste, que se encontra na pequena gaveta à esquerda, no armário de meu quarto. (Não misturar os documentos e recibos que ali estão, por medo de não mais encontrar nada ali em seguida).

 

            Deve-se dar ao Sr. Georges o terço da importância das obras após a colocação da cumeeira, e os dois terços restantes no espaço de dois anos, sem prazos determinados para os pagamentos. Mas parece-me que as contas não estão acertadas e que a importância das notas do Sr. Georges poderá ser muito reduzida pelo acerto, sobretudo se o Sr. Cabaret,  que achamos até agora bem mole para apoiar nossos interesses, usar de um pouco de firmeza e de boa vontade. Se precisar absolutamente pagar 4.000f ao Sr. Georges, os termos que propõe o Sr. Leblanc me parecem convenientes e o Sr. Georges não poderia, parece-me, recusá-los. Ele é rude e pouco tratável em aparência, mas não o acho ruim. O Sr. Boutron está em relações de negócios com ele e tem sobre ele uma certa influência; podemos fazê-lo intervir.

 

            Para o Sr. Cabaret, pode ser justo dar-lhe uma prestação, mas esta poderia reduzir-se a 300f e acho que ele ainda estaria muito contente assim; não pode, nas circunstâncias atuaisexigir mais.

 

            Quanto aos juros a pagar, você tem o pequeno livro que lhe entreguei, estude-o com um pouco de atenção e verá as épocas de pagamento. Acho que é devido ao Sr. de Kergorlay um semestre vencido em julho ou agosto último, do qual você não fala. Para os juros devidos aos Srs. Guillemin e Terray, é uma coisa menos precisa para mim, porque, desde o último acerto de juros que fiz, com a colaboração do Sr. Boutron, ao Sr. Guillemin (ver a data deste pagamento no pequeno registro), o Sr. Guillemin fez novos pagamentos ao Sr. Terray. Seria preciso pedir ao Sr. Boutron para ajudar a você a fim de fazer nitidamente o cálculo do que é devido ao Sr. Terray e ao Sr. Guillemin para juros: seria difícil para você sozinho fazer esta pequena operação.

 

            Mas não basta falar de pagamento, é preciso também pensar nos meios de pagar. O mais seguro, o mais infallível, é a oração, é recorrer ao Coração do divino Senhor, é a invocação das misericórdias de Maria, de São José, de São Vicente de Paulo. Nossa situação é difícil, só podemos enfrentá-la por uma grande e generosa confiança no Deus de bondade que nunca nos abandonou. Portanto, caro filho, rezemos. Nada façamos, nada comecemos sem elevar nossos olhos para cima: levavi oculos meos in montes, unde veniet auxílium mihi221 [levantei meus olhos para os montes, de onde me virá o auxílio]. Apoiá-lo-ei aqui da melhor forma possível, nossos bons padres sobretudo e todos os nossos irmãos o ajudarão e o Deus Todo-Poderoso lhe dará seu auxílio.

            Quanto aos meios de ação, é preciso empregar grandes e pequenos, todos os que você puder conseguir. O Sr. Mullois, o Ministro do Interior, o Sr. Decaux, se este quisesse, poderia representar ao Sr. Baudon a importância de nosso empreendimento e seu alto interesse para a sociedade, as complicações e dificuldades que a isso acrescenta minha doença e a oportunidade de uma esmola generosa de sua parte. Nosso bem devotado Confrade ( Sr. Decaux) poderia fazer as mesmas aberturas no Conselho de Paris que, em consciência, deveria também nos auxiliar numa operação tão útil para as obras da Sociedade de São Vicente de Paulo.

 

            Acho que, se o Sr. Boutron escrevesse ao Sr. de Montaud para informá-lo de minha doença e relatar-lhe a situação da obra de Nazareth, agora  em fase de acabamento e apresentando tão bons recursos para os pobres, aluguéis, etc..., capela, o Sr. de Montaud, embora já me tenha ajudado, mandaria mais 500f.

 

            O Sr. Marquês de Saint Seinerua de Vaugirard 57, acho (em frente das irmãs), que me deu no ano passado 250f, me deixou esperar que daria outros tantos este ano.

 

            Se a Sra. de Gontaut quisesse dizer algumas palavras ao Sr. Thayer (pronuncia-se Ter) que já me ajudou com 500f, seguramente faria ainda alguma semelhante esmola.

 

            Escrevi ao Sr. de Lambel; na sua volta, você pode contar que o ajudará por todos os meios possíveis.

     Finalmente, poderia-se procurar se alguns Confrades, ainda não interessados na coisa, não poderiam fazer o empréstimo de alguns milhares de francos. O Sr. Leblanc não poderia falar nisso ao Sr. de Verneuil, mostrando-lhe que o imóvel uma garantia que põe ao abrigo de toda inquietação? O Sr. Guillemin poderia, de seu lado, falar nisso a mais alguns Confrades. O Sr. Cochin não poderia ser sondado? O Sr. Guillemin tornou a ver, como havia prometido, Dona Dufour, viúva do herdeiro de nosso amigo Bouzani? Precisaria incentivá-lo vivamente a fazê-lo: temos ali 4.500f, que nos fariam um grande bem.

 

            Não se deveria negligenciar os santinhos, sobretudo os pequenos. Se você mesmo fosse, uma vez a uma senhora, outra vez a outra, fazendo-se recomendar, teria certamente resultados; isso lhe faria, aliás, conhecidos e relações, o que é um ponto imenso nas obras. E no meio de tudo isso, caro filho, continue calmo, na medida do possível, e volte muitas vezes a Deus. Reze no caminho, ao subir as escadas, ao tocar a campainha às portas, e os anjos da guarda o introduzirão. O Sr. Hello poderia muito bem ajudá-lo para os santinhos.

 

            Estou muito feliz por tudo o que você me diz sobre nossa pequena família, feliz pelo zelo e pela boa vontade de cada um, pela dedicação de nossos irmãos eclesiásticos, que encontramos sempre os primeiros quando se trata de imolar-se para o bem: é um marcante exemplo que duplica a vida da Comunidade.

 

            Abrace-os bem fortemente a todos para mim, nunca penso neles sem que as lágrimas me venham aos olhos, pois este pensamento sempre vem ao mesmo tempo: revê-los-ei ainda?

 

Recomende bem ao meu irmão Myionnet que vigie sobre as saúdes e as necessidades de todos. Embora eu cuidasse delas, ainda não era o bastante, é preciso que ele faça mais e melhor. A capela está fria demais, demasiadamente entregue aos ventos; com um dia ou dois de operário, poder-se-ia  calafetar todas as janelas. Não se deve também abusar de suas forças, Deus fará o que não tivermos podido fazer; a confiança nele será nossa salvação.

 

            Você quer que, ao terminar, lhe diga duas palavras sobre nós. Meu irmão Paillé vai bem e desempenha admiravelmente o papel do fiel e dedicado companheiro que a Comunidade lhe deu para comigo; não se saberia melhor cumprir sua missão. Para mim, acho que o ar, que me devolve mais apetite, me pode fortalecer um pouco, mas meu peito está tão doente e irritado como na minha saída; um pequeno frio, há alguns dias, me devolveu os acidentes que haviam desaparecido há um mês, os escarros sanguinolentos voltaram em abundância; hoje parecem desaparecer.

 

            Não podem representar-se, aliás, nossa estada aqui como um passeio e um amável descanso; é um exílio em todo o rigor e a severidade da palavra. Vernet é um buraco, um pobre vilarejo com habitantes esfarrapados, morando em cabanas ou em poleiros mal habitáveis. A região é linda, mas precisaria ter força e saúde para percorrê-la. Para os enfermos, não há nada como passeio a não ser uma estrada sempre a mesma, da qual a gente não se afasta, porque está abrigada e no sol, quando há. O ar é mais puro do que suave; quando o sol está ausente, é preciso ficar em casaChove de vez em quando e não é para pouco. Neva bastante, ontem em particular; é preciso ficar no quarto. Durante o dia, ainda para se ocupar e o tempo passa, mas após o almoço, das 6 às 8 horas, há duas horas mortais de digestão, que são difíceis de passar; caminhamos e nos sentamos alternadamente, meu irmão Paillé e eu numa grande sala iluminada por uma só vela, muito escura, portanto. Estamos ali sozinhos de costume; fazemos peregrinações nos cantos, transformando-os pela imaginação na capela de Vaugirard e em outros locais caros à nossa piedade, e o tempo passa assim todos os dias do mesmo modo. A conversação é pouco animada, porque falar me esgota; você não acha que meu irmão Paillé tem, em tudo isso, um grande mérito? Estou ali, quanto a mim, forçado, em expiação de minhas faltas e sofrendo as provações do Senhor; mas ele está  por dedicação, é generoso e cristão, seguramente. O inverno faz-se sentir aqui pouco tempo, do dia 10 de dezembro mais ou menos até pelo fim de janeiro. Estamos chegando a essa fase, isso me um pouco de medo. Mas o que, acima de tudo, me é penoso é estar em grande parte privado dos socorros espirituais. Até agora, o médico tinha tolerado que eu fosse à missa numa pequena capela perto da casa, mas um pouco graças às insinuações e negociações multiplicadas do irmão Paillé, ele me proíbe absolutamente essa saída matutina. Estou portanto privado da Santa Missa e da adoração do Santíssimo Sacramento, que não é guardado em reserva na pequena capela. O Sr. Pároco teve a bondade, esta manhã, de me trazer a Santa Comunhão e prometeu fazê-lo três vezes por semana.  É uma grande condescendência do divino Mestre, mas a capela de Vaugirard nos estragou...

 

     Adeuscaríssimo filho, penso muitas vezes em você, esta região é pitoresca e lhe daria muitos desenhos a fazer, mas o Senhor o quer em outros trabalhos. Adeus com ternura.

 

            Seu amigo e Pai em N.S.

 

                                               Le Prevost

 

 

            P.S. --- Vai em anexo uma pequena lenda que ouvi contar; ela pode servir nos patronatos, Santas Famílias, Pequenas Leituras.

 

            Eis uma carta para Dona Récamier. Peça informações na casa da Sra. Condessa de la Bourdonnaie, 20,  rua de la Paix, e junto à Sra. de Monsaulmin, 12, rua Saint-Guillaume. Se voltaram, então vou mandar-lhe uma carta para elas.

           

 





221 Salmo 120,1.





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