Perigo da
atividade natural. Critérios de admissão das crianças: o bem moral e espiritual
que será realmente possível realizar. O Sr. Le Prevost confiou ao Sr. Myionnet
a direção dos negócios da Comunidade. Abertura do Sr. Halluin para entrar no
Instituto.
Vernet-les-Bains,
11 de dezembro de 1855
Caríssimo amigo e filho em N.S.,
Você achou alguns instantes, apesar da carga tão pesada de suas ocupações, para
enviar-me no meu retiro, poderia dizer meu exílio, boas e afetuosas palavras
que seu coração tão devotado lhe inspirou, para trazer todo o alívio possível
às provações que apraz ao divino Mestre me mandar.
Juntou a este ato de doce caridade outro testemunho de sua terna atenção: um
vale postal, cuja importância deve contribuir às despesas de minha doença.
Esquece assim suas próprias necessidades, caríssimo amigo, para preocupar-se
somente com as nossas. Entrega-se generosamente ao Senhor, esperando que Ele
fará seus negócios, enquanto você faz com tanto zelo os dele. Possa Ele,
caríssimo amigo, responder como o fez até agora, ao seu filial abandono e
devolver-lhe, por mim, todo o bem que suas ternas inspirações me trazem, como
consolação e socorros eficazes. Pedir-lhe-ei isso com todo o fervor de que sou
capaz e tenho a esperança de que Ele se dignará ouvir meus desejos. Você não
terá, então, nada a desejar para sua querida obra de Amiens e, a todas as
graças que o Senhor já nos fez, Ele acrescentará ainda um pouco de crescimento
para a pequena Comunidade: algumas almas dedicadas para partilhar seus
trabalhos, e estes apoios espirituais que você gostaria de encontrar nos
exercícios regulares da vida em
comum. Estes bens tardarão um pouco talvez, a fim de que você
sinta melhor seu preço e os peça com mais instância, mas não lhe serão
recusados. O bom Pai os concederá à sua perseverança e à sua dedicação.
Escrevi a meu irmão Myionnet que meu parecer era de que devíamos dar-lhe o
irmão Mainville. Não sei se terá conseguido fazê-lo; além de que esse jovem
irmão sente uma necessidade imensa de formar-se na casa central, nossos irmãos
de Vaugirard se acham extremamente embaraçados para o serviço da casa e nem
sei, para falar a verdade, como estão conseguindo cuidar disso neste momento.
Acredite bem, meu bom amigo, que nosso irmão Myionnet fará tudo para o melhor,
ele tem a largueza de coração que convém a um Superior, possui uma igual
afeição para todas as partes da nossa obra e acompanhará atentamente suas
necessidades com um constante interesse. Entreguei-lhe a inteira direção de
nossos negócios e o fiz com uma total segurança, conhecendo há muito tempo sua
abnegação e seu amor esclarecido pelo bem. O Senhor o assistirá e guiará com
ele o pequeno barco de nossa obra. Estou feliz por saber que meu irmão Marcaire
vai bem e mantém-se em todas as suas boas disposições, apesar das dificuldades
de sua tarefa e a falta de ambiente religioso, mas Deus proporciona sempre seus
auxílios às necessidades; que confie nEle, que invoque fielmente a Santa Virgem
à qual dedicou-se totalmente, e sentirá suas forças centuplicar-se e o poder de
Deus juntar-se-á à sua própria fraqueza. Quando você me escrever, que meu irmão
Marcaire acrescente algumas palavras à sua carta; há muito tempo não me diz
nada. Abrace-o por mim, assim como o nosso querido Sr. Allard, que considero
como um dos nossos, embora sua entrada definitiva entre nós esteja um pouco
adiada. Recomendo-me às suas orações e às desses bons irmãos, e às também de
suas crianças que já tiveram a caridade de lembrar-se de mim, coisa pela qual
lhes sou muito grato. O Senhor atenderá certamente seus pedidos, se não para
minha cura, que parece bem incerta, ao menos para minha edificação, para meu
amparo espiritual, nos dias talvez difíceis que me restam a atravessar. Sem
estar num estado desesperado, há alguns dias estou menos em forma. Estamos no
momento mais desfavorável da estação e os doentes sentem mais particularmente
sua influência. Seja o que for o que aprouver ao Soberano Senhor decidir,
espero que, com sua graça, serei resignado e ternamente submisso; quereria
fazer mais, ir ao encontro do sofrimento e dos langores e desejá-los como
fizeram tantos santos, mas minha fraqueza fica por baixo e não chega até lá.
Penso como você que estará agindo sabiamente deixando de admitir tão cedo um
número maior de crianças, tanto em razão das despesas quanto pela boa conduta e
composição de sua obra. Insisto também muito para que você seja bem severo nas
admissões, examinando bem se as crianças que aceita não poderiam passar sem sua
casa e não estariam quase tão bem em outro lugar como em sua casa, pois sua
presença lhe ocasiona sacrifícios e penas consideráveis. É preciso que isso
responda a um bem moral e espiritual notável. De outra maneira, a própria base
da obra estaria defeituosa. Assim, recolher na sua casa crianças às quais o
patronato bastaria e sobre as quais você não teria muito mais ação, tendo-as no
interior, como se ficassem fora, isso seria, a meu ver, um sacrifício sem quase
nenhum resultado. Enfim, convido você a procurar o mais possível tornar a
estadia em sua casa verdadeiramente útil às crianças, esforçando-se para que
encontrem alguma instrução, sobretudo religiosa, os bons conselhos e, por
parte de seus colegas, os bons exemplos que exercerão sobre elas verdadeira e
séria influência. Nosso regulamento indica que nossas obras, em geral, devem
tender a um bem espiritual. Devemos então voltar particularmente nossos
esforços para esse lado e ver se nossos meios são bem calculados para atingir
esse fim. Eis, meu bom amigo, algumas observações gerais sem aplicação direta
àquilo que você está fazendo, pois acredito sinceramente que é neste espírito
que você trabalha. Mas precisamos voltar a isso de vez em quando pelo
pensamento, para ficarmos firmes no nosso caminho.
Agradeço-lhe pela comunicação que me fez da carta do Sr. padre Halluin. Tudo me
deixa esperar que, com a retidão de visões que o anima, o entendimento será bem
fácil entre nós; procuramos, de ambas as partes, somente a glória de Deus e a
salvação de nossos irmãos, dos pequenos, dos pobres, dos que são mais
abandonados. Em tal terreno, o orgulho e o espírito próprio não têm seu lugar e
não saberiam impedir as almas de se unirem. Tenhamos então boa confiança e, na
hora que o Senhor tiver marcado, veremos se consumar esta feliz associação.
Adeus, caríssimo amigo, meu irmão Paillé e eu, vamos algumas vezes, pelo
pensamento, fazer nossa adoração na pequena capela de Amiens; venha, também,
por sua vez, com o irmão Marcaire, visitar os pobres exilados e com eles rezar;
há horas de sofrimento e de abatimento em que eles precisam desta doce
consolação.
Seu devotado amigo e Pai em Jesus e Maria.
Le Prevost
Respeito aos Srs. Mangot e Cacheleux.
12 de dezembro. Encontro-me sofrendo menos
hoje: o tempo estava lindo, pudemos dar um passeio.
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