Relacionamentos
oficiais com o Arcebispado de Paris. Estátua de Nossa Senhora da Salete. Contas
detalhadas de Nazareth
Vernet-les
Bains, 17 de dezembro de 1855
Caro filho em N.S.,
Sou fiel à minha palavra e venho conversar mais um pouco com você.
Antes de passar aos negócios de Nazareth,
peço-lhe para me dizer em sua próxima carta se foi dada alguma seqüência às
perguntas que me fizera o Sr. Vigário Geral Darboy; a nota que eu lhe tinha
mandado sobre nossa Comunidade e suas obras lhe foi entregue? Foi
modificada e reescrita antes de entregá-la? Se foi recopiada, acho que não
seria mal conservar a minuta que contém uma exposição simples dos fatos de
nossa pequena fundação. Enfim, Monsenhor publicou o relatório que devia fazer e
para o qual essa nota nos foi pedida?
A carta do Sr. Darboy me pareceu ser um passo a mais rumo a um reconhecimento
formal de nossa pequena Comunidade. É preciso, de vez em quando, quando
possível, ver o Sr. Dedouc. Deverão, parece-me, fazer-lhe uma visita (duas ou
três pessoas ao menos) no Dia do ano bom, e solicitar nessa ocasião uma pequena
visita da parte dele.
Desejaria que você me desse algum pequeno pormenor sobre o grupo de Nossa
Senhora da Salete dado pelo Sr. Choyer. Quais as suas proporções? Ele tem
mérito como piedade, sentimentos, arte? A chegada tão oportuna dessa piedosa
imagem me parece um encorajamento bem direto da Santíssima Virgem que desejamos
honrar e fazer honrar por todos227.
Hoje, vou como de costume: tusso pouco, com a condição de estar numa atmosfera
igual e temperada, mais ou menos como um peixe numa redoma, mas meu estômago
vai miseravelmente. Aí está o que torna meus dias, e de costume minhas noites,
bastante penosas; penso que o vinho mandado de Vaugirard me fará melhorar um
pouco nesse particular.
Você me explica de maneira muito demasiadamente sumária como estabelece sua
situação financeira para Nazareth; por isso, não entendi absolutamente nada
disso. Você me diz:
Os empréstimos e as construções uma vez
acabadas não ultrapassarão ao máximo
127.000
O rendimento, em recursos assegurados, é de
7.500
Os juros dos empréstimos e dívidas contraídas não
ultrapassarão
6.200
Não me acho de acordo com você sobre nenhum desses pontos; eis o que vejo:
Importâncias de que se deve pagar os juros:
Empréstimos
Aquisição
Empréstimo
a fazer presentemente
para obras
Eis aí, portanto, um capital de 152.000f,
cujos juros
é preciso constantemente pagar, fora dos 6.000f do Sr. Pároco Hamelin que, penso eu,
poderiam ser pagos somente em parte este ano e se tirar dos fundos das esmolas
e sermões. Se não me engano, precisaria acrescentá-los ainda aos 152.000f
acima.
Ora, os juros anuais de 152.000f
seriam de
7.600
Não encontro, como você, para pagá-los, 7.500f, mas
somente:
Acredito encontrar a causa das diferenças de nossos algarismos no fato de que,
talvez, você não contou que seriam pagos os juros das importâncias continuando
devidas aos empreiteiros e pagáveis no espaço de dois anos; as condições de
seus ajustes trazem isso.
Não entendo bem também o que você me diz: Pode-se pedir antecipado, no 1o de janeiro, 1.000f ao patronato para o
1o semestre. O patronato
não terá nada a pagar para a casa da rua Stanislas, enquanto tiver a da rua do
Regard; ora, você não me disse até agora que esta devesse ser entregue ou
alugada para o 1o de janeiro. Há, com efeito, alguma medida tomada nesse
sentido? Ficaria sabendo com prazer.
O empréstimo no Crédito Predial seria um meio de simplificar nossos negócios,
mas o Sr. Guillemin não consentirá, com certeza. Você lhe falou nisso? Acho ter
a certeza de que ele vai opor-se a isso. É preciso, então, limitar-se a
resolver a situação presente; mas, antes de tudo, temos uma visualização
bem nítida dela? É difícil que seja assim enquanto as contas não forem
acertadas; só se pode agir, quase, por aproximação. Procure, caro filho, reunir
para tanto, com o Sr. Leblanc e o Sr. Cabaret, elementos tão exatos como se
pode, para nos fazer uma base a partir da qual você poderá andar.
Você tem razão de desconfiar da moleza do Sr. Cabaret, que, em toda
circunstância, temos encontrado bem pouco firme por nossos interesses. Peça ao
Sr. Lequeux para fazer-lhe recomendações para o saldo de suas contas, e não o
deixem ignorar que suas verificações serão submetidas a exame.
Estabelecida nossa situação presente, tão exatamente como for possível, acho
como você que a melhor decisão a tomar seria de partir para um empréstimo, seja
de 6 ou 8.000f, se se pagasse somente em parte o Sr. Pároco Hamelin, seja de 10
ou 12.000f, se o pagarmos. (Coloco esses números aproximadamente).
Para realizar esse empréstimo, não sei quais meios poderíamos ter; talvez você
tenha alguns em vista, não se deve desprezar nenhum. Pressinto este que,
talvez, teria êxito: poder-se-ia, parece-me, após a volta do Sr. de Lambel,
provocar, na casa do Sr. Guillemin, uma reunião das pessoas que se interessam
pela obra, a saber: todos aqueles que inscrevi acima como já tendo ajudado a
obra, acrescentando os Srs. Marquês de St Seine, (rua Vaugirard, em
frente das irmãs), Leblanc e outros que você acreditaria dispostos a prestar
algum apoio. Nessa assembléia, você faria ressaltar bem nitidamente a boa
situação da obra que tem uma linda capela, casa, terreno de um valor de: 220.000f ao menos:
e que, em
última análise, tem neste momento, todas as dívidas das construções incluídas,
somente um passivo de cerca de 140.000f. Você mostraria que, através da pequena
importância a pedir emprestada, todo o negócio estaria presentemente nítido e
simplificado e deixaria a obra na sua livre ação. Pediria então se todos os
membros reunidos não podem juntos tomar sobre si emprestar cada um alguma parte
dessa importância. Consulte os Srs. Myionnet e Lantiez sobre esse meio; talvez
ele fosse deixar bem patente uma situação na realidade bem carregada e teria,
sob esse aspecto, algum inconveniente; examine, e sobretudo peça as luzes e o
auxílio de cima.
Não perco a esperança de que o Sr. Baudon possa dar-nos um pouco de ajuda; o
Sr. Decaux me aconselha de lhe escrever, vou fazer isso. Mas o Sr. Baudon nos
pedirá para submeter-lhe uma proposta nítida e precisa. Creio que deveríamos
limitar-nos a solicitar alguns dons de sua parte e da parte de sua roda e de
seus dependentes, e a rogar-lhe que favoreça e facilite nosso empréstimo. Se
você se decidir por uma assembléia e que ele quiser vir, faria muito por
sua presença, mas ele o quereria? O Sr. Cochin consentiria também em vir à
assembléia? É coisa duvidosa. Os Srs Desains, Delaire e outros, o Sr. Boutron
não poderia sondá-los?
Acho que respondi a todas as suas perguntas, caro filho; estou longe de ter,
por isso, resolvido as dificuldades de uma situação evidentemente pesada e
bastante embaraçosa. Mas nossa esperança está em Deus, que permitiu que a
tomássemos em nossos ombros e se comprometeu, tenho confiança, em suportá-la
conosco. Volvamo-nos portanto para Ele, peçamos-Lhe, por Maria e José, luz,
assistência, e o socorro divino chegará na hora certa, assim como sempre nos
foi dado pelo passado.
É com a mesma confiança que devemos encarar os outros pagamentos que ficam para
ser efetuados no espaço de dois anos. Teríamos, aliás, como último recurso, sem
dúvida, propor ao Sr. Guillemin que assuma a responsabilidade da propriedade,
fora da quitação, por ele, dos pagamentos a serem feitos e com a condição
de no-la ceder de novo quando pudéssemos retomar mais facilmente posse
dela. Hoje, esta proposta lhe daria medo, porque já adiantou muito
dinheiro, mas mais tarde não teria a mesma resistência. É uma
simples previsão que devemos, em todo o caso, guardar em nós, sem expô-la para
fora neste momento. Esta carta incluindo algumas informações úteis, você fará
bem em guardá-la.
Se errei em alguns pontos, você poderia assinalá-los para mim
e, após retificação feita, teria uma vista do conjunto do negócio.
Adeus, meu caríssimo filho, não é sem um pouco de pesar que vejo-o tão
pesadamente carregado, mas o bom Mestre quis assim. Na idade de jovem, você
teve que suprir seu pai natural para a ajuda à família, e eis que, uma vez
homem, você tem que suprir seu Pai espiritual; seus primeiros trabalhos lhe
valeram sua vocação, os outros lhe obterão o Céu.
Seu amigo e Pai
Le Prevost
P.S. Se você se decidisse a fazer uma assembléia, não seria possível propor a
esses Srs. reduzir a 4 ou ao menos a 41/2 a taxa de juros pelas
importâncias que emprestaram? Já os Srs. Boutron, Taillandier, Bresson tomaram
a iniciativa para 41/2. Nesse caso, se você conseguisse que o Sr.
Boutron, ou um outro fizesse a proposta, seria melhor. Talvez igualmente fosse
preciso então não convocar o Sr. Agnel, que não se poderia talvez incluir nesta
medida.
Você previu, nas prestações a pagar, o Sr. Lecoeur, o Sr. Restou, o serralheiro
que recebeu, acho, somente 500f
(não incluídos 200f
pagos a um primeiro serralheiro chamado Palecique), enfim o pintor?
Que tenciona fazer para a festa de São João? Siga nisso suas inspirações, o Sr.
Myionnet não me falou disso.
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