Obediência ao Sr. Myionnet, que o
substitui como Superior. Os bons religiosos fazem os bons Superiores.
Benefícios espirituais de uma meditação diante do presépio. Apresentação das
contas ao Superior.
Vernet-les-Bains,
26 de dezembro de 1855
Festa de
Santo Estêvão
Caríssimo filho em N.S.,
Eu tinha resolvido empregar hoje a parte da manhã para escrever aos meus bons
irmãos e responder em particular, tão afetuosamente quanto pudesse, à sua boa
cartinha; mas o divino Mestre, que, a seu agrado, dispõe de nós, permitiu que,
desde há alguns dias, eu fosse atormentado mais do que antes pelas minhas
indisposições de estômago. Conseqüentemente, não tenho a mente livre e nada,
para mim, se faz facilmente; será preciso então, caro filho, que você se
contente hoje com algumas linhas juntadas de qualquer maneira. Pois, você sabe,
é assim que são os pobres doentes: quando querem sorrir, fazem uma careta;
acontecerá então, talvez, que, desejando dar-lhe aqui uma lembrança de boa e
terna afeição, eu não tenha feito outra coisa a não ser escurecer e rabiscar em
vão meu papel.
Agradeço-lhe muito, caro amigo, pelos bons sentimentos de respeito e de
submissão afeiçoada que você me exprime para com nosso irmão Myionnet; nada
podia melhor manifestar o excelente espírito de nossa pequena família do que
essa simplicidade cordial com que cada um aceitou o novo representante da
autoridade entre nós. Isso é verdadeiramente entender e praticar a obediência
religiosa e ver, em quem dirige, Deus mesmo que o usa para conduzir-nos. Para
recompensar essa humilde submissão, o Senhor, quase sempre, comunica aos
Superiores algo de sua sabedoria e de seu amor, para que sua autoridade seja
útil e suave aos que lhes obedecem. Pode-se dizer então, nesse sentido, que os
bons religiosos fazem os bons Superiores; continue, caríssimo filho, com todos
os nossos irmãos, a responder aos desígnios da divina misericórdia e o ecce quam bonum et quam jucundum repetir-se-á sempre entre nós com uma santa e
doce alegria.
Persevere também em seus esforços corajosos para a prática da pobreza, vá
muitas vezes ao presépio, durante este tempo consagrado a honrar o Santo Menino
Jesus, e converse familiarmente com Ele. Você que ama as criancinhas e que
ainda é também um pouco criança, não saberá conversar bem ingenuamente com o
pequeno Menino de Belém? Tenha com Ele conversas ingênuas, ternas, confiantes.
Ouça o que sua doce voz dirá no fundo de seu coração e, ao mesmo tempo, terá
feito uma boa oração, como você lastima fazer raramente demais, e terá
recebido algumas boas lições, que lhe farão provar pelo coração a humilhação, a
pequenez e a pobreza.
Aceite nesse espírito a apresentação de conta que você tem de fazer ao nosso
irmão Myionnet sobre suas aquisições. Você está completamente errado, caro filho,
pensando que está sendo tratado assim como um estranho; todo Superior deve agir
assim; todo chefe de família não pode agir de outra forma, mesmo para com seu
filho, pois a ordem e a boa administração o exigem.É, portanto, simplesmente
uma tentação que o demônio, essa horrível serpente, jogou em seu caminho; pule
por cima de pés juntos, como tão bem sabe fazer, e o miserável ficará
derrotado.
Adeus, caro filho, lamento às vezes você não estar comigo para cuidar de mim,
como me prometera, mas se eu voltar, reencontraremos certamente essa
oportunidade. Até lá, o abraço bem ternamente em Jesus e Maria.
Seu amigo e Pai
Le Prevost
Abrace por mim seus queridos aprendizes perseverantes.
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