Sondado
para ser Superior, o Sr. Maignen havia sugerido o Sr. Paillé. O Sr. Le Prevost
responde às suas objeções e o convida a orar e a trocar idéias com seus irmãos.
Que ele modere suas atividades: “refugiar-se em Deus logo que é possível,
sacrificar providências úteis”... “Fazer as duas coisas juntas: orar e agir.”
Hyères, 13
de março de 1856
Caríssimo filho em N.S.,
Queria escrever-lhe um pouco com folga, ainda não achei essa possibilidade
desde minha chegada aqui. Tornei-me tão velho, que mudar de lugares é um bem
grande negócio para mim.Ambientar-me, , reencontrar meu regime, refazer a
classificação de minhas ocupações durante o dia, tudo isso realiza-se
lentamente, com mil dificuldades. Como é suave e cômodo ser jovem! Poupe um
pouco sua juventude, caro filho, não a gaste sem verdadeira necessidade,
é um precioso tesouro, só se sente bem o seu valor, quando não sobra mais nada
no fundo do saco. Não é que eu esteja caduco de dar medo: você não me achará
mudado para pior na minha volta, estou até um pouco mais forte sobre minhas
pernas do que na minha saída; mas até agora meu peito é uma pobre máquina, é
preciso tratá-lo com todas as espécies de cerimônias e de reservas que
exerceriam a paciência de um santo e que muitas vezes quase esgotam a
minha.
Com você bendigo ao Senhor pelo fato de nossos negócios, sem serem prósperos,
serem menos ruins do que podíamos temer. Agradeço muito com você às suas damas
encarregadas da coleta para Nazareth, particularmente à boa e piedosa Dona
Récamier; procurarei em minha mente nomes para sua subscrição a 20f, mas estranho o fato de
você pensar para isso nas damas protetoras de nosso orfanato: não precisa
reservá-las para a nossa loteria? Estou muito inquieto por essa loteria, sobre
a qual o Sr. Myionnet não me diz uma palavra em suas últimas cartas. Seria uma
grande aflição se, com os encargos enormes que sobram para nossa casa de
Vaugirard, esta fosse privada tanto dessa loteria como de seu sermão ordinário.
Faça absolutamente tudo o que puder, caro filho, para que o negócio se conclua.
Indico ao Sr. Myionnet um meio de levá-lo para frente que pode ser bastante
eficaz; use-o, se necessário.
Fico muito impressionado pelas objeções que você me apresenta contra seu
superiorado projetado em Nazareth, e acharia certamente algumas vantagens para
a decisão que me propõe e que salvaria talvez a situação, ao menos para um
tempo. Nosso irmão Paillé viveu muito piedosamente os poucos meses passados
desde sua saída. Fiquei também muito satisfeito com sua dedicação e seu bom
espírito; mas não fica menos verdadeiro que, para bem aproveitar suas
qualidades, precisa passar de pés juntos por cima de defeitos e esquisitices de
espírito notáveis. É um esforço de virtude bem real, você se considera capaz
disso? É, caríssimo filho, o que é preciso examinar bem atentamente diante de
Deus. Troquem idéias ao pé do altar, procurem verdadeiramente o que o Senhor
quer, e você me dirá em seguida seu pensamento definitivo. Escrevi mais ou
menos nesse sentido ao Sr. Myionnet, converse com ele e com nosso caro padre
Hello, e tomaremos em seguida uma decisão numa ou noutra direção; mas é bem
essencial rezar e pedir as luzes do Espírito Santo. É uma coisa séria assentar
bem os começos de nossa obra de Nazareth: devemos ter a firme intenção de
realizá-la da melhor forma possível, para que possa encorajar os que gostariam
de fazer coisas iguais, pela Sociedade de São Vicente de Paulo ou de outra
maneira.
Não posso resolver-me, caríssimo filho, a pedir ao nosso irmão Myionnet mais
severidade com você; sei qual é a multidão de suas ocupações e como deve
dissipá-lo. Sofro por isso, gemo, mas só posso pedir ao Senhor que tenha
piedade de você e lhe dê a coragem de manter-se reservado contra todo movimento
e expansão que não é indispensável. Parece-me, às vezes, que seu corpo e sua
alma estão em um estado habitual de superexcitação que, com o tempo, traria o
esgotamento. Logo que você vê uma possibilidade, caro filho, refugie-se em
Deus, sacrifique até, às vezes, um pouco das providências úteis para
substitui-las por algum ato junto a Deus: você sairá ganhando, pois é Ele que
faz tudo, tendo os corações, os recursos e todas as potências em sua mão. É o
que me consola para mim de minha inutilidade forçada; quando me sinto um pouco
entristecido com ela, digo a mim mesmo: o que você faria agora? Tal movimento,
tal instância junto a este ou àquele. Então, faça suas instâncias e
providências junto a Deus, é mais seguro, é mais curto, é muito mais eficaz. Na
sua posição, caro filho, precisa fazer as duas coisas juntas: orar e agir. Bem
sei a dificuldade de rezar com um espírito cansado, cheio de mil coisas
confusas e do qual não se dispõe mais; sobra a elevação interior do coração,
alguns momentos de volta para Deus, por breves que sejam, um desejo, um olhar,
um suspiro. Deus entende tudo isso, é o linguajar das almas carregadas; o
Senhor não lhes gritou em vão: Venham a mim, vocês todos que estão
cansados231. Se vêm a Ele às pressas,
quebrados, Ele os refaz, enxuga sua fronte, e recoloca em um instante forças
novas em seu interior. Volte portanto o mais freqüentemente possível aos pés
desse bom Mestre para ali encontrar algum descanso e, mesmo em suas fadigas e
corridas ofegantes, respire nele; Ele será seu refrigério e sua paz.
Adeus, caríssimo filho, rezo todos os dias por você na
Santa Missa e na Santa Comunhão; nada é perdido para nós enquanto esses grandes
meios subsistem. Deus está conosco, não seremos confundidos: In te Domine
speravi, non confundar in aeternum.
Adeus, caríssimo filho, abraço-o bem ternamente nos Corações sagrados de Jesus
e de Maria.
Seu velho amigo e Pai
Le Prevost
|