Exortação
à devoção interior. Observações sobre penitências pouco discretas, usadas após
o retiro. Desde sua volta, o Sr. Le Prevost espera levá-lo consigo para Amiens.
Hyères, 24
de abril de 1856
Caríssimo amigo e filho em N.S.,
Você me mandou uma carta linda e longa, e faço-lhe uma bem pequena resposta. É
que, para escrever-lhe uma longa carta, seria preciso escolher os momentos,
esperar muitos dias talvez, ao passo que um pequeno bilhete não muito extenso
se encaixa em algum breve intervalo e encontra facilmente seu lugar. Prefiro
portanto mandar-lhe algumas linhas somente, em vez de correr o risco de não lhe
mandar nenhuma ou de fazê-lo esperar bem mais que eu desejaria.
Estou feliz, caro filho, pelos bons sentimentos que o divino Mestre lhe
inspira, pela cordial aplicação que você deu a seu retiro, pelas resoluções
generosas que tomou e pelos laços de filial apego que o ligam ao serviço todo
particular de sua tão amada Mãe, a Santa Virgem Maria. Gostaria, todavia, que
esses laços fossem mais interiores e espirituais do que exteriores e materiais.
Será que essa corrente de ferro com suas pontas agudas é, de fato, uma
representação verdadeira do terno e amoroso devotamento que nos une à mais
doce, à mais misericordiosa das Mães? Parece-me que nosso Padroeiro São
Francisco de Sales, apesar de muito amigo da mortificação, não teria
aconselhado aquela em honra da Mãe amável, clemente e também muito prudente. Não acredito, com efeito, caríssimo amigo,
que esse meio seja prudente para você. Ele seria excessivo para todos, dia e noite, com trabalhos como os seus; principalmente
para você, com um temperamento nervoso, irascível, como é o seu, essa
penitência me parece excessiva, ou melhor, totalmente intolerável. Deus
permitiu que, momentaneamente, após o retiro, e como testemunho de seus bons
desejos de conversão, você tenha sido capaz de suportar por alguns dias essa
mortificação, mas eu acreditaria faltar de prudência e de verdadeiro cuidado
para com sua santificação como para com sua saúde, se eu o autorizasse a usar
desse meio de forma tão imoderada. Duas ou três horas por semana, em espírito
de obediência e de generoso desejo de ser todo de Deus por Maria, será
suficiente, caro filho; é a isso que você deve limitar-se. Para tranqüilizar
seu espírito, faça uma pequena visita ao nosso santo padre Beaussier, fale com
ele sobre esse assunto, você o encontrará do meu parecer, garanto-lhe isso de
antemão. Gostaria de
conversar um pouco intimamente com você sobre os bons frutos de seu retiro e
sobre as observações que me comunica para tornar esse exercício ainda mais
salutar, mas isso seria longo demais e minha folha seria insuficiente. Na
minha volta, terei recuperado bastante as forças para falar nisso de viva voz
com você, e não deixarei de fazê-lo. Desejo sinceramente, como você, que possa
ter um dia de descanso cada semana para retemperar-se um pouco. Vou ter uma
palavrinha sobre isso com nosso irmão Myionnet que fará, com você, tudo o que
puder para chegar a esse objetivo.
Faço o propósito, no fim de maio, logo depois de minha volta, de ir a Amiens.
Você será, se quiser, meu companheiro de estrada. Parece-me que será para você
um certo apoio o fato de eu estar com você. Se você achar essa época afastada
demais, pode pedir 4 ou 6 dias ao nosso irmão Myionnet e combinar com ele o
momento dessa viagem. Veja, caro filho, qual das duas decisões parece a melhor.
Digo 4 ou 6 dias, porque acho que poderiam ser o suficiente, mas,
se não achar que possa esperar por mim, você resolverá esse ponto, como
todos os outros, com o Sr. Myionnet. Você poderia escrever, tanto num sentido
como noutro, de um modo positivo a seus pais. Não acabaria agora, meu caríssimo
filho, se acreditasse na minha terna afeição que me faz achar breves os
instantes que passo a conversar com você, mas tenho muitas escrituras a fazer.
Limito-me então a essas poucas palavras que termino pedindo ao Senhor para
dar-lhe, por Maria, a abundância de suas graças e de suas bênçãos.
Abraço-o bem afetuosamente.
Seu amigo e Pai
Le Prevost
Escreverei logo à Senhorita Payen. Desculpe-me junto a ela. Ofereça-lhe meu
respeito. Lembrança à mãe Georges. Abrace por mim meu padre Louis [Boursier].
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