Tensão em Grenelle. Aceitar
as humilhações, “fazer e não aparecer”, está no espírito de nossa família
religiosa. O que é gasto na atividade exterior deve ser recuperado pelo
recolhimento e a volta habitual a Deus.
Hyères, 25
de abril de 1856
Caríssimo amigo e bem amado filho em N.S.,
Se quisesse, respondendo à sua carta cheia de bondade e de afeição,
proporcionar minhas efusões com você às doces consolações que ela me deu, iria
escrever-lhe uma bem longa epístola pois, do início até o fim, sua querida
missiva me interessou vivamente e comoveu profundamente. Você derramou nela sua
alma repleta de amor e achou, no seu bom desejo de associar-me aos sucessos de
suas obras, os pormenores mais amáveis e mais tocantes. Agradeço-lhe ternamente
por isso, caríssimo amigo, e bendigo com você ao Senhor, primeiro princípio e
único autor do bem que se realizou sob seus olhos.
Entro em seus sentimentos e em sua segurança sobre nossos negócios de
Grenelle. Acho que o Senhor não nos retirará dessa região, ou que só nos faria
voltar dali para nos fazer realizar um bem maior em outro lugar para a sua
glória. Quanto ao desprezo que se faz de nós, é pão bento tal como o divino
Jesus sempre repartiu a seus verdadeiros discípulos. Fazer e não aparecer está
essencialmente no espírito de nossa pequena família, permaneçamos portanto em
paz: enquanto for assim, andamos, vivemos.
Tomo profundamente parte nos sofrimentos de sua boa mãe e estou bem comovido,
como você, com sua corajosa dedicação. Deus a amparou visivelmente em tantas
provações que a vemos sofrer: deve ser, para ela, uma grande consolação o fato
de sentir tão manifestamente o socorro divino. Assegure-a de que rezo com você
por ela e que me associo ao seu respeito, a seu terno apego para com ela.
Estou bem satisfeito com os detalhes que você me dá sobre sua saúde, sobre suas
disposições interiores que o inclinam à calma, ao recolhimento, à volta
habitual a Deus. Aí está o único meio de compensar os grandes gastos que lhe
ocasiona sua atividade, e é somente com essa condição que não esgotará ao mesmo
tempo os fundos e o rendimento. Siga bem essa inclinação, caríssimo amigo, onde
o Senhor o coloca bem visivelmente e para onde Ele o traz de volta com tanta
bondade quando você tende a afastar-se dela.
Nosso irmão Myionnet me escreveu que seu grande sacrifício estava feito, consummatum. Não se trata mais de voltar para trás, eis
que estamos unidos até o último dia236; parece-me bem que, para mim,
não vou arrepender-me disso. Procure, de seu lado, firmar sua decisão.
Adeus, caríssimo amigo, encarrego-o de abraçar bem particularmente meu padre
Lantiez que, sem dúvida, cuidou quase sozinho de seu rebanho durante o retiro e
que deve estar bem cansado. Diga-lhe que seu bom anjo da guarda fez a conta de
suas penas para oferecê-las a Deus, e que eu lhe agradeço por isso bem
afetuosamente.
Seu amigo e pai em N.S.
Le Prevost
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