O Sr. Le
Prevost o incita a reunir-se ao Instituto: “a união dos corações é a
compensação dos trabalhos e sacrifícios”. Ele desenvolve o que já lhe escreveu
no tocante ao lugar e o papel dos padres (cf. carta 355). Vantagem da união
cordial dos dois elementos. A direção leiga não foi uma idéia preconcebida, mas
o fato das circunstâncias.
Hyères, 29
de abril de 1856
Senhor padre,
Sua boa e caridosa
carta do dia 23 deste mês me encheu de alegria e de consolação pelas
disposições totalmente favoráveis que manifesta para nossa projetada união.
Estou, além disso, convicto de que esse pensamento é de Deus; pedi-lhe com
insistência sua realização, e tenho a confiança de que essa graça não nos será
recusada. Não é bem desejável, com efeito, que os homens de coração e de boa
vontade se concertem e se unam para o bem? Não é seu único recurso para
oporem-se eficazmente ao mal? Você o terá notado como nós, Senhor padre, em
todo lugar onde o zelo aplica-se com ardor e perseverança, conseguem-se
resultados inesperados. Que as almas verdadeiramente dedicadas se aproximem,
então, e se entendam e, apesar da infelicidade do tempo, serão realizadas
verdadeiras obras de salvação.
Agradeço-lhe as boas e encorajadoras palavras que me escreve a respeito
de meus irmãos de Vaugirard. É um pequenino rebanho, mas acredito que anda sob
o olhar de Deus, animado do espírito de sacrifício e de verdadeira caridade.
Estou feliz, Senhor padre, por seu coração ter sentido alguma simpatia
por eles, é de bom agouro para o futuro. Ouso assegurar-lhe de antemão que, no
dia em que você nos aceitar definitivamente – o que espero - como irmãos,
todas essas almas abrir-se-ão e lhe dedicarão uma sincera, uma inviolável
afeição. A união dos corações é entre nós a compensação dos trabalhos e dos
sacrifícios, e podemos dizer que já nos recompensa neste mundo pelo pouco que
fazemos pelo bom Mestre, pois, Ele faz constantemente reinar na família a paz
mais profunda e a mais doce intimidade. Tenho a plena esperança de que nada no
futuro perturbará essa boa harmonia, nem mesmo as poucas dificuldades que lhe
parece apresentar a direção atual da Comunidade. Desde o início, nos deixamos
conduzir pela Providência, e estamos bem decididos a abandonar-lhe ainda o
governo de nosso futuro. Pode-se errar o caminho, quando se anda sob a conduta
da Sabedoria infinita? A direção leiga, assim como já lhe indiquei, Senhor
padre, não foi entre nós algo antecipadamente resolvido, uma coisa decidida a priori. Nossa pequena família começou e foi constituída
por alguns leigos dedicados, que Deus havia atraído a servi-lo unicamente,
continuou a andar como tinha sido estabelecida, após a admissão sucessiva de
alguns eclesiásticos entre nós. Não resultou disso, até agora, nem choque nem
mal-estar, a caridade intervindo em todos os nossos relacionamentos; não
sabemos o que Deus irá dispor para o futuro, mas somos unânimes para
abandonar-nos à sua ação poderosa e medida ao mesmo tempo. Cremos firmemente
que a união cordial e verdadeira dos dois elementos, eclesiástico e leigo, está
segundo sua visão e pode dar grandes vantagens que experimentamos
constantemente; mas achamos mais prudente deixar à sua divina bondade o cuidado
de equilibrar suavemente essas duas forças antes de pôr, talvez inabilmente, a
mão numa operação delicada e difícil.
No estado atual, nossos irmãos eclesiásticos têm a liberdade mais completa e as
facilidades mais amplas para o exercício de seu ministério, que preparam e
assistem os esforços diligentes e cheios de dedicação dos irmãos leigos. A
superioridade inerente a seu caráter, às suas altas funções, à sua instrução
mais elevada e mais extensa lhes dão um lugar digno e justamente influente na
família, embora deixando, no entanto, aos leigos bastante iniciativa e
liberdade de ação, para que sua participação na vida comum e nas obras
permaneça útil e real. Não se pode dissimular, aliás, que, qualquer que seja a
combinação escolhida, a união dos eclesiásticos e dos leigos, embora fraterna e
verdadeira, pedirá sempre aos primeiros um sacrifício de generosa
condescendência; que a dêem de cima ou que a dêem de baixo, é necessária e
essencial; que solução será a melhor? O Senhor vai decidir disso. De qualquer
jeito, estamos bem convictos de que se, para um bem maior, alguma modificação
parecesse mais tarde necessária em nossa constituição, ela se realizaria por si
mesma, sem choque algum e sem abalo penoso, sendo o desejo de todos andar
juntos e acomodar-se o mais seguramente possível para alcançar o fim, que é a
glória de Deus, nossa própria santificação e a de nossos irmãos.
Você entrará, tenho confiança, Senhor padre, nessa linha toda fraterna e toda
cristã, e trará à nossa obra uma força a mais na oração, no zelo e na caridade.
Tenha bastante bondade para assegurar o Sr. de Lauriston237 de nossas
afetuosas simpatias; rezaremos por ele, por você e por seus jovens irmãos
aspirantes. Deus verá o humilde desejo de nossos corações e seu apoio não nos
será recusado, sendo que disse por seus anjos: Paz na terra aos homens de boa
vontade238.
Estarei de volta em Paris pelo dia 15 de maio; seria, portanto, ao mais tardar,
na última quinzena desse mês que o visitaria. Não deixarei, aliás, de avisá-lo
disso de antemão mais precisamente.
Até lá, permaneçamos, senhor padre, em união de orações e de obras: isso será
uma fraternidade iniciada que não esperará senão sua consumação.
Sou, nesses sentimentos, bem afetuosamente
Seu humilde e devotado servo em Jesus e Maria
Le Prevost
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