Após sua
passagem em Marseille, o Sr. Le Prevost encara com confiança a entrada do padre
Timon-David no Instituto. Modalidades que poderiam concluir-se na união. Ele
não lhe esconde nada “do forte e do fraco” da Comunidade.
Vaugirard,
1o de junho de 1856
Caro Senhor padre,
Eu lhe teria escrito desde o dia após minha chegada aqui, se tivesse seguido
meu desejo, pois, levava a sério demonstrar-lhe toda a nossa gratidão pelo bom
e afetuoso acolhimento que nos fez e por todos os sinais de confiança e de
cordial bondade que nos deu. Meu irmão Paillé se une a mim para agradecer-lhe
por isso e, juntos, garantimos-lhe que guardamos uma bem doce impressão.
Não estive menos satisfeito de tudo o que vi de sua obra. Os sacrifícios de
todo o tipo que você faz ali, o zelo sincero com que nela se empenha me
tocaram verdadeiramente, assim como os resultados tão preciosos que seus
esforços constantemente obtêm. Quer dizer, caro Senhor padre, que continuamos
totalmente dispostos a nos associarmos a cuidados tão dedicados e a uma obra
cujo espírito bom e cristão só pode influir eficazmente sobre aquelas de que a
Providência dignou-se nos encarregar. Esperaremos, portanto, com impaciência o
momento em que você puder se livrar das múltiplas ocupações que enchem
seus dias, para passar conosco alguns dias, em vida de família e de comunidade.
Só insisto, todavia, com moderação, sabendo bem que os trabalhos de sua capela
redobram suas preocupações e seus encargos. Você sente, como nós, o quanto
seria útil, antes de decidir-se absolutamente, poder nos ver de perto, examinar
o forte e o fraco da comunidade, e assentar mais seguramente sua decisão. Você
também está convicto de que seria plenamente vantajoso nós nos
encontrarmos, por alguns instantes, reunidos todos juntos aos pés de Deus, para
nos adotarmos de ambas as partes, e selarmos nossa aliança numa fraterna
caridade. Não preciso, então, persuadi-lo disso e estou bem certo de que o que
realmente for possível, você o fará.
Falei do forte e do fraco da comunidade. O forte é a união cordial e a sincera
dedicação de todos; o fraco é a multiplicidade das obras, o número restrito
demais de nossos membros, o peso de seus trabalhos, que não deixa tempo para
formação, e nos obriga a pô-los a trabalhar sem reservar a folga suficiente,
salvo para a piedade, cuja parte é mais ou menos reservada, ao menos para os
estudos e os exercícios que os assentariam solidamente na vida cristã e na vida
religiosa. Fiquei mais fortemente marcado por essa lacuna tão deplorável, ao
voltar para casa após uma longa ausência. Gostaria de corrigir isso, mas quando
se tem a carga sobre as costas, é preciso andar e esperar que o Senhor, vindo
em nosso socorro, mande alguns reforços para dar-nos um pouco de folga. Aí está
o que pressentia e o que me tornava tímido para responder às suas caridosas
propostas; como dar ajuda aos outros quando nós mesmos pedimos a Deus para
aumentar nossas forças? Não é presunção e segurança temerária? Ainda espero que
não, caro Senhor padre, pois o bom Mestre nunca nos faltou em nossas
necessidades. Tenho a confiança de que seu socorro não nos faltará e que
tornará nossa união boa e útil de ambas as partes se, como acredito, Ele mesmo
a preparou.
Combinando entre nós, partilhando nossos meios, poderemos nos ajudar, apesar de
nossa fraqueza. Em caso de necessidades urgentes, teríamos ao menos um recurso
assegurado, enfim, espero porque o Senhor é bom e porque esperar, para um
cristão, é crer simplesmente no poder e no amor de Deus.
Quando vier243 a nós, examinaremos juntos o que é possível, você pesará
conosco nossos encargos e os meios disponíveis para provê-los, compararemos
suas misérias com as nossas e, partilhando como irmãos, daremos ajuda a quem
mais precisar.
Você vê, caro Senhor padre, digo-lhe as coisas, com toda simplicidade e estou
longe de apresentar-lhe a aliança conosco como uma decisão bem desejável.
Vivemos, temos a paz, nossas obras vão tratando só do dia de hoje, mas somos
pouco fortes ainda e bem pouco capazes de amparar os que se apoiarem em nós.
Peço-lhe, caro Senhor padre, para oferecer nossas respeitosas lembranças ao Sr.
padre Guiol, cuja terna simpatia e afetuosa bondade nos tocaram profundamente.
Estou certo de que sua Obra encontrará sempre nele esse interesse bondoso, que
é tão necessário sentir ao redor de si, quando se é carregado de
empreendimentos caritativos. A expansão, então, é como um elemento
necessário para a vida. É com essa condição sobretudo que se pode aplicar a
palavra de Deus: não é bom que o homem esteja só244.
Ficarei feliz, caro Senhor padre, se quiser bondosamente me dar alguma parte nessas
efusões. Se você tiver a bondade de me escrever algumas vezes, me apressarei em
responder-lhe e continuaremos, assim, as relações que tão favoravelmente
começaram entre nós. Mas as mais preciosas, as mais íntimas, as mais vantajosas
estarão seguramente na oração recíproca. Ouso contar com as suas e prometo-lhe,
de minha parte, a continuação das que meus irmãos e eu fazemos assiduamente por
você.
Receba, caro Senhor padre, os sentimentos de respeito e de apego sincero de
Seu humilde e devotado servo em Jesus e Maria
Le Prevost
P.S. --- Acredito ter deixado em sua casa um capuz e uma gravata longa. É um
indício de que deverei ir buscá-los ou que você terá a bondade de trazê-los
para mim.
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