Elementos
do regulamento primitivo do Instituto. Duplo fim do Instituto: viver do Cristo
para dá-lo ao mundo. O espírito de caridade, característica do Instituto. Serem
homens de dedicação e de verdadeira caridade.
22[de julho
de 1856]
Caro Senhor,
Respondo sem demora à sua carta de 18 deste mês, para lhe testemunhar assim o
vivo interesse que tomei na comunicação que é seu assunto. A esperança de contar
um irmão a mais é sempre uma alegria para nós, pois, bem convictos de que o
caminho em que o Senhor nos colocou leva direto a Ele e tende verdadeiramente
para a sua glória, só podemos estar felizes vendo outras almas entrarem nele,
por sua vez, e partilhar conosco os preciosos privilégios de nossa vocação.
Não é, com efeito, caro Senhor, um favor extraordinário, em nossa época, ser
escolhido entre mil para consagrar-se a Deus na vida religiosa, escapar aos
perigos e às preocupações do século, para ter um só amor no coração e um só
emprego também de todos os seus instantes, o de glorificar o divino Senhor e de
atrair todos os corações a conhecê-lo e a amá-lo. Tal é, com efeito, o duplo
fim de nosso Instituto: procuramos nos formar para a vida interior, a fim de
adorar a Deus em espírito e em verdade, e pelas obras de zelo e de misericórdia
trabalhamos para a salvação de nossos irmãos. Nossos dias se dividem entre
essas duas ocupações.
Nossos principais exercícios de piedade são: de manhã, a oração, a Santa Missa
e a primeira parte do Ofício da Santa Virgem; no meio do dia, o exame
particular e a 2a parte do Ofício; à noite, a leitura espiritual, a
adoração, a 3a parte do Ofício e, segundo o dia, algum exercício
particular de Comunidade.
Os irmãos fazem votos, depois dos prazos de provações necessárias. Os primeiros
votos só se podem fazer por um ano somente, depois do encerramento do
noviciado. São em seguida renovados por três anos, enfim, depois de 5 anos ao
menos de profissão, podem tornar-se perpétuos. O noviciado é habitualmente de
um ano, mas pode ser prolongado para aqueles que continuariam incertos de sua
vocação.
Os irmãos, até agora, conservaram o hábito secular como sendo mais favorável
para as obras de fora e, apesar da tentação, tão natural para os servos de
Deus, de tomar as vestes que os assinalam como sendo de sua casa, acrescentaram
esse sacrifício aos outros, para ficarem mais disponíveis e se dirigir a todo
lugar para onde sua ordem os chama. O estado presente, todavia, não
prejulga nada para o futuro; sobre esse ponto como sobre todos os outros, os
irmãos conformar-se-ão à vontade do Senhor.
Eles não têm nenhuma austeridade particular; a imolação interior, uma vida
simples e pobre, os trabalhos de cada dia são suas ordinárias mortificações. A
comida é simples mas sã e proporcional a todas as necessidades. É a mesma coisa
para os trabalhos que se medem pelas aptidões e forças de cada um.
As principais obras da Congregação são dois orfanatos e várias casas
consagradas a servirem de asilo e de proteção para os jovens da classe
operária, para mantê-los no caminho reto. Mas para dar emprego a todas as
faculdades e disposições, a Comunidade tem ainda algumas obras que concernem
particularmente ao cuidado e à edificação dos pobres. Cada irmão pode,
portanto, facilmente encontrar seu lugar.
Não se saberia dizer que haja algo realmente penoso na Regra, a não ser,
talvez, a hora do levantar que é, em toda estação, às 5h. Os irmãos têm 7 horas
de sono; se, por causa de saúde, têm realmente necessidade de mais, abrevia-se
mais facilmente a noite (deitando-se mais cedo), para deixar intatos o levantar
e os exercícios da manhã.
Os irmãos se servem
eles mesmos (concebe-se facilmente isso daqueles que se apresentam como servos
dos pobres), fora dos trabalhos de cozinha, que se conciliam dificilmente
demais com os exercícios espirituais.
As condições de admissão são a piedade, a dedicação absoluta, alguma capacidade
de espírito e de corpo. A falta de recursos temporais não constitui obstáculo à
vocação dos irmãos, mas entende-se que é perfeitamente justo que ajudem a
Comunidade quando têm os meios para isso. A taxa de sua pensão fixa-se então segundo
suas próprias aberturas. Se lhes sobra, além disso, algumas rendas disponíveis
a cada ano, só dispõem delas para as obras ou de outra forma com o
consentimento do Superior.
A maioria dessas disposições são comuns com muitas Congregações. O que nos
esforçamos por nos tornar próprio, o que desejamos estabelecer como fundo do
Instituto é o espírito de caridade. Quereríamos que todos os nossos membros
fossem homens de coração, homens de dedicação, homens de verdadeira caridade.
Por isso, desejamos que entre nós, os irmãos se amem uns aos outros mais ainda
que em outro lugar, que abram largamente seu coração para a condescendência e a
misericórdia para com os pobres, pelo suporte e a benevolência atenciosa para
com todos, pela disposição firme de tudo fazer, de tudo sofrer para espalhar em
todo o lugar a caridade; ignem
veni mittere in terram, vim
trazer o fogo divino sobre a terra. Essa palavra caída do Coração de nosso
Salvador deve ser seu lema e a inspiração de todos os seus sentimentos e de todos
os seus atos. Por isso, teríamos a intenção, se a autorização nos for
concedida, de acrescentar um quarto voto aos votos ordinários da religião, o
de Caridade, para nos
engajarmos mais estritamente à prática dessa virtude e de fazermos dela a vida
verdadeira e o caráter próprio de nossa pequena Congregação. Cremos responder
assim às vistas da divina Misericórdia que parece hoje querer salvar o mundo
pela caridade e esperamos que Ela dignar-se-á, apesar de nossa indignidade,
fazer de nós instrumentos para sustentar as obras de caridade e concorrer assim
aos desígnios de seu amor.
Tais são, no conjunto, o fim e os meios de nossa Comunidade. Desejo muito, caro
Senhor, que essas informações correspondam a seus votos e o confirmem no
pensamento generoso que tem de se consagrar ao serviço do Senhor; a messe é
grande mas os operários são poucos. Rezaremos com você, caro Senhor, para que o
Senhor os multiplique e que Ele o firme em particular nas suas boas resoluções.
Sou, com sentimentos bem devotados em Jesus e Maria
Seu humilde servo e irmão,
Le Prevost
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