É preciso
continuar a corresponder regularmente. Que o Sr. Halluin dê prova de
discernimento nos negócios temporais. Disposições para o próximo retiro.
Projeto de nomear os irmãos Carment e Thuillier em Arras. Como encarar a
admissão de um jovem padre pouco apto a cuidar das crianças.
Vaugirard,
30 de julho de 1856
Caro Senhor padre,
Ia escrever-lhe, no momento em que recebo sua carta. Não tenha medo, como você
dizia na sua precedente, de tornar suas correspondências freqüentes demais. Em
nossos inícios, sobretudo, e até que, em todos os aspectos, não tendo mais do
que um só coração e uma só alma, nos entendamos com meias palavras, teremos
necessidade de comunicar-nos muitas vezes, e espero, segundo o que houve até
agora, isso será, cada vez, com um entendimento sempre mais cordial e íntimo.
Concordo plenamente com seu ponto de vista relativamente à casa vizinha da sua.
Penso que lhe é bem necessária e que é muito desejável adquiri-la, mas
acho, porém, que não se deve sacrificar demais à conveniência e pagá-la muito
acima de seu valor real. Você sabe melhor do que ninguém o que ela vale e quais
as chances que pode ter de obtê-la, seja presentemente, seja mais tarde.
Preciso, portanto, entregar esse negócio plenamente a seu discernimento e sábia
apreciação.
Gosto muito de seu pensamento de retiro em Amiens, seria um pouco menos solene
do que na Trappe, mas seria bem mais íntimo e de uma utilidade bem mais direta.
Você teria, aliás, ali, preciosos recursos para esse retiro, com a presença em
Amiens dos R.P. Jesuítas, dos Franciscanos, etc. Se uma viagem um pouco
comprida não o amedrontasse para seus irmãos e postulantes, seria ainda bem
melhor que fizessem o retiro conosco em Vaugirard, no fim de setembro. Como
penso com você que precisa procurar todas as ocasiões de bem nos
juntarmos, contribuiria de grande coração para essa reunião, partilhando
com você, pela metade, as despesas de viagem dos irmãos e membros que achasse
dever mandar. Você julgará, de resto, se essa combinação se pode conciliar com
as necessidades e organizações de sua casa.
Espero poder mandar-lhe, após a Assunção, dois irmãos; um que poderia
substitui-lo na vigilância geral [Sr. Carment], o outro [Sr. Thuillier] que é
sapateiro, poderia formar um pequeno ateliê de algumas crianças às quais
ensinaria sua profissão. Poderia mandar-lhe mais tarde um terceiro, mas somente
quando os dois primeiros estivessem já acostumados e bem assentados. Ainda,
essa última medida só poderia ser realizada, na medida em que você achasse que
deveria mandar a Vaugirard o irmão Loquet. Tenho motivo para esperar que você
poderá tirar bom proveito dos dois que lhe destino, cada um na sua função.
Pareceria-me desejável que o primeiro, do qual você quereria fazer um tipo de
lugar-tenente para si, não tivesse aula a dar. Esse tipo de função dificilmente
combinaria com seus hábitos, porque aqui nunca o ocupamos nisso, e,
aliás, ele teria uma posição bem melhor para a conduta geral das crianças, se
não tivesse que cuidar diariamente de algumas delas. Assim, seria, aliás, para
você um ajudante pessoal, bem mais disponível e bem mais útil para dar-lhe um
real alívio.
O terceiro irmão, que veria a possibilidade de enviar-lhe mais tarde,
poderia dar aula, assim como faz o irmão Loquet. Pode-se contar perfeitamente
com ele: exteriormente seu modo de trajar é excelente, sabe bem vigiar as
crianças e ter ascendência sobre elas.
Não perco toda esperança, pelo que você me diz, de ver seu jovem padre [Sr.
Daviron] dar-se com você às obras de caridade. O que você reparou a respeito de
sua falta de aplicação aos detalhes concernentes às crianças exigiria ser
examinado. Se é por falta de zelo e de espírito de dedicação, certamente, ele
não teria vocação para o ministério que o Senhor nos confiou. Mas, se fosse
simples falta de aptidão para a obra dos órfãos, em particular, poderia
acontecer que, empregado em outras obras, tivesse melhor êxito e concorresse
para o bem com muita eficácia. Mas o mais importante está nisto: há nele
verdadeira dedicação, espírito de zelo e de sacrifício, amor dos pequenos e dos
fracos, desejo de dedicar-se à sua santificação? Peço-lhe, caro Senhor padre,
para examinar isso diante de Deus, para ajudar esse bom Senhor a
reconhecer sua vocação e para dar-lhe bons conselhos para segui-la, num sentido
ou no outro. Se ele se decidisse a vir a Vangirard com o bom desejo de
escolher, como nós, a melhor parte, poderia, sem pressa, procurar bem a
vontade de Deus e, no momento de nosso retiro, teria condições para
assentar uma boa e sólida decisão.
O jovem irmão Bassery vai muito bem até agora. Está contente e se entrosa bem,
temos boa esperança e ele mesmo acredita que Deus o quer definitivamente a seu
serviço. Seus jovens amigos de Arras vieram vê-lo domingo, mas ele estava no
passeio; voltarão logo.
Não tinha até agora conhecimento nenhum de seu pedido para a senhora que deseja
um lugar de porteira: essa recomendação não havia chegado até nós. Se essa
senhora tem consigo criancinhas, será quase impossível colocá-la como porteira.
Se você tivesse a bondade de mandar-nos uma nota detalhada sobre essa senhora
(idade, talentos, ambiente de família, aptidões, educação etc.), comunicaríamos
esse pedido ao Conselho das Conferências onde, às vezes, se têm algumas
ocasiões.
Ofereça, por favor, minhas ternas afeições ao Sr. de Lauriston, que é para nós
mais que um amigo. Rezamos por ele, receberemos com alegria notícias dele.
Não tenho o tempo nem o espaço, caro Senhor padre, para dizer-lhe que nossos
sentimentos de confiança e de afeição com você vão crescendo, à medida em que
nossos relacionamentos são mais freqüentes. Estamos convencidos de que o Senhor
mesmo faz e consuma, pouco a pouco, nossa união na sua divina caridade.
Deixamos que Ele aja e lhe abandonamos nossos corações para essa obra numa boa
vontade total. Assegure nossos bons irmãos de todo o nosso apego em N.S. e
receba, você mesmo, caro Senhor padre, todo o meu respeito e meu cordial
devotamento.
Le Prevost
|