Exortação
a responder sem tardar ao apelo do Senhor. Próxima inauguração do santuário de la Salette, em Vaugirard.
Vaugirard,
5 de setembro de 1856
Caríssimo confrade e excelente amigo,
Sua boa e desejada carta custou um pouco a chegar, é verdade. Todos os irmãos,
quase falei todos os seus irmãos, me perguntavam constantemente: “Vieram
algumas notícias do Sr. de Lauriston?” E, com a minha resposta negativa, o
mundo, tantas vezes anatematizado pelos filhos de Deus, recebia ainda alguns
apóstrofes que, infelizmente, não o preocupam muito. Quando digo aqui: o mundo,
entende-se que não se tratava, de jeito nenhum, de você, mas desse meio sempre ao
menos arriscado no qual se é jogado nas viagens e onde nossos amigos viam, com
atenção, lançada a nave que carrega seus bons desejos, suas altas esperanças e
estas santas aspirações que a graça do divino Senhor colocou no seu coração.
Graças Lhe sejam dadas assim como a Maria, nossa bem-amada Mãe. Você escapou
aos perigos do caminho, ficou junto de Deus e, usufruindo com simplicidade o
descanso que lhe era concedido, fez a parte de sua alma, procurando em todo
lugar algum pasto para seu uso. Coisa boa, caríssimo confrade e amigo: era
tirar o melhor proveito possível da sua situação. No entanto, não o vejo sem
satisfação voltar para nossas regiões menos admiráveis quanto às belezas
físicas, mas onde reencontrará, mais calma, recolhimento e onde Deus lhe
reserva, espero firmemente, um asilo de paz, um santo e nobre emprego da última
parte de sua vida, um ambiente de puras e cristãs afeições, enfim, todas as
graças e consolações que ele reserva a seus mais íntimos servidores. É o que
pedimos constantemente por você nas nossas orações. Todos os nossos irmãos,
atraídos pelo seu humor suave e benevolente e por essas qualidades que Deus
predispôs em você para a vida de família cristã e religiosa, acostumaram-se a
considerá-lo como um dos seus e esperam sua volta como a de um amigo antigo.
Não engane sua espera, não engane sobretudo as expectativas do divino Coração
de Jesus que o quer bem próximo dele e que o chama a entrar em nossa solidão,
para falar-lhe no fundo do coração.
Tais são, caríssimo confrade e amigo, nossos pensamentos e nossos sentimentos a
seu respeito; correspondem plenamente aos que Deus lhe inspira e que as
distrações da viagem não apagaram. Espero que nos escreva ainda de Nantes, onde
algumas seduções ainda lhe podem ser propostas pelo tentador, que será
repelido, tenho certeza, com derrota. Ele será enfim vencido em Arras e, você,
libertado por todos esses triunfos, virá oferecer ao Senhor sua liberdade
reconquistada, com todas as faculdades de seu ser e todas as potências de seu
coração. É o verdadeiro dom do homem a seu Deus, é o único sacrifício puro e
agradável aos seus olhos.
Agradeço-lhe em nome de toda a pequena família pela sua boa lembrança nos
santuários e romarias da Santa Virgem. É às suas orações, mais do que às nossas
talvez, que devemos uma graça bem importante obtida nestes dias por sua
intercessão e de que lhe direi os pormenores na ocasião. Queira agradecê-la
conosco e pedir-lhe a continuação dos seus preciosos socorros.
A primeira pedra de nosso pequeno santuário de N. Senhora da Salete será
lançada no dia 19 de setembro246; esperamos que a construção, uma vez
iniciada, não ficará incompleta e poderá ser levada a termo.
Adeus, caríssimo Senhor e bom amigo, temos pressa de revê-lo no meio de nós.
Sua ausência causou um vazio que marca o lugar que você já se tinha feito ali:
venha preenchê-lo logo. As horas são preciosas, quando contadas para a
santificação e a salvação; não as desperdice. Santo Agostinho dizia:
“Como é muito tarde, ó meu Deus, que o conheci e amei!” Não se exponha a dizer:
“Como é muito tarde, Senhor, que o servi com um verdadeiro e absoluto
devotamento!”
Acredite, caríssimo Senhor e amigo, em meus sentimentos de respeito e de terno
apego em Jesus e Maria.
Le Prevost
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