Favorecer
o espírito de família, elemento essencial de nossa vida comum. Convite a um
trabalho de ascese perseverante para dominar sua impulsividade. Festa de um
irmão: votos e comunhão são usos a bem estabelecer.
Cannes, 13
de novembro de 1856
Caro filho em N.S.,
O pequeno almanaque da senhorita Payen, que se acha aqui na minha mesa e que
uso como folhinha, me alerta que será depois de amanhã a festa de Santo
Eugênio, e me lembra que, em Vaugirard, tínhamos o costume de abraçá-lo naquele
dia e de muito rezar por você. Meus braços não são suficientemente compridos
para atingi-lo, pois mais de 300 léguas nos separam e as potências de ação do
homem não chegam até lá; mas me resta pelo menos o coração para amá-lo e a
oração para chamar as misericórdias infinitas de nosso Deus sobre você. É a
esse duplo recurso que me apego, para desejar-lhe uma boa festa e comemorá-la
bem.
Tenho certeza absoluta de que, em Vaugirard, nossos irmãos também não o terão
esquecido; em Arras também, sem dúvida, terão tido alguma boa lembrança para
você. Nosso bom Sr. Halluin deseja sinceramente conosco que os usos
estabelecidos na nossa pequena família sejam todos adotados na casa de Arras.
Se o costume de dar algum sinal de afeição aos irmãos no dia de sua festa, e de
rezar por eles, ainda não fosse adotado, peça-lhe, em meu nome, que o introduza,
assim como o a piedosa prática de oferecer-lhes uma comunhão, no mesmo dia, se
for dia de comunhão, ou na mais próxima comunhão. Tudo o que colocar entre nós
o espírito de família e estreitar os laços de nossa santa fraternidade será
segundo o coração de Deus, pois Ele é o Deus da terna dileção e da infinita
caridade.
Possa Ele, esse bom Mestre, conceder-lhe, para sua festa, muitos dons e muitas
graças tirados de seu divino Coração e trazidos para o seu, pela mão abençoada
de nossa tão amada mãe, a Santa Virgem Maria. Não escolho entre essas graças,
Ele sabe melhor do que eu as que lhe são sobretudo necessárias. No entanto,
pedindo a humildade, a mansidão, o desapego de si mesmo, de sua vontade, de seu
espírito próprio, nunca se arrisca nada, pois todos precisam disso, e são
sobretudo as virtudes essenciais aos amigos íntimos do Senhor Jesus. Peço,
portanto, insistentemente à sua bondade que essas virtudes, iniciadas em você,
cresçam dia a dia e cheguem a esta feliz plenitude que se produzirá para
você em forma de paz e serenidade interior, e se espalhará para os outros em
atos de bondade constante e de amável mansidão.
As cartas que recebo até agora de Arras me deixam pensar que tudo vai bem para
nosso querido pequeno Firmin Thuillier e para você. Continue, caro filho, a
agir da melhor forma possível, apoiando-se sobre Deus em tudo e sobre a Santa
Virgem, nossa soberana Senhora após seu divino Filho. Diga-me mais
particularmente, em sua próxima carta, se você está bem firmado agora em suas
funções, se procura bem conservar nelas a paz, mantendo-se sob os olhos de Deus
e considerando os exemplos de nosso divino modelo Jesus Cristo. Volte muitas
vezes para dentro de si, caro filho, para ver se está no espírito dele:
tolerância, paciência, condescendência, não quebrando o caniço rachado, não
fazendo ouvir o barulho de sua voz na praça pública, quer dizer evitando toda
contestação, cedendo nas coisas indiferentes, sustentando com calma e doçura as
coisas essenciais. O bom Deus o dotou de um coração verdadeiramente reto e até
de um juízo são. Mas, quando a perturbação penetra em você, a razão escurece e
o sentimento cego o pode facilmente extraviar. O remédio para essa fraqueza
orgânica é mortificar-se, quer dizer dominar pela vontade superior a parte
inferior e sensível, assim como reprimir, logo que surgem, os primeiros
movimentos da irascibilidade. A oração, a vigilância, o exercício de sua
vontade para torná-la dona de seus movimentos, enfim, o apoio da doce Rainha
dos Anjos e dos Santos torná-lo-ão fora de pena, senão por uma conversão
absoluta, ao menos por emendas notáveis e muito encorajadoras.
Adeus, caríssimo filho; diga a seus bons pais, quando se oferecer a ocasião,
que não os esqueço em meu afastamento e que não deixarei de visitá-los quando
for vê-lo na minha volta. Não escrevo a meu filho Firmin nem aos nossos outros
irmãos hoje. Seja meu intérprete junto a eles e, como os amo ternamente,
encontre em você alguma boa efusão de oração e de caridade que testemunhe que
você me representa nessa ocasião.
Acredite, você mesmo, caro filho, em todo o cordial devotamento de
Seu amigo e Pai em N.S.
Le Prevost
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