Fórmula e
cerimonial da renovação dos votos. Valor dos usos nas comunidades. Poupar as
forças físicas e morais dos irmãos. A coabitação com estrangeiros pode
incomodar a intimidade da vida de família. As casas devem se comunicarem
entre si.
Cannes,
17 de novembro de 1856
Caro Senhor padre e filho em N.S.,
Escrevo-lhe somente umas palavras hoje, desejando que receba a tempo a pequena
fórmula para a renovação dos votos. Junto-a, em anexo. A cerimônia
realiza-se assim em Vaugirard: após a Santa Missa, se faz uma exortação,
evocando a festa e o ato de consagração que os irmãos vão fazer. Depois, todos
os irmãos professos se ajoelham ao pé do altar e, cada um à sua vez,
pronunciam, em voz alta, a fórmula de renovação, segurando na mão uma vela.
Entoa-se em seguida o Magnificat, que é cantado em coro.
É costume que, depois da cerimônia, os irmãos tomem juntos
uma pequena refeição muito simples, mas que, no entanto, reflita um pouco
a festa e a continue por uma expansão de família.
É possível que eu omita alguma particularidade de detalhe, porque o cerimonial
escrito não está sob meus olhos. Se o Sr. Myionnet o enviar para mim a tempo, o
endereçarei a você, por pouco útil que isso seja. Trataria-se unicamente, em
todo o caso, de pontos pouco importantes. Devemos, todavia, nos empenhar nisso,
pois os usos têm um grande valor nas comunidades.
Dou agora uma palavra de resposta bem sumária a alguns assuntos de sua última
carta.
Acho que você poderá, sem inconveniente, permitir ao irmão Michel fazer seus
votos de um ano, se continuar mostrando as mesmas disposições. Creio que seu
coração é bom e sinceramente dedicado. Será bem desejável dar-lhe umas noções
simples, mas precisas, da vida religiosa e das obrigações dos votos.
Sinto-me bem inclinado a dar a mesma resposta para o bom Sr. Cousin, pois tenho
também muita estima por ele. Pensaremos nisso, você e eu, diante de Deus, e
faremos o que Ele dignar-se nos inspirar. Propus-lhe enviar
momentaneamente esse jovem a Vaugirard, unicamente porque o achava mais doente
do que parece estar na realidade. Visto que o irmão Carment me disse, em uma de
suas cartas, que ele havia sido mandado para o campo por causa de sua saúde,
estou bem satisfeito que esteja menos enfermo que eu acreditava.
Espero que os irmãos Carment e Thuillier continuem dando-lhe satisfação. Ambos
podem necessitar de delicadeza no trato. O primeiro, por causa da
suscetibilidade nervosa de sua cabeça; o segundo, por ser novo, faltando ainda
de firmeza e de consistência. Mas eles têm verdadeiramente boa vontade. Sua
afeição os reanimará quando precisarem e saberá tirar bom proveito deles. A
experiência já lhe ensinou tudo o que se tem de suportar dos outros na conduta
das obras; é uma das cruzes, e também um dos méritos dos que têm a autoridade.
O irmão Bassery lhe fica ternamente apegado. A mudança de suas ocupações,
nestes últimos tempos, pôde tê-lo impedido de lhe escrever. Certamente deseja
fazê-lo, farei com que o tempo lhe seja deixado para isso.
Assegure, por favor, nosso bom irmão Loquet de que rezamos por ele e nos
interessamos afetuosamente por sua saúde. É com alegria que ficarei sabendo que
ele se restabeleceu bem dessa indisposição. Será preciso rezarmos ao bom
Mestre, para dar-nos uma fundação em alguma região mais quente, para onde
seriam mandados os irmãos enfermos, para se refazerem.
Evitamos ordinariamente admitir em coabitação estrangeiros em nossa casa. A
intimidade da família sofre com isso: podem influir em sentidos diversos sobre
o espírito dos irmãos. O Sr. Caille pode dizer-lhe que fez a experiência disso.
Todavia, pode haver a toda regra exceções, quando são bem motivadas. Se você
tem boas razões de pensar que a pessoa de quem me fala não pode incomodar muito
em sua casa, pode tentar a experiência; você sempre encontraria algum meio para
mudar as coisas, se tivessem algum notável inconveniente.
Aprovo muito seu pensamento para alguma correspondência regular entre as
diversas seções de nossa pequena família. Faz-se em Vaugirard, a cada dia, o
jornal de tudo o que acontece de um pouco interessante. Poder-se-ia mandar a
cada 15 dias para Amiens e Arras um extrato de tudo o que fosse mais notável. O
aviso de recepção nos mandaria, como retorno, comunicação do que aconteceu em sua
casa. Poderemos examinar a questão mais seriamente quando nosso caro Sr. de
Lauriston estiver em
Vaugirard. Ele poderia ser encarregado dessas pequenas
relações, que hoje dificilmente regularizaríamos de um modo totalmente
satisfatório. Enquanto isso, recomendarei que lhe escrevam bastante vezes de
Vaugirard, e o farei eu mesmo sempre com alegria e solicitude.
Adeus, caro Senhor padre, andemos sempre em nosso caminho, invocando a Deus,
fazendo as coisas da melhor maneira possível e contando sobre sua bondade
paterna para nos santificar e dar algum fruto a nossos trabalhos.
Abraço todos os nossos irmãos de Arras e você mesmo bem afetuosamente.
Seu amigo e Pai em Jesus e Maria
Le Prevost
|