Agradecimentos
e encorajamentos a praticar a caridade. Gratidão à memória de Dona
Taillandier. Colaboração dedicada que o Sr. Decaux presta às obras do
Instituto. A saúde do Sr. Le Prevost se altera um pouco.
Cannes, 19
de novembro de 1856
Meu excelente amigo e irmão em N.S.,
Se tivesse seguido minha inclinação, que me faz encontrar tanta alegria em
entreter-me intimamente com você, ter-lhe-ia escrito desde a minha chegada
aqui. Mas foi preciso nos instalarmos, fazer algumas visitas indispensáveis,
responder a um número bastante grande de cartas, que me tinham chegado. Tudo
isso me distraiu forçosamente e absorveu meus dias. Tomo o primeiro instante
livre e o reservo para você. E a quem o daria melhor senão a você, meu bom
amigo, que se tornou verdadeiramente nosso irmão pela terna simpatia que nos
mostrou, pela dedicação tão generosa que testemunhou à nossa pequena família e
às nossas obras. Ainda tenho bem viva a impressão de suas despedidas tão
repletas de terna cordialidade, e tenho o coração todo consolado pela lembrança
das mil bondades e atenções delicadas, das quais sua afeição me cumulou durante
minha breve estada no meio de vocês. O bom Deus lhe deu um grande dom, ao
colocar em você um coração tão caloroso e tão amoroso, e você o usa segundo sua
vontade, espalhando em toda a parte as suaves e vivas chamas da caridade. É a
missão que o Salvador, Ele mesmo, tinha escolhido: ignem veni mittere in
terram258 [vim para abrasar a terra], é aquela que Ele dá também
aos seus mais caros discípulos. Ande assim sempre, caríssimo amigo, nas pegadas
de nosso bem-amado Mestre; não há mais santo e mais nobre caminho, nem emprego
mais excelente dos curtos instantes que passamos na terra; transiit bene
faciendo259 [passou fazendo o bem]. Passou amando e levando todos
os outros a se amarem, colocou a vida do Céu na terra, no Céu ser-lhe-á dado em
plenitude o que já procurou tanto aqui em baixo.
Essas reflexões, que me vêm bem naturalmente conversando com você, meu bom
amigo, vinham-me também ao pensamento nestes últimos dias, a respeito da
excelente amiga que perdemos. Você, acho eu, teve poucos relacionamentos com
essa alma tão santa, tão bondosa, tão ardente em caridade. Lamento
muito isso, pois se é feliz e encorajado, por ter encontrado em seu
caminho neste mundo um coração de elite, em que o Senhor colocou sua mais viva
semelhança, e cujo simples contato já é um benefício. Fico comovido ao ver que
todo o caro mundo caridoso que o rodeia se tenha emocionado com esta perda e
que as Conferências de Saint-Germain des Prés e de Saint Sulpice, a Santa
Família e muitos outros se reunam harmoniosamente, para rezarem juntos na
intenção da boa Dona Taillandier e ocuparem-se dela, que tanto se ocupou
deles. Nenhuma de nossas obras não teve suas simpatias, nenhuma não teve
de sua parte mil delicadezas e atenções de coração, que se reservam no mundo
àqueles do próprio sangue, mas que as almas santamente inspiradas derramam
generosamente sobre todos. Nosso bom padre Taillandier me mandou, sobre os
últimos instantes de sua bem-amada mãe, detalhes bem tocantes, bem capazes de
edificar os corações cristãos. Não sei se seria indiscreto comunicá-los à Santa
Família, que perde nela uma verdadeira mãe; vou tornar a lê-los e, se me
parecer possível fazê-lo, farei pedir a licença ao nosso bom padre. Você sabe
que ele é o filho espiritual do Sr. Icard. Se alguma vez, para você ou para
outros, precisar de um padre esclarecido, de uma alma delicada, elevada e
generosa, cheio de prudência e de maturidade, apesar de bem novo ainda, pode ir
a ele, você encontrará o que lhe convém.
Nossos irmãos de Nazareth me escrevem que tudo vai bem em seus negócios, que
você acompanha com ardor o empreendimento que o Senhor parece ter-lhe confiado:
completar a fundação desse lar de boas obras. É uma tarefa um pouco rude, para
este ano sobretudo, mas quando tiver sido consumada, será uma doce alegria para
seu coração cristão e caridoso ver todo o bem que as almas dos pobres, dos
operários, das crianças tirarão desse centro de zelo e de misericórdia. Só
posso ajudá-los rezando e fazendo aqui docilmente a vontade de Deus, qualquer
que seja; esforçar-me-ei por não descuidar dessa parte que me é deixada.
Procuro reunir aqui os elementos de uma Conferência de São Vicente de Paulo,
que poderia fazer um grande bem na região. Os sujeitos e a boa vontade não
faltam; há, todavia, alguns obstáculos que o bom Deus nos ajudará, espero, a
superar; se conseguirmos, não deixarei de informá-lo.
Minha saúde, que não estava ruim demais até agora, alterou-se novamente há
alguns dias. O ar extremamente seco e bastante áspero que vem do lado dos Alpes
me causou uma irritação de peito, que renovou alguns acidentes que achava não
ter mais de recear. Que a santa vontade de Deus seja feita; só desejo cumpri-la
em verdadeira submissão e não tenho desejo nenhum de incliná-la, no que me
concerne pessoalmente, nem para um sentido nem para outro. É tão bom
entregar-se ao bom prazer do Senhor, e isso é uma tão grande tranqüilidade!
Desejo mesmo encontrar nisso minha paz.
Adeus, meu excelente amigo, peço-lhe para achar boas e afetuosas palavras para
todos os nossos amigos, para os membros de nossa Comissão, sobretudo, aos quais
devo tanto e pelos quais sinto em mim uma tão viva e tão profunda gratidão.
Ofereça meu respeito ao nosso querido e venerado Presidente Geral, e todas as
minhas lembranças bem devotadas a todos os nossos confrades do Conselho, que
foram tão bondosos por mim; enfim, meu bom amigo, guarde para você mesmo o
melhor do meu coração, porque é no seu fundo mais íntimo que lhe sou ternamente
unido.
Seu todo afeiçoado amigo e irmão em N.S.
Le Prevost
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