Cuidar da saúde de seus irmãos. Um movimento de
pessoal averigua-se delicado. Inconveniente do clima de Cannes. A paciência e a
misericórdia não poderiam implicar uma falta de firmeza, quanto ao princípio da
obediência. Encorajar e amparar seus irmãos.
Cannes, 29
de novembro de 1856
Caro Senhor padre e filho em N.S.,
Tomo uma parte bem viva nas preocupações e dificuldades que lhe causa a doença
de nosso irmão Loquet, e compadeço-me bem sinceramente também com o sofrimento
desse bom irmão. Procurarei de todo o coração com você os meios de
amenizá-lo. O primeiro me parece ser isentá-lo de dar aula, coisa que me
pareceu desde o início dever constituir uma das causas principais de seu mal, e
preservá-lo das intempéries, na medida do possível. Não me recusaria ao meio
que você propõe: enviá-lo para perto de mim. Mas parece-me que se deveria
recorrer a isso somente se os outros meios são definitivamente impotentes.
Assim como você diz, a estação já está bem adiantada para fazer, sozinho e
enfermo, uma viagem de mais de 300 léguas. A consideração das despesas também
deve ser calculada. Não há muita possibilidade de fazer uma viagem, somente
para ida e volta, por menos de 250 ou 300f por pessoa, e, por outro lado, a vida
nestas regiões é muito cara para os estrangeiros. Não é certo, aliás, que o
clima onde estou, seja conveniente para nosso caro irmão Joseph. Tenho, da
minha parte, muita dificuldade para me acostumar, e estou aqui bem mais enfermo
do que estava em
Vaugirard. O mar e a proximidade das montanhas dão ao ar algo
áspero, que me irrita o peito e me causa uma constante inflamação. Durante o
dia, o sol é radiante, a temperatura sobe acima de 20 graus, mas de manhã e de
noite ela baixa para 4 ou 6: essas variações súbitas têm graves inconvenientes.
Numa carta que recebo hoje de nossos irmãos de Nazareth, me dizem que o médico
de quem tomei os pareceres me aconselharia ir para mais longe, para a Itália,
para me proteger do vento dos Alpes. Estou longe de me inclinar para tomar essa
decisão, mas seria possível, porém, que não pudesse definitivamente ficar em
Cannes.
Acho que seria um grande benefício para o irmão Joseph se você pudesse dar-lhe
um quarto voltado para o sul, e velar para que respirasse o menos possível o ar
frio e úmido. Se fosse absolutamente preciso substituí-lo em sua casa, eu não
veria muito um outro meio a tomar que você combinar com o irmão Caille, para
que trocasse temporariamente com você o irmão Guillot, que vai bem e tem o
hábito das crianças, ao contrário do Sr. Cousin, que precisa presentemente ser
poupado. Essa solução só deveria, parece-me, ser tomada em caso de
absoluta necessidade; pois o Sr. Guillot começa a bem se instalar em Amiens e a
prestar ali serviços reais ao Sr. Caille. Seria para este último uma
dificuldade bastante grande ter que colocar ao par dos negócios e trabalhos um
outro irmão. As pessoas de fora que colaboram em suas obras terão também
talvez alguma contrariedade com mudanças tão freqüentes. Se a situação do irmão
Joseph piorasse, poderíamos, caro Senhor padre, refletir sobre o que o caso
pediria.
Acho que o óleo de fígado de bacalhau pode ser salutar para ele. Os médicos
aconselham, todavia, a fazer algumas interrupções depois de um certo tempo,
sendo que o efeito desse medicamento quase se anula quando a pessoa se
acostumou demais a tomá-lo.
Tinha bem presumido de antemão que nosso irmão Carment lhe daria às vezes
algumas contrariedades; espero, todavia, que não serão bastante freqüentes e
bastante graves para atrapalhar o bem em sua casa e serem uma dificuldade real
para você. Se, o que Deus não permita, fosse assim, tenha toda a certeza, caro
Senhor padre, de que não hesitaríamos um instante em chamá-lo de volta para
Vaugirard onde, melhor acostumados com as impetuosidades mal controladas de seu
humor, podemos sofrer menos com isso. Escolhemo-lo para você, entre os outros,
porque tem alguma instrução e educação, que tem no fundo qualidades de coração
verdadeiramente preciosas, um sincero desejo do bem, uma vontade constante de
santificar-se e de tornar-se um verdadeiro religioso, mas a fraqueza de sua
cabeça o extravia muitas vezes. Precisa, devagar, recolocá-lo na razão e
no caminho que temos de seguir. Ele entra então em si mesmo, até nova recaída.
Peço-lhe com insistência, caro Senhor padre, sua caridosa indulgência para com
ele, mas peço-lhe mais insistentemente ainda que não o deixe afastar-se da
inteira deferência e submissão que lhe deve, que nunca ceda quanto aos
princípios e que concilie assim, para com ele, a tolerância misericordiosa com
uma constante firmeza. Nunca em Vaugirard enfraquecemos com ele. Pudemos
perdoar alguma coisa à sua irascibilidade que é, a nossos olhos, uma verdadeira
enfermidade, mas sem prejuízo de uma obediência inteira e absoluta, da qual
nunca se afastou. Insisto um pouco nesse ponto, porque entrevejo na sua carta
que ele teria feito um tipo de resistência às suas disposições, quanto à
renovação dos votos. Ele podia fornecer-lhe informações, submeter-lhe observações,
mas, feito isso, deveria entregar a decisão a seu juízo e conformar-se
plenamente a ela. Esteja certo, caro Senhor padre, de que sua autoridade será
sempre sustentada por nós, a respeito de todos os irmãos, quaisquer que sejam.
O princípio da obediência deve ser estabelecido e sustentado vigorosamente
entre nós; nunca o deixaremos enfraquecer por nossa culpa; isso, pelo
menos, é meu desejo e minha esperança. Para o jovem Thuillier, ele sempre se
mostrou flexível; somente precisa, como todos os jovens dessa idade e
dessa condição, ser amparado e encorajado.
Recomendarei bem ao divino Senhor o êxito de seu retiro, e pedirei também aos
nossos irmãos para não esquecerem suas queridas crianças em suas orações.
Recordar-nos-emos também do Sr. Cousin e do nosso jovem irmão Michel. Ficarei
bem contente se me escreverem algumas palavras, após terem pronunciado
seus votos. Acho bom também que nossos jovens amigos Jules e Ramu façam sua
consagração preliminar. Peço-lhe que me diga, na ocasião, como ela se realiza,
para o compromisso e para o cerimonial.
Fico sabendo com alegria que nosso caro Sr. de Lauriston encontrou, no que lhe
ofereceram, uma nova ocasião de sacrifício. Tudo me deixa pensar que Deus o
chamou e escolheu verdadeiramente, e que saberá responder a esse apelo
misericordioso do Senhor.
Adeus, caro Senhor padre, estou de coração no meio de sua querida casa, que me
é tão cara, tenha plena certeza disso, que suas irmãs mais velhas. Abraço seus
irmãos e você mesmo bem afetuosamente.
Seu amigo e Pai em N.S.
Le Prevost
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