A vida
não é senão uma seqüência de combates. É preciso lutar contra si mesmo sem
desfalecimentos. Para vencer o inimigo de nossa salvação, combater sob o
estandarte do Cristo é penhor de vitória. Criar as ocasiões para
conversar com o Sr. Myionnet. Dá-lhe notícias de seu irmão Ernest.
Cannes, 12
de dezembro de 1856
na oitava da
Imaculada Conceição
Caro filho em N.S.,
Você terá somente algumas linhas hoje, da região de Cannes. Estou há alguns
dias sofrendo um pouco menos, mas fiquei numa espécie de langor físico, que me
tira o pouco de espírito de que podia dispor. Nem sei escrever algumas palavras
facilmente, é preciso tirá-las uma após a outra penosamente, como os baldes de
água de um poço. É por isso que tardei em responder a nossos irmãos, e
envio a alguns deles somente pequenas folhas, leves demais na minha
opinião para edificá-los, como me seria doce fazê-lo. Para você, caro filho, só
tenho a dizer-lhe que precisa conservar suas boas disposições para lutar dia a
dia com o inimigo. Você terá muitas vezes batalhas; quando a guerra é
francamente declarada, não são apenas escaramuças, são lutas encarniçadas que
se repetem muitas vezes. É preciso atacar ou defender-se, subir na brecha e
fazer frente ao inimigo. O mais corajoso tem a vitória e, quando se venceu,
tem-se tempo de repouso e de paz. Essa vida é um pouco rude, mas entretém o
vigor e a energia; faz homens verdadeiramente firmes, que não falham. Não
fique triste, portanto, caro filho, se você tem muitas vezes que lutar corpo a
corpo contra o inimigo de sua salvação.; você se lembra das palavras do padre
Olivaint: Não combatemos sozinhos, Jesus é nosso chefe, e quem combate sob o
seu estandarte é seguro da vitória. Cada uma dessas lutas aumenta seus méritos,
faz crescer suas forças e progredir no caminho da salvação.
Não me inquieto pelas poucas dificuldades que pode encontrar, para abrir-se em
simplicidade com nosso irmão Myionnet. Não provém de uma falta de confiança,
mas unicamente de que, vendo-o ocupado com muitas coisas, você não tem a
disposição que teria, para fazer com ele alguns colóquios íntimos sobre seus
movimentos interiores. Mas, fique bem tranqüilo, desde que você tivesse alguma
pena séria, a afeição e a estima que você tem por ele não deixariam de levá-lo
a uma inteira confiança.
Seu irmãozinho vai bem até agora; continua sendo regular em seus exercícios de
piedade, bem atento nos seus pequenos trabalhos. É, no conjunto, um bom irmão
de São Vicente de Paulo; possa o Senhor mantê-lo no espírito dessa santa
vocação e dar-lhe também os meios para perseverar, tirando-o do
alistamento militar. Reze por isso bem fielmente e solicite também orações ao
seu redor; você, outrora, colaborou assim para atraí-lo ao serviço de Deus, use
o mesmo meio para mantê-lo nele.
Adeus, caro filho; você sabe como sou-lhe ternamente apegado em Jesus e Maria
Le Prevost
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