O Sr. Le
Prevost o assegura de suas orações para sua ordenação sacerdotal. Delicadezas
no trato que o jovem padre poderá encontrar em Vaugirard, tanto para a alma
como para o corpo.
Cannes, 18
de dezembro de 1856
Caro Senhor padre,
Não sei se o regulamento de seu retiro permite que receba cartas durante os
dias tão preciosos que precedem sua ordenação. Farei esta bem breve, para que
seja para você, em todo o caso, uma distração de um instante apenas. Na
aproximação do grande dia que deve consagrá-lo plenamente ao Senhor, não será,
aliás, tirá-lo do piedoso recolhimento em que sente a necessidade de
manter-se, dizer-lhe em uma palavra: rezamos com você, todos os membros de
nossa pequena família, nos diferentes pontos a que o Senhor dignou-se enviá-la,
estão com você no cenáculo, esperando a hora de graça em que o Espírito Santo
há descer sobre seus eleitos. Possa Ele repousar sobre você, caro Senhor
padre, iluminar seu espírito com as puras luzes da fé, abrasar seu coração de
suas chamas divinas e marcá-lo com esse selo inapagável, que deverá permanecer
mesmo na eternidade.
É uma grande alegria para nós pensar que todos esses tesouros de graças virão
aumentar os preciosos recursos que o Senhor já reuniu na nossa pequena família,
para concorrer a obras de misericórdia e de salvação. Esteja, aliás, caro
Senhor padre, bem tranqüilo sobre o uso discreto que faremos dos dons do divino
Mestre: somos sabedores demais do seu valor, para não poupá-los com um cuidado
ciumento. Combinaremos com você nossos meios, de tal modo que a mais inteira
latitude será deixada para seus estudos, ao mesmo tempo que o mais livre espaço
para o descanso de suas faculdades de corpo e de espírito. São João, meu
padroeiro, não queria que o arco fosse sempre tenso; não devo esquecer esse
exemplo entre os outros na sua vida: será agora o tempo, todo particularmente,
de lembrar-se disso.
Obrigado mil vezes por esse bom e fraterno pensamento de dizer a Santa Missa
para a pequena comunidade de Vaugirard no dia da festa de São João. Não estarei
ali visivelmente, mas a melhor parte de meu ser, todo o meu coração e todas as
minhas afeições dirigir-se-ão para lá com ardor. Rezarei ao Senhor, pela
Santíssima Virgem, nossa Mãe e constante protetora, para que nos aproxime todos
de seu divino Coração e nos una, ali dentro, numa terna e generosa caridade.
Parece-me que, depois disso, o laço de família estará formado para nós e que só
restará aguardar a hora desejada de nossa reunião. Tome, para isso, caríssimo
Senhor padre, todo o tempo que lhe parecer necessário; o bom Mestre quer que
todos os deveres se conciliem, é o espírito que deseja ter nossa pequena
família. Está aí propriamente, a seus olhos, a santa liberdade dos filhos de
Deus.
Ouso pedir-lhe alguma lembrança particular, no dia de sua ordenação, em favor
de todos esses amigos dedicados, que se tornarão seus irmãos, e por mim
notadamente, que minha frágil saúde torna neste momento um membro quase inútil
nos trabalhos da família.
Adeus, caríssimo Senhor padre; ofereça meu respeito a seus bons pais, não
deixarei de ir vê-los depois de minha volta. Quero doravante unir-me a todos os
seus sentimentos de apego e de gratidão para com eles.
Sou, com uma terna e respeitosa afeição,
Seu devotado servo e amigo em Jesus e Maria
Le Prevost
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