Relacionamento
com os Confrades de São Vicente de Paulo. O negócio da capela de Nazareth
levanta a questão da propriedade dos imóveis. Exortação à paciência e a
uma grande reserva. Dedicação e condescendência reforçarão a posição do
Instituto frente à Sociedade de São Vicente de Paulo.
Cannes, 16
de janeiro de 1857
Caríssimo filho em N.S.,
Senti bem nas suas últimas cartas que você esperava de mim algumas pequenas
ternuras particulares, algumas palavras de conselho e de afeição; não teria
pedido melhor, pois sou inclinado a isso por desejo e inclinação, mas um pobre
coração de doente não se dilata assim quando quer, alguma coisa o aperta, o
oprime e não lhe permite ir à direita ou à esquerda. É preciso que permaneça
sob seu peso e só movimentar-se, na maioria das vezes, para voltar-se
com submissão para Deus. É assim que estou quase sempre, reerguendo-me,
todavia, por essa confiança de que rezando um pouco por você neste estado,
dou-lhe mais do que carícias ou palavras de afeição, porque o bom Deus digna-se
fazer disso um bem em favor daqueles que amo e que desejaria tanto assistir.
Não perdi de vista seu pedido a respeito de seu irmão, não achei nada à
primeira vista; penso nisso diante de Deus, é uma coisa tão séria. Na minha
volta, se aprouver ao Senhor que volte, procurarei com você; falarei sobre isso
com os Srs. Guillemin e Boutron, que conhecem bem nosso excelente bairro Saint
Sulpice. É preciso, porém, pensar que seu irmão leva tudo o que tem e tudo o
que é sobre sua cabeça, o que torna a coisa mais difícil.
Já disse algumas palavras numa carta anterior a respeito dos relacionamentos
com nossos confrades. Na minha opinião, é preciso ver as coisas de um ponto de
vista um pouco elevado, na condição em que o Senhor dignou-se nos
colocar. Acho que, em geral, sendo de uma natureza terna e sensível, você
impressiona-se demais com misérias quotidianas, que é preciso engolir como a
poeira do ar, sem prestar muita atenção; tudo isso passa, as pequenas feridas,
as pequenas contradições são bem pouca coisa, se não as envenenarmos, parando
nelas à vontade. É preciso sacudir isso diante de Deus ou fundi-lo nesta
ardente caridade, que deve animar nossos corações. Que interpretem mal tal ou
tal de nossas ações, que não nos façam justiça em tal ou tal ocasião, que
importa? Deus nos vê e, se Ele está contente, tudo bem.
Aliás, será que se vê, alguma vez, a longo prazo, no mundo cristão, os que
andam reta e firmemente em seu caminho, não encontrarem afinal justiça, pela
confiança que inspiram, pela estima e a afeição que se lhes dá? Será que um
corpo religioso, sobretudo, cujo espírito é uma força poderosa, não acaba
despontando e não tem seu lugar no bem, se esse espírito é a caridade, o zelo e
a dedicação? Andemos, portanto, caro filho, em simplicidade e confiança,
seremos bastante fortes, apoiados em Deus, para não estarmos embaraçados pelos
espinhos do caminho. É preciso também confessar que você me parece às vezes
descobrir intenções que não aquelas que as pessoas têm realmente. Isso, tenho
muitas vezes experimentado por mim mesmo; creio que você se engana em
particular ao encontrar no incidente do Conselho de Paris um motivo de pena
para nós. Sempre vi no Sr. Baudon sentimentos nobres e elevados, ele acreditou
na sinceridade de nosso desinteresse, espero que não se tenha iludido.
Ele é, com razão, um pouco tímido na disposição dos fundos da Sociedade, que é
pobre e que Deus mantém afetada às obras pequenas e humildes, mas é de uma
generosidade verdadeiramente larga e confiante no uso de seus próprios
recursos. Já lhe disse isso, é uma coisa bela. Mas é também uma caminhada sábia
e bem assegurada ter confiança na retidão e na nobreza de coração dos que nos
cercam.
Se você me perguntar algo mais preciso sobre os pontos que o puseram em dissentimento,
ao menos aparente, com nosso amigo, o Sr. Decaux, direi que, incontestavelmente
a meus olhos, o Patronato, o asilo dos idosos, a Santa Família, o forno
etc. são obras da Sociedade de São Vicente de Paulo. Colaboramos nelas
como confrades, sem dúvida, mas participamos sobretudo como religiosos,
chamados pela Sociedade para servir suas obras. Esta conserva nelas o direito
de alta direção, pode nos retirar a gestão. Não temos que temer que
essa posição seja dependente demais; pode acontecer, de tão fracos que são os
homens, que alguns vejam o bem diferentemente de nós, que nos atrapalhem às
vezes. Na maioria das vezes, ceder por um tempo é o melhor; em todo lugar onde
se trabalha com os seres humanos é de se esperar mal-entendidos e dificuldades,
mas se deixarmos estes, encontraremos aqueles; mais vale portanto a tolerância,
a paciência, que trazem de volta, edificam e guardam o precioso tesouro da
caridade.
Quanto à casa, foi posta sob o nosso nome, na falta da Sociedade de São Vicente,
que se recusou a aceitar a responsabilidade dela. A iniciativa corajosa que
tomamos, os esforços e sacrifícios que fizemos, os primeiros, constituem para
nós, em princípio, um direito legítimo de propriedade. É verdade que a doença
que me pôs de lado e a insuficiência de seus relacionamentos tornaram
necessário o apoio de nossos amigos. Eles o deram até agora com desinteresse,
espero que queiram continuar esse papel de benevolência e de caridoso socorro.
No entanto, se eles se pusessem nitidamente com pretensões diferentes e
pedissem uma participação na propriedade, teríamos que examinar se preferimos
concedê-lo ou renunciar a seu apoio. Mas quem não está vendo o quanto estamos
interessados em não levantar ou deixar levantar tais questões? É por isso que
lamentei bem vivamente que você não tenha evitado sobre esse ponto algumas
contestações em que podia deixar de entrar; em casos difíceis, deixe por minha
conta. Com tempo, se pode refletir, consultar a Deus e tomar um partido sábio e
esclarecido.
Não é, aliás, que eu visse em geral grande vantagem no fato de termos a
propriedade das casas de obras; creio que, mais tarde, será melhor que sejamos
chamados para elas somente como religiosos que estão a serviço, mas,
provisoriamente e até que as obras que nos chamam sejam melhor e mais
firmemente constituídas, que estejamos nós mesmos melhor colocados e mais
consistentes, aprouve à divina Providência dar-nos um pouco de amparo por esse
direito de propriedade. Não vejo nisso nada mais e não dou outra importância à
coisa. As obras, que se realizam em Nazareth, não podem ser feitas por nós
sozinhos, trabalhar nelas em cooperação com nossos confrades que se santificam
ali é a verdadeira e pura caridade.
Eis, caro filho, bem sumariamente, meu parecer sobre as perguntas que você me
fez; resume-se nisto: sejamos bem bondosos, bem dedicados, bem condescendentes,
demos o exemplo de todo zelo e de toda caridade, nossa posição então será bem
boa, bem forte, estaremos apoiados sobre Deus.
Le Prevost
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