União dos
corações. Vantagem da falta de pessoal e de recursos: incita a confiar-se em
Deus.
Cannes, 25
de janeiro de 1857
Caro Senhor padre e filho em N.S.,
Você terá entendido que minha última carta havia-se cruzado com a sua, embora
lhe respondesse de antemão quase em todo ponto. Não há de nos admirarmos disso.
Quando os espíritos e os corações estão bem uníssonos, é bem simples que se
encontrem nos mesmos pensamentos e mesmos sentimentos. Ora, procuramos, de
ambas as partes, unicamente a glória do Senhor, a salvação de suas mais pobres
e mais humildes criaturas, só desejamos atrair algumas almas dedicadas para
seguirem conosco esse caminho de privilégio e de bênção. Nessa esfera toda
simples e toda limitada, é fácil reencontrar-se. Espero cada vez mais com você,
caro Senhor padre, que o Senhor nos ajudará com sua graça e trabalhará conosco
constantemente, numa obra que é tão conforme à sua na terra, sendo que ele
desejava sobretudo evangelizar os pobres. Guardemos portanto nossa confiança no
meio das dificuldades e das provações, e, dia a dia, o socorro divino nos
virá. Sempre aprouve a Deus, desde que nossa pequena família está na carreira
das obras caritativas, que sentisse nela a pobreza, não somente pela penúria
dos recursos, mas também pela insuficiência do pessoal. Ele tem suas intenções,
sem dúvida, deste lado como em todos; a segunda penúria pode ser tão meritória
e tão santificante como a outra. Pois, se a pobreza dos bens despoja de tudo,
previne a sensualidade e o relaxamento, a pobreza em pessoal obriga os irmãos a
esforçarem-se para servir a Deus mais generosamente, esquecendo suas comodidades
e conveniências, imolando-se, em uma palavra: e é o sacrifício de nós mesmos
que Deus quer acima de tudo. Espero que todos seus bons irmãos compreendam.
Tenho a confiança, em particular, de que os que vieram de Vaugirard darão o
exemplo e se prestarão a tudo, para o bem da obra à qual se deram.
Acho boas as disposições provisórias que você tomou para suas classes; eram
elas, acredito, as únicas a tomar na situação e nos ajudarão a aguardar o
momento em que poderemos combinar algumas outras medidas.
Ainda não escrevo hoje a todos os nossos bons irmãos, tendo somente pouca força
e não estando em condições de escrever durante muito tempo cada dia, nesta
fase. Mando somente uma palavra para nosso irmão Loquet, para assegurá-lo de
que não o esqueço na sua provação e que compadeço-a com grande afeto. Junto
também algumas linhas para o Sr. de Lauriston, que já considero como um dos
nossos, mas que a espécie de férias em que se encontra temporariamente deixa um
pouco mais por fora de nosso centro do que o teria desejado. Conto com a graça
de Deus e com seu coração, que é reto e sinceramente dedicado, para fazer-lhe
superar essa prova.
Agradeço-lhe por suas boas disposições acerca do irmão Carment. Em casa, em
Vaugirard, todos os irmãos tendo, de uma vez para sempre, entendido que seus
ímpetos eram uma enfermidade, não se preocupavam muito com isso. Espero que em
sua casa também ele não seja um grande motivo de contrariedade para ninguém e
que, graças a seus conselhos e paternas indulgências, ele se santificará,
fazendo ainda um pouco de bem.
Recomendo-me particularmente a suas orações e às de todos os nossos caros
irmãos de Arras. Minha saúde ressente tantas indisposições sucessivas que não
sei muito bem como vai ficar. Desejo unicamente, em todo o caso, ser bem
submetido à vontade divina e merecer suas misericórdias. Não ouso pensar que
poderia se acrescentar ainda um pouco de mérito para a vantagem de nossa
querida família: tenho tanto a pagar para mim mesmo, que é muito de se temer
que não sobre nada reversível em benefício das próprias pessoas que me são mais
queridas.
Adeus, caríssimo Senhor padre e filho em N.S.; acredite em todos os meus
sentimentos de respeito e de terna afeição.
Seu amigo e Pai
Le Prevost
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