O Sr.
Paillé vem vindo para Cannes, para assegurar-se da saúde do Sr. Le Prevost.
Amor do Sr. Le Prevost por sua família religiosa.
Cannes, 26
de janeiro de 1857
Caro filho em N.S.,
Aproveito o envio que faço ao irmão Beauvais de uma resposta que esperava
de mim a respeito de seu irmão Paul, para dizer-lhe duas palavras de afeição e
dar-lhe notícias minhas. A saída de nosso irmão Paillé me indica que vocês
estão inquietos pelos mal-estares repetidos de minha saúde. Pareceram-me, com
efeito, um indício de que meu mal havia piorado de modo bastante notável sob a
influência do clima e da má estação, mas fora alguns acidentes que, há dois
dias, não reapareceram, calafrios nervosos bastante penosos, ainda não vejo
sinais de fim imediato. Meu peito está mais sufocado e mais doído, estou mais
fraco, minhas digestões fazem-se penosamente, o apetite é quase nulo, mas, no
entanto, ainda vou indo. Saio um pouco todos os dias, salvo quando o tempo está
totalmente ruim. Acho que meu irmão Paillé, na sua chegada, vai se irritar
comigo, não achando-me tão mal como ele acreditava; vou acalmá-lo da melhor
forma possível. Ainda não pensava em pedir decididamente a vinda de alguém de
vocês, mas talvez o Senhor, cujo olho penetra o futuro, julgou que chegara o
momento. Se, de outro lado, eu for durar ainda um pouco, a viagem do irmão
Paillé contribuirá para isso: ele poderá conversar franca e claramente com o
médico que me pareceu preocupado pela gravidade de meu estado e que pareceu
dizer-me somente a metade de seu pensamento. Nosso caro irmão também firmará
meu espírito que o isolamento, a falta de atividade abateram e cansaram um
pouco. Eis aí o que digo para mim mesmo, para me consolar do sacrifício que faz
nossa querida família e sua pequena comunidade em particular. É aliás uma prova
de dedicação a mais nos atos interiores da família, e isso faz tradição. Enfim,
uma ação generosa e caridosa nunca resulta em detrimento, no serviço de Deus.
Esse testemunho de afeição não pode acrescentar nada ao meu apego pela nossa
querida Comunidade: vivo somente por ela e para ela; quando estou sofrendo,
consolo-me, consagrando-lhe meus sofrimentos e, se morrer, oferecerei ainda por
ela esse último sacrifício.
Presumo muito que sua filial afeição por mim o teria levado a desejar vir para
junto de mim no lugar do irmão Paillé; você acha certamente, de seu lado, que
me teria sido muito suave receber seus cuidados, mas ele está mais ao par de
minhas misérias de saúde, tem mais o costume das viagens, e enfim, se minha
saúde se alterar inteiramente, terá também mais sangue-frio numa situação
penosa.
Se não estivesse acostumado a alternativas de melhor e de pior, eu me acharia
hoje em melhor disposição; choveu, é sempre uma causa de alívio para mim,
sinto-me tranqüilo e sem mal-estar bem sensível. Minhas noites são todavia
bastante agitadas; esperemos em total abandono a vontade de Deus.
Adeus, caríssimo filho; receberei com satisfação notícias de sua querida casa;
não posso escrever hoje a meu padre Hello, diga-lhe que não perde nada por
isso, quanto à intenção, nem meu irmão Jean[-Marie Tourniquet] que não esqueço
diante de Deus.
Le Prevost
|