O Sr. Le Prevost o encarrega de encorajar um
jovem irmão. Precauções a tomar para poupar a autoridade do Superior local.
Cannes, 6
de fevereiro de 1857
Caríssimo Senhor e filho em N.S.,
Você me assegurou que era de coração membro de nossa pequena família e me
autorizou a contar com você, como conto com meus outros irmãos. Eu o peguei na
palavra e estou muito disposto a considerá-lo como um religioso em missão, que
voltará para o lar da Comunidade logo que sua tarefa exterior estiver cumprida.
É a esse título, caríssimo Senhor, que peço sua intervenção prudente e caridosa
para um pequeno assunto concernente a um de nossos jovens irmãos da casa de
nosso bom padre Halluin.
O jovem irmão Jules encarregado, acho, da rouparia, sentindo-se um pouco
sobrecarregado sob o peso de seus trabalhos incessantes e privado quase sempre
dos exercícios piedosos que poderiam sustentá-lo, achou dever escrever-me, sem
dizê-lo a seu padre Halluin, uma pequena carta, aliás, cheia de respeito e de
amor para com ele, mas pela qual lamenta um pouco por causa de uma tarefa
pesada demais para seus jovens ombros, e pergunta se a casa de Vaugirard não
seria mais fácil e mais tranqüila para ele. Essa carta é bem medida, bem
submetida, não é de jeito nenhum um ato de ingratidão para com nosso bom padre
pelo qual, ao contrário, o irmão Jules testemunha toda a afeição e toda a
gratidão possíveis. É somente uma expansão e uma confidência de uma pena que
ele não ousou declarar ao próprio Sr. Halluin, sabendo as dificuldades que já
lhe cria a doença do irmão Loquet.
Você entende, caríssimo Senhor, que ali está uma situação delicada; não devo
impedir os irmãos de abrirem-se a mim nas suas penas e dificuldades, é um
caminho que sempre deve ficar aberto para eles e, qualquer que seja a confiança
que se tenha no seu Superior ordinário, pode acontecer em certos casos que
sinta-se a necessidade de consultar o centro da Comunidade. Mas, por outro
lado, sei a ternura do Sr. Halluin para com seus filhos, acredito que teria no
fundo do coração alguma tristeza, ao ver que eles são tímidos com ele e não
ousam falar-lhe de seus pequenos embaraços. Acho, portanto, que, nesta
circunstância, para não entristecê-lo, e também para não faltar à confiança que
o jovem irmão achou por bem dever me testemunhar, vale mais que eu guarde para
mim sua pequena confidência. Desejaria, caro Senhor, que você fosse meu
intermediário caridoso para consolar e encorajar o jovem Jules e
transmitir-lhe, da minha parte, algumas boas palavras de simpatia e de terna
afeição. Não lhe será difícil, parece-me, encontrar alguma ocasião de vê-lo em particular. Você
teria a bondade, então, de dizer-lhe que o incito muito a criar coragem, que,
passado o inverno, seus encargos se tornarão menos pesados, que terá mais tempo
para seus exercícios piedosos, que pelo fim de abril voltarei para Vaugirard e
irei logo ver meus filhos de Amiens e de Arras, que naquele momento, se houver
alguma medida a tomar a respeito dele, poderemos cuidar disso seriamente. O
melhor seria, a meu ver, que ele tivesse a confiança, nos seus momentos de
acompanhamento espiritual com seu padre Halluin, de dizer-lhe suas penas e
dificuldades do momento. Mas, se não ousar fazê-lo, poderia talvez
servir-se de seu intermédio. Você teria, nesse caso, a bondade de dizer a nosso
bom padre que, vendo o irmão Jules um pouco abatido ou menos alegre do que de
costume, o fez falar e descobriu que ele tem, com efeito, algumas pequenas
penas e teria talvez necessidade de um pouco de alívio.
Essas poucas palavras, caro Senhor e excelente amigo, lhe bastarão para
fazer-lhe apreciar corretamente a situação; é preciso consolar esse caro
menino, mostrar-lhe que sua confiança me tocou e que sou sensível a ela, e,
todavia, abster-se com o maior cuidado de deixar o Sr. Halluin acreditar que
seus irmãos são receosos com ele, que merece tão plenamente sua terna e
confiante afeição.
Essa ocasião, caríssimo Senhor, o obrigará a me escrever, a me dar notícias
suas, a me dizer se você foi bem fiel às minhas recomendações, se se manteve
bem livre e bem disponível para chegar até nós, em Vaugirard, com os primeiros
dias ensolarados da primavera; se, enfim, você está, tanto quanto pode, exato
em ver nosso caro Sr. Halluin e nossos irmãos, um pouco carregados durante esta
longa estação de inverno. Congratulo-me, portanto, por ter tido, eu mesmo, uma
razão particular para fazer-lhe esta carta. Não teria, para dizer a verdade,
necessidade nem de pretexto nem de ocasião, a confiança e a afeição já estão
bastante bem estabelecidas entre nós para que lhe escreva sem nenhuma razão
particular, mas unicamente para conversar com você e manter o entendimento de
coração que o divino Senhor pôs entre nós. Receberei com alegria sua resposta,
caríssimo Senhor e amigo, e tenho certeza de antemão de que ela me trará boas
seguranças, motivos de confiança e de consolação.
Nosso jovem irmão Allard não perseverou; sua indecisão natural prevaleceu sobre
algumas disposições de graça que tinham feito esperar mais a seu respeito. A
Providência parece prover a isso, mandando-nos um aspirante acostumado às obras
na Sociedade de São Vicente de Paulo, e que parece animado de um zelo
verdadeiro.
Minha saúde está bastante bem restabelecida de um tipo de crise que havia dado
sinais de fazer pender a balança para o declínio definitivo; tudo parece indicar
que devo trabalhar ainda um pouco com você nas obras do Senhor.
Adeus, caríssimo amigo e filho em N.S.; tenho pressa em revê-lo e em rezar com
você. Até lá, rezo de longe ou, antes, de bem pertinho com você no Coração
Sagrado do divino Jesus.
Seu amigo e Pai
Le Prevost
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