A entrada do Sr. Faÿ no Instituto é adiada por
causa de sua saúde. “Evangelizar os pobres pareceu-lhe a melhor parte”. A
descristianização da sociedade: o povo, e especialmente os operários, são suas
vítimas. Fazer prevalecer a verdade e fazer saborear às almas as belezas da fé.
Servir os pobres exige humildade e caridade.
Cannes, 10
de fevereiro de 1857
Caríssimo Senhor padre,
Fiquei sabendo, no meu exílio de Cannes, da provação de saúde que aprouve ao
divino Senhor mandar-lhe imediatamente após sua ordenação, como para marcar com
uma cruz o começo de sua carreira, em sinal de conformidade e de bênção. Sofri
humanamente com esse sofrimento infligido a um amigo já bem querido para mim, e
que um laço mais íntimo deve logo aproximar ainda do centro de minhas mais
vivas afeições. Mas, em espírito de fé, vi nisso como que uma nova consagração
que o Salvador crucificado acrescentava com sua mão à unção santa que o
Pontífice derramou sobre você na sua ordenação. Você mesmo o dizia, na boa e
piedosa carta que me escreveu há algum tempo, essas vistas estão acima dos
pensamentos humanos, mas são claras verdades para os olhos iluminados pela fé.
É no mesmo espírito que servir e evangelizar os pobres pareceu-lhe a melhor
parte e que, entre as diversas carreiras abertas a seu ministério, você tomou a
mais humilde, a mais pobre, porque era a mais parecida com aquela que escolheu
o próprio divino Salvador. Possamos sempre ver e apreciar as coisas com os
olhos, com o coração de nosso adorado Mestre e Senhor. Entenderemos então, cada
vez mais, o quanto é justo e misericordioso ao mesmo tempo dirigir-se
preferencialmente aos mais pequenos e aos mais fracos, àqueles cuja fé é o
único apoio e o único tesouro, e aos quais, porém, tantos inimigos querem
roubar essa única alegria, essa última consolação. Você está vendo como eu, caro
Senhor padre, o pobre povo, os infelizes operários estão assediados pelas
tramóias socialistas, pelos furores dos ímpios, pelas seduções dos
protestantes, e, por outro lado, a ignorância, as paixões, a miséria várias
vezes se juntam a isso para pervertê-los. Quem, então, os defenderá, quem terá
compaixão de seus perigos e de seu abandono, senão os imitadores do divino
Jesus que corria atrás da ovelha perdida e que chorava sobre a ruína próxima de
Jerusalém. Vendo, infelizmente! as desgraças de nosso tempo, o enfraquecimento
da fé, as terríveis ameaças de perversidade, poderia-se temer também que alguma
grande ruína fosse iminente para nossas modernas sociedades, mas ainda podemos
esperar que as orações das almas santas, que os generosos sacrifícios do zelo e
da caridade salvarão o mundo dessas grandes calamidades. Aí está o nosso
caminho traçado, caríssimo Senhor padre, trabalhar na humildade, na caridade e
na dedicação, para impedir o mal, fazer prevalecer a verdade, lutar
corajosamente contra as doutrinas más, fazer as pobres almas que se quer
extraviar saborearem as suavidades e as belezas de nossa fé, arrancá-las do
demônio e conduzi-las ao Deus de todo amor e de toda felicidade: não é uma
nobre e santa tarefa? Não é digna de nossas ambições e de nossa
dedicação?
Bendigo ao divino Senhor que falou ao seu coração e aconselhou-lhe intimamente
a entrar nesse caminho junto conosco. Nossa afeição, nossa cordial união serão
nele nosso apoio recíproco, e o bom Mestre alegrar-se-á com o terno acordo e os
generosos esforços de seus filhos.
Fiquei sabendo, por meio de meus irmãos de Vaugirard e de Nazareth, que você
estava cada vez melhor e que suas forças estariam logo plenamente
restabelecidas. Exorto-o, no entanto, a ter muitas atenções, enquanto durar a
má estação; os órgãos continuam muito tempo impressionáveis depois das
indisposições do tipo da sua e exigem precauções que não poderiam ser deixadas
de lado sem perigo. Falo assim para você, que tem de poupar suas forças no
interesse do bem, pelos seus queridos pais, cujas ternas atenções conheço, mas
também por nós, que já estamos vendo em você um irmão e que temos um vivo
interesse em tudo o que lhe diz respeito e o interessa.
Acredite, caro Senhor padre, todo particularmente, nos sentimentos de cordial e
respeitosa afeição de
Seu devotado servo e amigo em Jesus e Maria
Le Prevost
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