Missão de ir novamente reconfortar o mesmo
irmão. Exortação a romper as últimas amarras. Jogar-se de uma vez para sempre
“nos braços de Deus”. O Sr. Le Prevost deixou Cannes para Grasse.
Grasse, 1o
de março de 1857
Caríssimo Senhor e filho em N.S.,
Agradeço-lhe suas boas e caridosas intervenções junto ao irmão Jules;
sentiu-lhes os bons efeitos desde o início; mas não parece que o demônio
que o tenta tenha, no entanto, totalmente desistido de seu intento. O irmão
Jules acaba de escrever-me de novo que sente uma grande saudade e um tal
desgosto de suas ocupações, que está decidido a procurar uma posição ou
trabalho no mundo, se não se julgar possível chamá-lo para Vaugirard.
Não posso, à distância, e pelos poucos detalhes que me dá esse pobre menino,
julgar bem acerca de suas disposições. É uma tentação, é um sinal da
insuficiência de sua dedicação e, consequentemente, de sua vocação? Não posso
bem me dar conta disso. Parecer-me-ia, portanto, totalmente útil que o pequeno
irmão Jules se abrisse em toda simplicidade ao nosso bom padre Halluin, que
examinará seu estado e fará tudo o que for melhor.
Seja bastante bondoso, caro Senhor, para ver de novo nosso jovem amigo e para
decidi-lo a tomar o quanto antes essa decisão. Ele não está longe dela, pois
pareceu-me, em sua carta, sentir, ele mesmo, sua necessidade, mas, se ele
precisar, para tanto, de um pouco de impulso e de encorajamento, sua caridade
saberá inspirar-lhe firmeza e resolução definitiva. Não peço desculpa por dar-lhe
tanto trabalho. Toda obra de caridade lhe convém e, aliás, nessa família cristã
que seu coração já adotou, todos os membros, mesmo os menores, têm direito a
suas simpatias e condescendências. Você também está demais a par do preço de
uma vocação para não estar convencido, como nós, de que se deve tudo fazer para
sustentá-la, protegê-la e conduzi-la aos objetivos que o Senhor dignou-se
determinar-lhe. No caso, pode ser que esse pobre jovem Jules, sem ter trabalho
exagerado talvez, tenha uma responsabilidade grande demais e preocupações
excessivas para sua idade e sua firmeza de espírito. Acontece-nos muitas vezes,
nas nossas obras, ceder às necessidades do momento e atender aos serviços, sem
pensar bastante nas forças e capacidades das pessoas que colocamos nelas. Nosso
bom padre Halluin, sobretudo, neste inverno, deve ter-se encontrado mais de uma
vez nessa necessidade; creio, portanto, que é o caso de prestar toda a atenção
ao sofrimento do jovem irmão e de dar-lhe os auxílios que seu estado pode
reclamar.
Sua querida carta foi para mim, por outro lado, bem agradável, porque encontrei
novamente nela, com lutas e tribulações quase inevitáveis para você, suas boas
disposições e uma resolução cada vez mais firme de obedecer à ordem de Deus. Digo
de propósito “a ordem”, porque parece claro que, no seu caso, não se
trata de simples convite e apelo, mas intimação precisa e disposições decisivas
da parte do Soberano Mestre. Procure, caríssimo Senhor, ceder de bom grado e
acrescentar ao mérito de seu sacrifício pelo pleno consentimento de seu
coração. Mas, sobretudo, caríssimo Senhor, exclua toda desconfiança. Parece-me
que este é o lado pelo qual está mais visivelmente tentado; você não
conta bastante com Deus, olha demais sua miséria, não o bastante as
misericórdias admiráveis de Deus, suas condescendências infinitas, suas
ternuras sem medida; daí suas penas, suas inquietações e suas dúvidas. Oh!
jogue-se de uma vez para sempre nos seus braços, como o nadador que se joga no
meio da água e que se sente suavemente sustentado pelas ondas. Assim a graça do
divino Senhor o sustentará e o preservará de todo perigo. Não é para você que
Santa Teresa escreveu estas palavras: “Se tivesse a oportunidade de dar um
conselho a alguém, eu não seria de opinião de que, quando Deus nos impulsiona a
fazer alguma boa obra e que o faz repetidas vezes, deixássemos de empreendê-la
por medo de não conseguirmos fazê-la; pois, se for empreendida por seu amor,
Ele é todo-poderoso para ajudar-nos a executá-la. Que Ele seja bendito para
sempre. Assim seja!” Portanto, caro Senhor, desconfie de si mesmo, mas acredite
na palavra dos santos, confie-se ao Deus bom, terno e misericordioso.
Peço-lhe
bem insistentemente para precisar suas possibilidades para sua vinda a
Vaugirard. Devemos ter nosso retiro logo depois da Páscoa. Acho que o bom Deus
o quer naquele momento no meio de nós, totalmente livre, sem que nada fique
para trás, para preocupá-lo e chamá-lo ainda para fora. Peço-lhe, então,
em nome do Senhor, caro Senhor, corte com um pouco de coragem alguns mínimos
obstáculos de detalhe, que não devem ser levados em conta numa situação tão
grave, e responda dignamente à graça insigne que você recebeu. Eu mesmo estarei
de volta nessa ocasião. Ficaria bem feliz se estivéssemos reunidos para esse
retiro, que seria como que a preparação de sua nova carreira. Faça com que,
caríssimo Senhor, conjuro-o, todos os seus negócios sejam bem completamente
resolvidos para esse momento.
Minha saúde, de que você tem a bondade de me pedir notícias, continua razoável;
não foi tão comprometida como o tinha pensado um momento. O clima de Cannes,
tendo-se mostrado pouco favorável para minha constituição, sofri, durante todo
o inverno, mil mal-estares sucessivos, que tinham-me levado a acreditar num
agravamento em meu estado, mas essas indisposições eram nervosas, sobretudo, e
não atingiam minha constituição, que continua frágil, mas sem aumento do mal.
Nunca cessei de sair todos os dias, não tenho tosse, nem cansaços maiores do
peito; em uma palavra, não estou muito firme, mas ainda posso trabalhar um
pouco nas obras que o Senhor dignou-se nos confiar. Estou há alguns dias em
Grasse, cujo ar me convém melhor que o de Cannes, sem dúvida por causa da
distância do mar que não mais está, como em Cannes, sob minhas janelas. Teria,
sem dúvida, evitado muitos mal-estares, vindo logo de início para cá, mas o
Senhor, cujas vistas são todas sábias, havia determinado as coisas de outra
forma. Voltarei a Cannes no começo de abril para preparar minha volta a
Vaugirard.
Adeus, caríssimo Senhor e filho em N.S.
Eis a
Quaresma, eis também o mês de São José, dupla causa de esperança, duplo motivo
para redobrar nossas orações e para esperar delas preciosos resultados.
Todo seu bem afetuosamente em Jesus e Maria
Le Prevost
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