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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 401 - 500 (1856 - 1857)
    • 461 - ao Sr. Myionnet
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461 - ao Sr. Myionnet279

A Provença é esplêndida, mas “a fumaça da pátria é mais linda do que o fogo da terra de exílio”. O Reino de Deus está dentro de nós. A vida religiosa é um tesouro que é preciso proteger, estando fiéis e aplicados aos exercícios de oração, esses apoios da graça. O Sr. Le Prevost alegra-se por reencontrar seus irmãos e a vida de comunidade. Ser feliz no serviço do Senhor.

 

Grasse, 19 de março [1857] festa de São José

 

            Caríssimos filhos em N.S.,

 

            Hoje, é a festa de nosso bem-amado Pai São José. Para regozijar-me como convém numa tão amável solenidade, antecipo pelo pensamento o momento, agora bastante próximo, em que retomarei a estrada para Vaugirard, e transporto-me ao meio de vocês, para passar, em doce intimidade de família, alguns instantes, pelo menos, deste lindo dia. Tenho, deveras, algum mérito em deixar a região onde estou para nosso querido Vaugirard, pois, enquanto vocês, sem dúvida, ainda estão com frio, aguaceiros, céu severo, árvores tristes e desnudadas, aqui já temos verdes nascentes, amendoeiras e muitas outras árvores com flores, jacintos azuis e violetas aos milhares, anêmonas e narcisos dos campos, que dariam inveja às suas mais lindas flores dos jardins. Mas nada é lindo como o país em que se tem suas afeições, e a fumaça da pátria é mais linda que o fogo da terra de exílio. Não terei saudade nenhuma por todas essas riquezas naturais da Provença; suas montanhas e seus vales, suas oliveiras, símbolo de paz e de perpétua abundância, suas laranjeiras sempre em flores, sempre com frutas, nada vai me reter. Nossa querida capela, nossa pequena sala de comunidade, o terreno de Nossa Senhora da Salete, existe no mundo algo comparável a isso? Se alguma vez, caros filhos, alguém de vocês, num dia ruim, encontrando-se triste, cansado, com desgosto, viesse a suspirar por essas maravilhas do mundo que estão fora da clausura de nossa cara comunidade e a gemer um pouco, por só ter como quinhão  a oração, a dedicação, a pobreza, a paz da consciência, com uma morada bem humilde, uma família sem brilho, uma vida calma, sem agitações comovedoras, se alguém de vocês, em uma palavra, tivesse saudades da tenda dos pecadores e desconhecesse os encantos da casa de Deus, desejo-lhe, para sua cura, apenas a pequena e simples prova dos dois invernos que acabo de passar, nos Pireneus tão famosos, em Hyères perto dessas ilhas encantadoras que chamam de ilhas de ouro, enfim em Cannes, bem perto da Itália, sob o lindo céu e nas mais ricas regiões da Provença. Ele entenderia, de uma vez para sempre, que tudo o que é exterior não é nada e não tem possibilidade alguma de nos satisfazer; o reino de Deus, quer dizer a única e verdadeira felicidade, está dentro de nós, em nossa disposição interior. Correr, mudar as circunstâncias e os lugares não nem a paz, nem a alegria do coração. É preciso encontrá-la onde ela está única e verdadeiramente: na união de todas as nossas faculdades de coração e de espírito com Deus e com os desígnios de sua adorável sabedoria, na felicidade de servi-lo, na alegria de fazê-lo conhecer e amar, na esperança de possui-lo plenamente e sem fim. Esses bens preciosos, essas vantagens inestimáveis, vocês os possuem como seu quinhão, caros amigos. Ah! Guardem-nos bem, segurem fortemente seu caro tesouro, para  que ninguém os prive dele e o roube de vocês.

 

            É bem ousado para mim falar-lhes assim, no momento em que, curvando-se sob os cargos, em número mal suficiente para desempenhá-los, apenas escapando aos rigores de um inverno duro e desgastante, vocês sentiram quase unicamente os cansaços do caminho e talvez a ferida doída de seus espinhos. Mas essas provações purificadoras e fortificantes, que os deixarão, afinal, mais dedicados e mais firmes, não tiram nada da verdade de minhas palavras, e, se as expressei mal, se não soube dizer bem o que era preciso para convencê-los, o próprio Deus, em ocasião próxima, penetrando até ao seu coração, colocará nele alguma dessas alegrias puras, santas, inefáveis, que fazem tudo esquecer, os trabalhos e as penas, como as ilusões vãs, as glórias e as felicidades da terra.

 

            Espero, caríssimos amigos, que a festa de nosso Pai São José,  a da Anunciação, as piedosas solenidades da Semana Santa, ou mesmo seus mais simples e mais ordinários exercícios, possam servir de caminho para aproximarem assim, bem intimamente, seus corações do Coração de nosso Deus. Para preparar e aproveitar ao máximo essas doces e preciosas comunicações, tenhamos grande cuidado, caros amigos, vocês ali e nós aqui, para redobrar de atenção e de cordial empenho em nossos exercícios, de fidelidade a nossos trabalhos, para elevar nossa visão das coisas e purificar nossas intenções. Então, com toda a certeza, as santas solenidades da Páscoa passarão sobre nós como um sopro vivificante de rejuvenescimento e de força nova, que alegrará nossas almas e sacudirá para bem longe todo vestígio de desgosto, de penas e de aborrecimento.

 

                É com justo motivo que estou falando aqui em meu nome como no seu, pois aprouve a Deus associar-me durante toda essa dura estação a seus trabalhos e a suas provações pelas incessantes misérias que sofreu minha saúde. Bendigo-o por isso, do mais fundo de meu coração. Teria sido para mim bem mais penoso ainda estar disposto e gozando de uma espécie de passatempo, enquanto vocês estavam tão pesadamente carregados. Sofrendo aqui, eu podia pensar que aliviava seu fardo, e isso era para mim doce consolação. Agora, caríssimos filhos, parece-me que o bom Mestre vai dar a seus servos um pouco de liberdade e de paz. A primavera está chegando, vamos reunir-nos, nosso retiro está chegando, o mês de Maria o seguirá, alguns irmãos novos virão, talvez, nos dar sua ajuda, tudo parece, portanto, preparar-nos alguns dias de calma e de paz íntima sob o olhar do Senhor. Aproveitaremos para retomar fôlego e dispor-nos para novos trabalhos, pois sempre será assim, nossos dias estarão misturados de sombra e de sol, até esse dia eterno, que não mais terá tristezas, trabalhos nem noite. Para essa breve passagem, mantenhamo-nos bem unidos, a caridade tornar-nos-á firmes e aliviará nossas provações. Colhamos, sobretudo, nossa força em Deus pela , pela confiança em seu amor, pelos apoios de sua graça na oração, nos Sacramentos e em todos os nossos piedosos exercícios. Então as coisas que passam contarão bem pouco para nós, pois já teremos algum pressentimento dos bens preciosos da eternidade.

 

            Adeus, caríssimos amigos; alegro-me pensando que vou em breve aproximar-me de vocês. Oxalá os encontre em paz e de coração desabrochado, felizes por terem trabalhado corajosamente no campo do Senhor, e ainda prontos para servi-lo bem; Ele é o mais doce dos Mestres, Ele é o mais rico, o mais indulgente, o mais generoso; permaneçamos fiéis a Ele, portanto, e, todos juntos, um dia, estaremos para sempre unidos na grande, na maravilhosa Comunidade do Céu.

 

            Abraço-os, caros filhos, bem ternamente em Jesus, Maria e José.

            Seu amigo e Pai

 

                                               Le Prevost

 





279 O Sr. LP. escreve ao Sr. Myionnet, Superior por ínterim, paratds os Irmãos  comunidade





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