Que o Sr. de Lauriston (que entrará na
congregação no dia 18 de abril) não tenha inquietude nenhuma: “Quem
começou a obra saberá consumá-la”. Perigos das obrigações exteriores, se
não são vividas na fé e na verdadeira caridade. A Festa de São José em Arras. Caráter
jovial e animado do Sr. de Lauriston. O Sr. Le Prevost ama seus irmãos como “o
mais precioso dos dons de Deus”.
Grasse, 11
de abril de 1857, Sábado Santo
Caríssimo amigo e filho em N.S.,
Não tenho mais que uma palavra a dizer-lhe, já que vamos reunir-nos em breve;
vou para você do fundo de nossa França, venha também a mim, ou, melhor, venha a
Deus, que o chama e o quer, para servi-Lo na íntima familiaridade de sua casa,
nos cuidados que dispensará à sua pessoa divina, na pessoa dos humildes e dos
pobres. Não sei se você chegará antes de mim ou se vou precedê-lo, mas
estaremos, em todo caso, a pouca distância um do outro. Abrirei bem largos meus
braços para recebê-lo e assegurar-lhe de coração a coração que, diante de Deus,
consumo essa união, que nos coloca numa mesma família, e que associará doravante
nossas orações, nossos trabalhos e, espero, um dia, a recompensa que o bom
Mestre dá a seus menores servidores. Vejo com alegria que o Senhor confirmou
seu coração e deu-lhe o vigor necessário para a hora, sempre um pouco rude, das
separações. Mas, mesmo se alguns pequenos sofrimentos se fizessem sentir,
não tenha inquietude alguma, caríssimo amigo, a graça divina o acompanha, essas
poucas provações serão superadas, sua vocação não pode, agora, admitir nenhuma
dúvida. Quem começou a obra saberá consumá-la. E é uma bela obra, acredite bem,
caríssimo amigo, pois, quanto mais infelizes são os tempos, quanto mais raros
são os sacrifícios generosos que se faz de si mesmo a Deus, tanto mais são um
maravilhoso privilégio das bondades divinas, tanto mais são um sinal das graças
abundantes reservadas ao pequeno rebanho dos chamados, ousaria quase dizer dos
eleitos.
Nosso irmão Polvêche, como disseram-lhe, tomou alguns indícios de obrigações a
desempenhar fora por um sinal de que sua tarefa estava acabada entre nós e que
uma outra lhe estava preparada no mundo. É uma triste ilusão da qual ele teria
triunfado, apoiando-se melhor nos princípios de fé e de verdadeira caridade.
Mas a inteligência das coisas santas e das grandes verdades é um dom para as
almas simples, que crêem na palavra de Deus, de preferência às sugestões de sua
fraca razão. Sejamos sempre bem simples, caríssimo amigo, procuremos nossa
regra no Evangelho: é uma luz que não nos enganará e que nos conduzirá
seguramente.
Li com alegria os detalhes que você me dá a respeito de sua festa de São José
na Comunidade de Arras. Acompanhava-o pelo pensamento em todos os exercícios e
amáveis descansos desse lindo dia, e via com alegria todos os nossos irmãos
desabrocharem nessas ingênuas expansões, que convêm tão bem às famílias
cristãs. Mas o que mais me encantou foi a parte franca e cordial que você sabe
tomar nessas humildes brincadeiras de uma pequena sociedade, cujo único
atrativo é a simplicidade, a retidão de coração, a vontade de tudo fazer sob o
olhar de Deus e, mesmo em suas folias, de agir somente para Ele sozinho. Essa
feliz disposição de seu espírito já me tinha chamado a atenção e me tinha
parecido uma marca bem segura de que Deus o queria num ambiente parecido. Encontrei
aqui uma nova prova, que me tocou bem vivamente. Não tome isso por um elogio,
caríssimo amigo e filho, os verdadeiros filhos de Deus não se louvam uns aos
outros; alegro-me somente com você, por uma preparação que o Senhor realizou
evidentemente e que é, para mim, uma manifestação de sua vontade divina.
Pretendo deixar Grasse na terça ou quarta-feira, para tomar, na quinta-feira,
dia 16, em Cannes, o barco a vapor que nos conduzirá a Marseille. É provável
que só chegarei a Vaugirard no decorrer da segunda-feira, dia 20. Se você
chegar, como no-lo diz o bom padre Halluin, no dia 18, eu o encontrarei na
minha chegada entre esses bem-amados irmãos, que o bom Deus escolheu para mim
com sua mão, e que prezo como o mais precioso de seus dons; isso significa para
você, caríssimo amigo, que, entre eles e você, não farei diferença alguma.
Terei um irmão a mais, um amigo, um filho dado por Deus, para que o ame como os
outros e que me dedique a assisti-lo e a servi-lo. É nessa disposição que você
me encontrará nesse momento e, espero, até o meu último dia.
Adeus, até logo, caríssimo amigo e filho, abraço-o bem afetuosamente em Jesus e
Maria.
Seu amigo e Pai
Le Prevost
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