Não se
deixar abater nem pela ausência de consolações sensíveis, nem pelo isolamento:
a vida de trabalho, de oração e de sacrifício só fica mais meritória aos olhos
de Deus por causa disso. “O vento, que sacode o cimo das árvores, enfia mais
profundamente suas raízes”.
Vaugirard,
8 de setembro [1857]
Festa da
Natividade
Caríssimo filho em N.S.,
Escrevo-lhe apenas duas palavras; nosso bom padre Lantiez, que vai nos
representar na bênção da casa de Amiens, lhe dará mais ao longo notícias nossas
e nos trará suas.
O conteúdo de sua carta não me surpreende, caríssimo amigo; você tem, às vezes,
alguns langores espirituais e torpores de espírito que o impedem de
sentir o movimento de sua alma para Deus e a ação do Senhor em você. Esses
estados, caríssimo filho, não têm nada de alarmante! Deus os permite para nos
fazer sentir nosso nada, nossa incapacidade de fazer algo por nós mesmos. Mas
não devemos nem nos perturbar nem desanimar com isso; devemos então voltar-nos
simplesmente para o divino Mestre, por um ato de confiança na sua bondade
misericordiosa, lembrados de que o Salvador Jesus reza e merece por aqueles que
não podem rezar e merecer por si mesmos, esperam tudo dele e entregam seus
interesses nas suas mãos. Tenha, portanto, boa confiança, caro amigo. Você
trabalha por Deus, obedece aos que O substituem junto de você, vela com
toda caridade sobre as pobres crianças que Ele lhes confiou, permanece fiel aos
votos pelos quais se dedicou e se consagrou a seu serviço. Esteja bem certo (e
isso eu lhe garanto em seu nome) de que, assim, você só pode ser
agradável aos olhos dele e que, se Ele não o paga em consolações e doçuras
sensíveis, é que Ele quer recompensá-lo muito melhor por um acréscimo de força,
de zelo e de corajosa dedicação. Tal será o fruto das provações penosas que
você está atravessando. Elas serão como o vento que, sacudindo o cimo das
árvores, enfia mais profundamente suas raízes.
Não fique também triste demais, se as ausências freqüentes e os numerosos
negócios de nosso caro irmão Caille não deixam a você a folga necessária para
expandir-se nele. Você está bem certo de que seu coração se entende com o dele,
de que ele o ama ternamente e aprecia seus cuidados e sua boa vontade. Aguarde,
portanto, pacientemente momentos que o Senhor proporcionará certamente mais
tarde e em que mais expansão e mais intimidade de vida lhe serão possíveis. Até
lá, expanda-se em Deus, em Maria, cujos Corações estão sempre abertos e contêm
em si todos os tesouros das doces efusões e das santas consolações.
Anunciar-lhe-ei logo o tempo do retiro; espero muito que nada irá impedi-lo de
participar dele.
Abrace por mim nosso caro irmão Marcaire e também nosso bom Pe. Caille,
amem-se muito todos os três; quando dois ou três estão unidos em nome de Deus,
o divino Jesus está no meio deles.
Não vejo inconveniente nenhum no fato de você ter inteira abertura com o Sr.
Mangot.
Adeus, caríssimo filho, acredite em toda a terna afeição de
Seu amigo e Pai
Le Prevost
P.S. Diga a nosso irmão Jules [Marcaire] que não esqueço sua boa mãe; ela me
escreveu nestes dias que viria me visitar. Ofereça meus respeitos aos Srs. Mangot
e Deberly.
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