Com tato e delicadeza, o Sr.Le Prevost exprime
a seu amigo sua união de coração e de alma. Conselhos de paciência. Recorrer à
oração.
Terça-feira
12 de fevereiro de 1833
Penetro tanto quanto posso em sua tristeza, meu querido Victor. Você está
sofrendo. Basta. Não examino se tem motivo, o que importa isso? A dor não é
menos viva; oh! sim. Quando você apoia sobre mim sua cabeça para chorar, a
minha se reclina também para chorar com você. Será uma fraternidade a mais
entre nós. Outros procurarão distrações para você, motivos de consolação; meu
papel é sentir como você, temer, esperar, ter lágrimas e alegrias com você e
como você, a fim de que, meu irmão, nossas duas almas, assim unidas, sejam mais
fortes contra o sofrimento, não sucumbam sob a felicidade. Se toda esperança
vem a nos falhar um dia, então, meu amigo, não terei mais palavras, nem
murmúrio ou canto para adormecer sua dor. Teremos somente lágrimas,
lágrimas simpáticas que se entenderão, se dirão uma à outra o que há no
coração, de onde jorram, de ternura e de amargor, de abismo sem fundo que
não se ousaria sondar. Mas hoje, sob seus temores, sobra ainda um pouco de
esperança, um raio brilha para você, parecendo-lhe fraca e pálida estrela que
se apaga; para mim, ponto luminoso de futuro e de dia que vai nascer. Firme, se
é possível, sua vida, olhe bem e dirá como eu: não, não estamos mais em tempos
em que um amor verdadeiro, puro e profundo deve se sufocar na alma que o
concebeu; a qualquer alma que ele vá bater, creio firmemente que se lhe abrirá.
Embora possa não estar absolutamente de acordo com a minha opinião sobre esse
ponto, você concordará comigo que uma afeição livre de todo interesse, de todo
individualismo, que um devotamento exaltado, o amor enfim, tal como o
entendemos, totalmente fora de si, sem que nada o ligue ao eu e possa fazê-lo
retornar para esse eu, você concordará que um tal amor, digo, é bem raro, e que
não há ninguém, fosse um bruto estúpido, que não lhe sinta o preço, que por
instinto, cálculo ou simpatia não se apresse a recolhê-lo; pois, para uns, é a
esperança da felicidade, para outros, nós por exemplo, a própria vida, o sine qua non da existência. Então, por que quer que uma
mulher que parece inteligente e também dedicada e uma moça tão pura que não
pode estar muito longe do céu, por que você quer que somente eles, entre todos,
fiquem insensíveis e de gelo, sob um raio que aquece e funde tudo? Isso não
poderia acontecer, isso não vai acontecer. Você queria, assim que essa moça lhe
foi de repente revelada, de repente fazê-la descer em você; não se devia contar
com isso; nessa idade se pode soletrar, mas não ler correntemente em uma alma;
você não leva bastante em conta seus dezesseis anos. Precisa que o novelo ainda
embrulhado se desembarace aos poucos; precisa enfim aqui a iniciação lenta e
sucessiva, já que a revelação intuitiva não seria para agora. Tenha portanto
paciência, meu amigo, não precipite assim as coisas, com o risco de tudo
quebrar; procure tornar a sentar-se e, como seu amigo Cosnier o aconselha
sabiamente, deixe as palavras já faladas descer e cair gota a gota. Ah! se você
pudesse ouvir o eco de sua queda, a harmonia encantadora que se elevará na
jovem alma, oh! você seria feliz demais. Conjuro-o, meu amigo, seja mais calmo,
não perturbe nada e o ouvirá. Sua imagem, pensa você, não é a de seu sonho; seguramente,
pois uma moça bem nova, tive disso recentemente um exemplo notável, nunca sonha
senão com faces brancas e rosadas e cabelos morenos e encrespados. Mas deixe
acontecer e verá se a verdadeira beleza de um homem, os reflexos de uma bela
alma reluzindo sobre a fronte, na voz, no porte, nos gestos, se tudo isso, por
si só, não cria logo pano de fundo, desenho, cores em seu espírito, não
acaba enfim um retrato novo cujo original será você. Para terminar, acrescento
enfim que nunca no mundo existiu moça de dezesseis anos que, à primeira
palavra de casamento, não tenha rompido secamente com uma recusa, apavorada,
como você diz, muitas vezes com verdadeira cólera.
Não conheço tão bem a mãe. Não saberia falar dela com tanta segurança, no entanto,
ficando nas generalidades, há para mim, toda parcialidade de amigos à parte,
mil a apostar contra um que você terá pleno sucesso junto a ela. Somente, meu
amigo, não deve desanimar e, como uma criança emburrada, dizer: guardarei
minha pena só para mim; não, não deveria acontecer que uma recusa, se viesse,
(e pode muito bem vir) dê a seu coração um golpe sem eco que o envenenaria e
feriria somente a você. Os golpes retumbantes são menos perigosos e, percutindo
no ouvido de quem os dá, o comovem e lhe fazem dizer “basta”. Você não
poderia, então ver essa mãe a sós, e, controlando-se um pouco, falar com ela:
sua submissão, suas promessas, esse acento de verdade que é preciso suportar de
todo o jeito, teriam um efeito, senão imediato, pelo menos seguro, e que,
direta ou indiretamente, chegaria a seu coração. Pode-se rejeitar um homem que
pede um simples lugar, como todos, perto da lareira, que diz: ficarei sem olhar
nem falar, estarei como todos, indo e vindo? e se um dia, não importa quando,
acostumado a me ver, tendo granjeado fé em mim, você me diz: fique, então
ficarei. Senão amanhã, depois, em qualquer hora você poderá me dizer: Vá e
adeus. Tome coragem, meu amigo, não indague em vão se pode haver alguma causa
de má disposição contra você; não há, não pode haver, ao máximo certa ilusão de
vista, certo capricho de ótica, acidente passageiro da luz, que um raio dissipa
iluminando melhor. Eis aí, tenho confiança, tudo o que se pode encontrar de
obstáculo entre vocês. Quantas primeiras recusas! Que um pavor infantil não
tenha portanto tanta força para perturbá-lo. Seja homem, seja sobretudo, meu
irmão, crente, esperando em Deus, que tem em suas mãos os fios de tudo isso,
reze a Ele. Eu, não esqueci um só dia de fazê-lo, desde o dia em que lho
prometi. Adeus, meu amigo, escreva-me todas as vezes que tiver força e
não aguarde apenas fatos decisivos. O que se passa em você, preciso
conhecê-lo também e quero também participar nisso. O Sr. Gavard sabe, como você
viu. Não tenho necessidade de lhe explicar as razões; elas me pareceram de
consciência e de sentimento. Você as entenderá, aliás.
Adeus de novo. Abraço-o com ternura.
Le Prevost
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