Encorajamento
a suportar as dificuldades da formação dos jovens operários. Disciplina e
suporte são necessários. Precisa inculcar-lhes o bom espírito. Submissão aos
Superiores. Espírito de oração e de fé. Que em todas as nossas obras, os irmãos
irradiem pela caridade, “tesouro de nossa pequena família”.
Vaugirard,
6 de dezembro de 1857
Caríssimo
amigo e filho em N.S.,
Compadeço
vivamente pelas dificuldades e penas que apraz ao Senhor deixar no seu caminho,
e conjuro-O bem insistentemente que as converta em vantagem e santificação para
você. Elas me parecem vir da natureza da obra à qual você tem que dar seus
cuidados e que não é, certamente, sem asperidades. Provêm também dos
embaraços que lhe suscita a impetuosidade pouco dominada de sua natureza.
Entendo bem a dificuldade que se pode ter para conter e vigiar uma reunião de
jovens aprendizes e operários, levianos, grosseiros, nada dóceis; é uma tarefa
penosa e que seria repulsiva para outros que não sejam servidores de Deus, mas
ela está totalmente na nossa vocação. Consagrando-nos ao serviço dos pobres,
das crianças e dos operários, aceitamos o suporte de todas as suas misérias
físicas, morais e espirituais. Quanto maiores são, mais nosso mérito é real e
precioso diante de Deus. Você o sabe, caro filho, e estou convencido de que, no
fundo, não é o trabalho e a rudeza da obra que o entristecem, mas as
complicações que as circunstâncias lhes acrescentam. Parece-me muito certo que,
redobrando de esforços, recorrendo aos meios de fé sobretudo, à oração, à
consideração dos seus deveres de estado, das grandes recompensas que o divino
Mestre lhes atribuiu, você chegará a superar os obstáculos e perseverará em
guardar seu posto, enquanto Ele não chamá-lo para um outro. Num outro lugar,
você encontraria outras dificuldades, e teria talvez ocasiões menos felizes de
ser útil. O ponto grave e rude da obra dos aprendizes internos está
evidentemente na disciplina e na conduta dos jovens maiores. Se se conseguir
essa condição essencial e se fizer reinar um bom espírito no meio deles, tudo
estará salvo, a obra andará bem. Note, caro filho, que é nesse ponto que Deus o
colocou e que dos seus cuidados depende, em parte ao menos, o sucesso de uma
obra grande, santa, agradável a Deus e cheia de frutos de salvação. Que motivo
para encorajar-se! Mas você não deve esquecer isto: com a disciplina, é preciso
o bom espírito, isto é, a afeição dos jovens à casa, aos seus mestres, para com
a religião que os inspira e os guia. Daí essa necessidade, com a qual se
preocupa, sobretudo, o Sr. Halluin, de ganhar seu coração pela bondade, a
dedicação, a paciência, o suporte e a condescendência, na medida em que seja
razoavelmente possível. Conciliar esses atos de caridade com a ordem, a
submissão a ser obtida dos jovens, a disciplina, enfim, não é sempre fácil. Por
isso, não é de estranhar haver, às vezes, alguns desentendimentos e diferenças
de apreciação entre o Sr. Halluin e você; mas então, caro filho, seu recurso
está ainda nos pensamentos da fé: os Superiores são postos por Deus, iluminados
particularmente por Ele. O único jeito de ficar em repouso em nossa condição é
submeter-se plenamente a eles, preferir seu juízo ao nosso e esperar em Deus
que recompensa sempre a obediência e a humilde abnegação de nosso espírito
próprio. Creio, caro filho, que uma de suas maiores dificuldades vem daí: você
está apegado demais ao seu sentimento, permanece demais no que lhe parece a
razão, e não entra bastante no espírito de confiança e de submissão
religiosa que nossa profissão exige de nós.
São
também, caríssimo filho, uma coisa lamentável e contrária à nossa vocação,
essas ameaças às quais você se deixou ir, às vezes: “Se não se fizer tal ou tal
coisa que me parece necessária, irei embora”. Coloque as coisas no pior,
suponha que uma situação tal lhe seja feita, que se torne além de suas forças
sustentá-la, você não teria outra coisa para fazer senão declarar humildemente
que não pode mais sustentar a tarefa, e seus Superiores refletiriam sobre isso.
Deste modo, sem quebrar sua vocação e talvez seu futuro espiritual por uma
decisão impetuosa que você lamentaria muito depois, teria o alívio que lhe
seria necessário. Os Superiores são os pais dos que trabalham com eles, não
querem carregá-los além de suas forças, mas será que é assim para você?
Você
reconhece que está longe de ter ocupações multiplicadas demais, está vendo que
as funções de que está encarregado são úteis e de uma real importância para a
obra excelente à qual você está ligado. Seu único embaraço é chegar a dominar
os jovens sem rigor exagerado e sem alienar seus espíritos. Repito, caro amigo,
perseverando, continuando a rezar, vendo nestas pobres crianças o próprio Jesus
Cristo, a quem você serve nas suas pessoas, procurando combinar felizmente seus
meios de disciplina com a influência que exerce o Sr. Halluin, pode chegar a
bons resultados. Não digo que o trabalho será sem pena, sem algumas
contrariedades crucificantes, mas, caro filho, somos os discípulos do Deus
crucificado, temos nossas faltas para expiar, nossa conversão a merecer, e o
Céu a ganhar. Pense em tudo isso, caro filho, nos seus momentos de pena,
recorra à Santa Virgem que o guarda e atravessará as provações sem tropeçar.
Eis
aí, meu caro filho, o que encontro hoje para a sua consolação. Não olhe para
trás, tenha confiança no Senhor, Ele não o abandonará. Escreva-me alguma vez,
tenha certeza de que o Sr. Halluin não vai achar ruim; rezarei por você, não se
esqueça de mim, você também, e reze também para que a caridade, tesouro de
nossa pequena família, permaneça sempre entre nós, em Arras como em Vaugirard e
em todo lugar onde o Senhor nos empregar a seu serviço.
Abraço-o
afetuosamente.
Seu
amigo e Pai
Le Prevost
Abrace
por mim a Paul Piard, encoraje-o muito. Mil afeições também a todos os nossos
irmãos. Não se preocupe com a posição do Sr. Daviron, é um fato isolado,
temporário; seu caráter sacerdotal basta, com suas boas qualidades, para lhe
conciliar seu respeito e sua afeição. Ofereça meu respeito a seus bons pais.
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