Uma
verdadeira vocação exige abnegação e dom total. Uma atração para as obras não
basta. Um jovem irmão tem dificuldade para dominar seu caráter.
Vaugirard, 8 de dezembro de [1857]
Imaculada
Conceição
Caro
Senhor padre e filho em N.S.,
Hoje,
festa da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem, nos lembramos de que era a
primeira comunhão de algumas de suas queridas crianças. Rezamos, todos, por
elas na Santa Missa. Ontem também, a comunidade as tinha recomendado às ternas
misericórdias de nossa bem-amada Mãe. Três de nossas crianças foram admitidas a
se juntar aos perseverantes. Um jovem irmão novo fazia também sua entrada no
meio de nós. Ele tomará seu lugar nas oficinas, já sabendo bastante bem
trabalhar como sapateiro. Tem 24 anos de idade. Pensamos que irá bem, quando
tiver feito um tempo suficiente de noviciado. Aguardamos, para o mês de
janeiro, um outro, que é empregado numa casa de comércio, no Mans. Ele nos
parece animado de ótimas disposições. Oxalá o bom Deus inspire a esses e a
todos sentimentos de verdadeira caridade e de sincera dedicação. Acredita-se,
porque se tem alguma atração pelas obras caridosas, que se é feito para o
serviço de Deus, mas é preciso, para ser apto a isso, a abnegação e o
sacrifício inteiro de si mesmo. Mais de um percebe que é muito mais do que
tinha pensado. Fora disso, não temos nada de novo. O negócio de Angers vai
lentamente, ainda não sabemos qual será seu final. O Sr. padre Choyer
deseja sempre igualmente nos dar sua obra, mas ainda não está
absolutamente livre. Ele veio nos ver nestes últimos dias. Deixamos tudo isso
nas mãos de Deus e faremos o que nos parecer ser sua vontade.
O
irmão Carment, como o anunciava na carta dele que você me tinha mandado,
me escreveu em particular numa folha de papel grosso, tirado de um de seus
cadernos. Não fiquei descontente com sua carta, que, para falar claro, não
passa de uma confissão e uma justificativa sobre alguns pontos. Ele fala de
você com respeito, da obra com uma sincera afeição. Acho que a deixaria com
pena. Por que não pode dominar bastante sua impetuosidade natural e se entender
com você mais simplesmente, mantendo-se em docilidade sob sua mão? Lamento
muito, caro Senhor padre, que esse instrumento seja tão crucificante para você.
Mas o que fazer? Talvez você conseguir torná-lo mais flexível; ele não é
insensível, longe disso, às marcas de confiança e de afeição. Penso que Deus permite,
para prová-lo, todas essas penas, mas que Ele não vai querer que saia disso mal
nenhum para você, para sua pequena comunidade, nem para suas crianças.
Tenha
certeza de que você sempre me encontrará disposto a tomar todas as medidas que
achar úteis. Deixo plenamente sua caridade e sua prudência julgar isso; uma só
palavra de aviso me bastaria.
Junto
aqui a resposta do Sr. de Ségur, sobre o livro do Sr. Lequette.
Os
sapatos feitos pela oficina de nossos sapateiros estarão à sua disposição na
semana que vem.
Abraçamos
todos os nossos irmãos de Arras. Sou, com uma terna e respeitosa afeição, seu
amigo e Pai
Le Prevost
|