O
espírito de família e de caridade na Congregação. Um padre, próximo do Sr.
Caille, pensa em entrar na comunidade. Para o Sr. Le Prevost, seria preciso que
ele se doasse sem tardar “de coração e de efeito”.
Vaugirard,
3 de janeiro de 1858
Meu
excelente amigo e filho em N.S.,
Recebi
suas boas e afetuosas cartas para o dia de São João e o ano novo, assim como as
pequenas epístolas de nossos queridos irmãos, e ao mesmo tempo também a carta
de nosso bom padre Sr. Deberly. Tudo junto me causou uma doce satisfação, pelo
bom espírito de afeição e de cordial caridade que reina dentro. Vivemos no
mundo da caridade, e é bem natural que a tenhamos antes de tudo em nossa
pequena família; digo-o com alegria, nossa família não está desprovida de
caridade, graças a Deus. Tenho a confiança de que ela permanecerá nos mesmos
sentimentos e , com o tempo, só fará aumentá-los e confirmá-los.
Vamos
bastante bem aqui, fora de algumas pequenas indisposições que, espero, não se
tornarão mais graves. As últimas notícias de Arras não estavam também
desfavoráveis; a ausência do irmão Carment causa um pouco de sobrecarga para a
casa, esperemos que a saúde de seu pai se torne menos inquietante e lhe permita
voltar ao seu posto. Os dias que atravessamos nos incomodaram tanto, que mal
encontro um momento para escrever-lhe estas poucas linhas; vou lhe escrever
quando o forte do movimento do ano novo tiver passado. Quis somente
agradecer-lhes a todos, sem mais tardar, por seus testemunhos de boa afeição, e
dizer-lhes uma vez mais que todos os nossos sentimentos de vivo apego são e
serão até o fim bem assegurados à nossa querida casa de Amiens. O Senhor,
espero, dignar-se-á suprir minha insuficiência e derramará sobre vocês suas
luzes, seus apoios e suas bênçãos, para suas almas como para todas aquelas que
sua caridade deseja levar a Ele.
Lamentei
muito ter visto pouco demais o Sr. Deberly, na curta visita que nos fez. O
tempo nos faltou para bem nos entender; não pude penetrar bastante nitidamente
em suas disposições para dar-lhe uma solução qualquer. Não estivemos bastante
livres para nos entreter bem completamente. Espero que, por carta, possamos
melhor nos entender. O fundo de meu pensamento é que ele deveria dar-se, desde
este momento, de coração e de efeito, à Comunidade, reserva feita da vontade de
Monsenhor o Bispo de Amiens, que não me parece, quanto ao fundo, ter querido
impedir essa união, mas ter pedido somente que ela se fizesse aos poucos e com
essa medida que pomos ordinariamente em nossa caminhada. Monsenhor deve ter
entendido que o Sr. Deberly lhe pedia de uma só vez um exeat e um tipo
de renúncia absoluta a dispor dele. Estou convicto de que, se o Sr. Deberly se
tivesse limitado a dizer a Monsenhor que, tendo feito a experiência das obras
de caridade e visto de mais perto as obras da Comunidade, ele persistia em
pensar que poderia fazer o bem em união com ela, nosso bom Senhor teria
respondido: “Pois é! Continue suas experiências e veremos.” É esse, para falar
a verdade, o sentido de sua resposta; por isso, não tenho inquietude nem
preocupação a esse respeito. Creio também que precisa tomar o espírito dessa
resposta para regrar nossos relacionamentos com o bom Sr. Deberly, considerá-lo
como um irmão e agir com ele, tendo-o como tal. Desejo vivamente que ele mesmo
se sinta disposição igual a nosso respeito. A única dificuldade me parece ser
no fato de o Sr. Deberly não se considerar bem da Comunidade enquanto não fez
promessa formal, que o ligue a ela religiosamente. Parece-me que, a partir do
dia em que alguém se doou de coração e de efeito a um organismo, com todos os
seus meios possíveis, pertence realmente a esse organismo; que nosso bom
padre faça assim, que se una a nós plenamente e sem nenhum pensamento de volta,
com a única reserva das vontades da autoridade superior eclesiástica. Será
verdadeiramente dos nossos sem, no entanto, se afastar da submissão que deve a
seu Bispo. Tenho, aliás, a convicção de que, por ocasião de minha primeira
viagem ou em qualquer próxima ocasião, o divino Senhor nos proporcionará os
meios de obter do venerável Pontífice uma decisão plenamente favorável. Rezemos
bem, a oração completará a obra começada e lhe dará sua perfeição.
A
protetora do jovem Normandie nos escreveu que lhe tinha remetido o valor de sua
pensão. Ficar-lhe-ei grato, na sua próxima carta, se me disser o valor em
número da importância recebida por você, a fim de que saibamos como estamos
nessa conta.
Adeus,
meu excelente amigo, faça muitas afeições da nossa parte a todos os nossos
irmãos. Lamento não escrever-lhes hoje; vou fazê-lo certamente mais tarde.
Seu
amigo e Pai em Jesus e Maria,
Le Prevost
P.S.
Ofereça minha respeitosa lembrança ao Sr. padre Mangot.
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