O padre
Choyer veio a Vaugirard. Notícias do irmão Bassery em Nazareth. Qualidades
de firmeza e de coragem, sem as quais não se faz nada de bom; as almas fracas
demais não podem acomodar-se com a vida em comunidade. O irmão
de Lauriston deve firmar-se. Que a comunidade de Arras seja mais unida.
Vaugirard,
4 de fevereiro de 1858
Caro
Senhor padre e filho em N.S.,
Demorei
mais do que queria para lhe escrever; a presença aqui, durante alguns dias, do
Sr. padre Choyer, de Angers, me foi a ocasião de um transtorno bastante grande,
e, aliás, estamos tão perto de Paris que se começa a não ter medo da distância,
que os que vão e vêm não deixam de ser também uma causa de interrupção em
nossos afazeres. Queria também deixar passar alguns dias, para que o irmão
Augustin pudesse falar-lhe um pouco de sua situação. Ele lhe escreve hoje, para
prestar conta de suas disposições. Seu caráter é sempre o mesmo: é manso,
dócil, inteligente, mas sem energia e sem vontade, sempre com saudades da
situação em que não está e não sabendo assentar-se firmemente naquela em que se
encontra. Deixo você totalmente juiz do partido que é preciso tomar a respeito.
Se você acha que pode empregá-lo utilmente e sem perigo em Arras, não ponho
obstáculo nenhum à sua volta. Se pensar, ao contrário, que ele deva ficar em
Nazareth, precisaria escrever-lhe claramente que não pode recebê-lo
presentemente e que ele deve fazer um esforço para aprender um pouco a firmeza
e a coragem, sem os quais não se é próprio para nada, nem para sua salvação,
nem mesmo para se sustentar no mundo. O que ele diz de sua saúde e de sua
tristeza é exagerado. Não tem má aparência. Têm-se para com ele delicadezas
extremas. Se esse pobre menino tivesse a sombra de razão, entenderia quanta
paciência e misericórdia encontra-se no comportamento que se tem com ele. Pode
ser que a provação de sua mudança lhe tenha servido de lição e que ele lhe dê
satisfação por um tempo, ocupando-se mais ativamente e velando melhor sobre si
mesmo. Digo “por um tempo”, pois creio que ele precisará de advertências mais
rudes para formá-lo, e que só se tornará homem e, espero, firmemente cristão,
após ter experimentado as rudezas e as penas da vida do mundo. A vida de
Comunidade é mansa e condescendente demais, para almas tão fracamente
temperadas. O ar de fora é necessário para aguerri-las. Você julgará, caro
Senhor padre, o que acha melhor para ele e para sua casa. Se ele tiver de ficar
perto de nós, seremos pacientes com ele, mas usando, todavia, da firmeza que
seu modo de ser pode exigir.
Nosso
irmão Georges [de Lauriston] me pede para desculpá-lo sobre os atrasos em
cumprir as pequenas obrigações que tomou para com algumas de suas crianças. Até
agora, não recebeu nenhum dinheiro de sua casa, aguarda suas contas, que lhe
prestam ordinariamente nesta época do ano. Mas, como ele não as pede, pode ser
que se adie o envio que lhe deve ser feito. As questões de dinheiro sendo
sempre delicadas, evito apressá-lo muito. Os menores afazeres o absorvem e o
preocupam, tem necessidade de não ter muitas coisas pesando sobre ele. Embora,
neste momento, não esteja muito carregado, não acha um minuto para seus
afazeres. Seu bom coração, seu excelente espírito, sua piedade e sua retidão de
intenção fazem ampla compensação a suas imperfeições, mas elas prejudicam sua
ação, e lhe criam dificuldades. Acho que o momento de pensar numa mudança para
ele não poderia ainda ser próximo. Ele tem necessidade de firmar-se no seu caminho
e de tomar, na vida comum, impressões um pouco profundas. Espero que será
assim, sua vontade sendo perfeita e seu desejo de servir a Deus bem cordial e
bem constante.
Receberei
com alegria notícias suas; desejo vivamente que o Senhor proporcione suas
graças a suas necessidades, e peço-lhe isso todos os dias com uma viva
instância. Espero que, aos poucos, você conseguirá formar ao seu redor uma
pequena Comunidade unida, dedicada e animada de seu espírito. Será então um
verdadeiro apoio para você. Acho que se aproximará desse fim, tendendo à
unidade, que você nunca poderá constituir com elementos de naturezas diversas.
Por isso, só posso aprovar seu pensamento de reduzir seu pessoal, logo que
puder, aos membros que compõem a comunidade. Deixo o bom Deus conduzi-lo neste
ponto como nos outros, sabendo bem que Ele está com você e que suas luzes
não lhe faltarão.
Adeus,
caríssimo Senhor padre; vamos bastante bem aqui, nossas pequenas oficinas vão
indo. Começamos alguns trabalhos para a casa de Angers, com a qual nossos
projetos de união se elaboram sempre. Monsenhor o Bispo de Angers nos apressa
vivamente, querendo nos ver ligados de certa forma com sua diocese. Ele mesmo
sempre foi um pai para conosco. Os irmãos se mantêm bem. Jules e Ferdinand são
pouco consistentes, mas não ruins. Eles lhe oferecem seu respeito. Mil afeições
de todos e, sobretudo, de seu devotado em N.S.
Le Prevost
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