O irmão
Carment deve vir a Vaugirard. O orfanato exige homens de autoridade. Conselhos
impregnados de sabedoria e de prudência.
Vaugirard,
31 de março de 1858
Caro
Senhor padre e filho em N.S.,
Ficamos
bem tristes pelas dificuldades que você encontra em sua obra tão útil e tão
meritória. São inerentes, sem dúvida, a uma tal tarefa, mas Deus, que as
permite para sua santificação e a de suas crianças, não vai querer que
prejudiquem seriamente o bem que você almeja fazer. Espero que, após
alguns dias de calma, suas crianças poderão continuar a receber provisoriamente
os cuidados do irmão Carment. Parece-me que, para não derrubar a autoridade,
nem arriscar-se a enfraquecer a disciplina, seria bom que ele guardasse seu
posto até o retiro, se você vê que possa fazê-lo sem risco de algum novo
embaraço. De outra forma, como você pode melhor, no próprio local, julgar a
situação e ver que partido tomar, deixo plenamente em suas mãos e a seu bom
espírito a incumbência de resolver as coisas no interesse do bem. Receberemos o
irmão Carment, em qualquer momento que você julgue bom mandá-lo de volta. Acho
que ele poderá dificilmente responder a seus intentos. Não tem bastante domínio
sobre si mesmo, para tomar a posição de autoridade calma e firme que deveria
ter junto às suas crianças. É preciso reconhecer, aliás, que essa posição não é
sem dificuldades e que exigiria um homem dotado de raras qualidades e de uma
sólida virtude. Encontraremos esse homem? Não sei. Procuraremos, ao menos, com
você, bem sinceramente, quais os recursos que pode ter nossa pequena
Comunidade. Estaremos bem satisfeitos em vê-lo na semana do Bom Pastor. Acho
que nosso retiro, salvo os casos imprevistos, poderia realizar-se na última
semana de abril, quer dizer daqui a três semanas. Não vejo bem, somente, se
você poderá ausentar-se com segurança, deixando para trás de si causas de
inquietudes. Se achasse melhor enviar de antemão para cá o irmão Carment, não
veria nisso, afinal, inconveniente absoluto; mas, você ausente e ele também, as
crianças serão suficientemente mantidas e vigiadas? Você verá, a esse respeito,
o que será melhor fazer.
Examinamos
bem se tínhamos alguns meios úteis, para arrumar emprego em Paris para
Jules em boas condições. O irmão Georges [de Lauriston] cuidou disso também
conosco. Estamos de acordo em pensar que nossa grande cidade teria muitos
perigos para ele. Achamos, portanto, melhor dirigi-lo para seu lado. Não o
consideramos, neste momento, bastante simples de coração e bastante capaz de se
esquecer de si mesmo, para ser apto à vida de comunidade. Todas as exortações e
conselhos do Sr. Lantiez, as do Sr. Myionnet e as minhas, não puderam impedir
nele o espírito próprio, a necessidade de trazer as coisas para si, e procedimentos
de camaradagem que tendiam constantemente a desviar nossas crianças de seu
caminho de obediência e de confiança para conosco. Parece-nos necessário que
ele amadureça na vida exterior. Ele fará, talvez, mais tarde sérias reflexões.
Hoje, não achamos que se possa esperá-las.
Receberemos
o Sr. Cousin quando você julgar bom enviá-lo, e nos esforçaremos por
proporcionar-lhe um pouco de calma e de descanso, misturando em sua vida
ocupações não cansativas demais e exercícios de Comunidade. Pareceria-nos
desejável que ele viesse com costume leigo. De outra forma, seria um embaraço
para dar-lhe tais funções que a necessidade pedir.
Para
nosso pequeno Brice, acho que vale mais, como você pensa, que não venha
desta vez para o retiro. Veremos mais tarde como ficarão suas disposições.
Não
posso ter um parecer bem fixo sobre o Sr. Daviron, porque não capto
perfeitamente o mais ou menos de utilidade que pode ter para você sua
colaboração. Há um inconveniente bem real, para dar um espírito a uma obra e
aos que a conduzem, em agrupar elementos de diversas naturezas, pois não se
saberia nunca chegar a unidade alguma. Parece-me também que isso é um exemplo
pouco favorável para firmar as disposições do jovem eclesiástico que parece
disposto a dedicar-se em sua obra. Por essas razões, acharia melhor que você
andasse sem o Sr. Daviron, mas, repito, não sei o bastante se pode passar sem
ele. Se sim, eu não hesitaria em acreditar que seria melhor partir para isso,
posto que, após a temporada que passou em sua casa, ele poderia ser colocado
convenientemente na diocese. Você, melhor do que eu, pode julgar o que é
realizável e oportuno.
Adeus,
caro Senhor padre, nossas penas e nossas dificuldades não me assustam nem me
desanimam. Podemos pensar que nossas obras nunca serão isentas delas.
Perseveremos em confiança, à força de orações, de paciência e de caridade,
superaremos os obstáculos e colocaremos nossos trabalhos sobre o chão sólido da
fé e da dedicação cristã.
Abraço
a você e a todos os nossos irmãos bem afetuosamente e sou, como sempre, com
respeito e terno apego,
Seu
amigo e Pai em Jesus e Maria.
Le Prevost
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