Justo
equilíbrio entre temeridade e timidez. Necessidade de uma fusão mais completa
com a Congregação e de maior independência para com a diocese de Arras.
Fraqueza das almas de nosso tempo.
Duclair,
21 de agosto de 1858
Caro Senhor padre e filho em N.S.,
Mandaram-me
de volta, para a casa de minha irmã, onde estou há alguns dias e onde me
proponho a ficar ainda até sexta-feira, dia 27, a carta que você me
escreveu, no dia 16 deste mês. Vi com alegria que você começa a se organizar e
que seus serviços vão andar bastante, aguardando que o bom Deus digne-se
dar-nos os meios de assentá-los de maneira totalmente regular. Creio que você
agiu prudentemente ao tranqüilizar os que se preocupam, em sentidos diversos,
com seus movimentos, mas não temos que nos inquietar com isso, tudo cairá
por si mesmo e todos os bons espíritos compreenderão, podemos esperá-lo, que
você resolve seus negócios para o maior bem. É sábio, sem dúvida, que andemos com
uma grande circunspeção, e aqueles que acompanharam atentamente o andamento de
nossa pequena família podem dizer-lhe que nada é mais em seus hábitos do que a
paciência e a temporização. Acho, no entanto, que devemos nos manter dentro de
justos limites entre a temeridade e procedimentos por demais tímidos. Que
poderiam objetar as pessoas a quem você diria: “Não posso, é evidente,
conduzir, eu sozinho, uma casa de 180 pessoas. Após maduro exame, me determinei
a associar-me aos irmãos de São Vicente de Paulo, que cuidam de obras análogas
à minha. Mas é totalmente simples que essa associação me dê algumas obrigações
ao mesmo tempo que algumas vantagens, e me imponha, notadamente, a necessidade
de um intercâmbio e reciprocidade de serviços. Se os membros da comunidade
chegam, um após outro e segundo as necessidades, para me prestar assistência,
têm direito de me pedir à sua vez que, em certos momentos, eu possa dar-lhes
um pouco de ajuda. Não se assustem, portanto, se faço algumas ausências,
deixem-me alguma liberdade em meus movimentos e tenham a confiança que o Senhor
dignar-se-á, como pelo passado, socorrer-me para a conduta de minha obra.”
Seria sobretudo para com Monsenhor que eu teria desejado que você tomasse
posição mais nítida. No meu entender, sua confiança em nós foi fraca
demais até agora; daí uma certa indecisão em nossos relacionamentos, que não
foi boa nem para sua obra nem para nós, já que, após três anos de união, não
estávamos muito mais adiantados em nossa fusão do que no primeiro dia. Começamos
a entrar um pouco mais francamente no caminho de uma união séria e efetiva, mas
só poderemos avançar, com a condição de uma vontade um pouco firme e um andar
mais francamente desenhado. Entrego plenamente à sua prudência o exame do tempo
em que você poderá fazer algumas ausências, mais ou menos longas. Você poderá,
caro Senhor padre, resolver isso com nosso bom padre Lantiez, quando ele for
visitá-lo. Mas eu não saberia insistir demais sobre a necessidade de determinar
nitidamente sua posição para com a Comunidade; de outra forma, mantida como em
esconderijo numa posição indecisa e mal assentada, ficará incapaz de ajudá-lo
seriamente e, após sacrifícios inúteis, só terá o pesar de não ter podido
secundar uma obra tão linda e tão caridosa como a sua. Em resumo, parece-me que
você poderia pedir a Monsenhor que lhe desse ajudantes, para sustentar
sua obra ou, então, que lhe permitisse procurá-los, você mesmo, e que,
neste último caso, aceitasse as condições essenciais de toda associação
para você, a saber: alguma dependência para com a Comunidade, alguma liberdade
e algum desempenho frente à diocese. Tenha plena certeza, caro Senhor padre, de
que, se não nos colocarmos assim, sentiremos inevitavelmente a impossibilidade
de sermos úteis um ao outro; Deus dignar-se-á, espero, fazer-lhe partilhar
neste ponto minha convicção profunda.
Desejo bem vivamente que possa tomar alguns dias de repouso. Eu me
prestarei a todas as medidas que poderão dar-lhe essa facilidade. A alma e o
corpo têm necessidade, cada um do seu jeito, de certos momentos de descanso e
de calma, para se recolocarem em equilíbrio e tornarem-se seguros em seu
caminho. Desejo vivamente, caro Senhor padre, que o bom Deus lhe dê esses
momentos de repouso e de paz.
Estamos, em Vaugirard, em grande movimento para a festa das Férias. Não pudemos
evitá-la este ano, tendo despesas a pagar para a pequena capela da Salete, mas
penso que não teremos mais essa carga bem perturbadora para o futuro.
Acho com você que seria bom substituir Dainville por uma outra propriedade
muito mais próxima de você.
Quanto ao irmão Michel, talvez fosse difícil recusar-lhe um asilo, mas tenha
certeza, caro Senhor padre, de que a aproximação de moços seguindo uma carreira
fora, em condições acessíveis para os irmãos, sempre será uma tentação e um
grande perigo para eles. As almas são fracas hoje em dia, devemos cercá-las de
muitas atenções. Rezemos muito, a graça nos é bem necessária. Mas vigiemos
também, pois o Senhor nos recomendou ambas as coisas. O irmão Joseph [Loquet]
me tinha remetido, já faz um certo tempo, uma carta para você. Eu,
infelizmente, a esqueci em meu bolso. Lamento-o muito, esse irmão não o
esqueceu, sou eu que tenho sido negligente ou sem memória. O Sr. Hello, que
está comigo aqui, se une a mim para assegurá-lo de nossos sentimentos de
respeito e de terno apego em N.S.
Seu devotado amigo e Pai em Jesus e Maria
Le Prevost
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