O Sr. Le
Prevost desenvolve seu Instituto sem espírito de sistema. Suas reservas a
respeito da utilidade dos Congressos. Lucidez e franqueza do Sr. Le Prevost
frente ao irmão Maignen. Diversidade necessária entre as Obras. “Seguimos nosso
caminho porque Deus nos colocou nele.” Manter-se discreto e reservado, sobre
a Congregação. Nosso fim último: irmos à procura das almas para trazê-las
a Deus.
Duclair,
26 de agosto de 1858
Agradeço-lhe, caríssimo filho, por me ter escrito algumas palavras de boa
lembrança. Esse sinal de afeição me foi doce; você me faz falta aqui, pois, por
terno que seja meu apego para com todos os meus irmãos, os mais antigos têm
sempre algum privilégio de preferência, nos limites que permite a caridade. Mas
não quis pedir formalmente que você venha, deixando-o examinar com nosso irmão
Paillé o que era o melhor para seu bem e pelo bem de suas obras.
Não me oponho à sua viagem a Angers298; não espero dela tanto bem
quanto você. Fazem-se, nesses Congressos, de costume, mais discursos do que
fruto verdadeiro e sólido para as obras; mas, enfim, falando pouco e procurando
simplesmente recolher algumas luzes nas experiências dos outros, você pode,
talvez, tornar essa viagem de alguma utilidade. Digo “falando pouco”, e insisto
nisso por várias razões. Primeiro, falta-lhe, entre várias qualidades felizes
de que você é dotado, uma certa nitidez e firmeza de espírito essenciais para a
discussão e cuja ausência faz com que seja facilmente derrotado e que, muitas
vezes, você mesmo se põe fora da questão. De outro lado, todos esses Senhores,
chefes de patronatos, têm, errada ou corretamente, idéias muito categóricas,
enquanto você, humilde instrumento nas mãos de Deus, só sabe o que Ele lhe
mostrou até agora, isto é, ainda pouca coisa. Não quero saber se é com justiça
que os outros se podem pretender melhor esclarecidos, mas eu gostaria que, no
seu caso, você se mantivesse invariavelmente nessa linha. Cremos que, nos
diversos sistemas de patronato, pode haver alguns mais perfeitos do que outros,
mas não achamos que se possa, uniformemente, impô-los a todas as localidades e
circunstâncias. Achamos que a diversidade dos meios está nas vistas de Deus, para
acudir a necessidades que não são as mesmas em toda a parte. Aliás, os recursos
de que o mundo das obras dispõe são pouco numerosos demais para que se despreze
algum: tais meios usados utilmente, nas condições em que estão colocados,
perderiam seu dinamismo e sua eficácia se se quisesse impor-lhes formas para as
quais não são feitos e às quais não poderiam se prestar. Deixemos, portanto, a
obra de Deus se desenvolver numa certa variedade que Ele mesmo pôs em todas as
suas obras e só procuremos absolutamente a unidade da fé comum e do desejo
unânime de sustentar e de assistir cristãmente os aprendizes e operários na
carreira rude e perigosa que eles têm de seguir.
Recomendo-lhe, sobretudo, uma sábia reserva sobre a Comunidade. Só fale nela na
medida em que for indispensável fazê-lo: não temos necessidade de que nos dêem
atenção, entregamos a Deus o cuidado de nos conduzir e o de nos apresentar,
quando e na medida que Lhe convier. Nosso fim último, fundindo em vida comum
todos os nossos recursos e nossos meios é, quanto à vida exterior, irmos à
procura das almas para trazê-las a Deus. Parece nas vistas da Providência unir
intimamente para esse fim, em nossa Comunidade, os dois elementos eclesiástico
e leigo, e criar apoios para nós nas diversas sociedades caridosas. Andamos até
agora em paz profunda e sem embaraço algum; não pretendemos, no entanto, dizer
que todas as nossas provações estejam terminadas e que nossa constituição tenha
chegado à sua consumação. Andamos, passo a passo, sob a conduta de Deus, e
continuaremos a andar sob seus olhos docilmente. Não pretendemos, logo, nos
colocar como os guias dos outros, pois nós mesmos somos guiados e conduzidos,
mas esperamos que, indo conosco, se vai sob a mão do Senhor. Achamos bom e
sábio tudo o que fazem os outros, não preferimos nosso caminho a nenhum outro,
nós o seguimos porque Deus nos pôs nele e esperamos, se formos fiéis a seus
desígnios, chegar a um final feliz. Eis aí tudo o que sabemos. Gostaria que
você se mantivesse estritamente dentro desses termos. Acho também que não deve
tomar nenhum compromisso nem prestar-se a nenhuma associação, sem ter falado
antes comigo. Teria desejado que o Sr. Caille, cujo espírito é bastante
positivo e preciso, pudesse ir com você a essa reunião, mas acho que ele está
muito ocupado e que toda a sua casa está bem carregada neste momento. Se você
invocar fielmente o Senhor e se Ele dignar-se assisti-lo, você não precisará de
ninguém: Ele estando presente, Ele é o suficiente.
Adeus, caro filho, até logo, abraço todo o mundo bem ternamente.
Seu Pai afeiçoado
Le Prevost
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