Supressão
da festa das Férias em
Vaugirard. A cruz e as provações são penhores de sucesso.
Mostrar-se paciente. Vantagem que se encontra em ensinar o catecismo.
Estado de saúde.
Vaugirard, 8 de setembro de [1858]
Natividade da Santa Virgem
Caríssimo filho em N.S.,
O retiro mensal, que se faz hoje, me impede de conversar longamente com você;
confio somente estas duas linhas a nosso Padre Lantiez, para assegurá-lo de que
toda a pequena família o acompanha sempre com os olhos do coração e se
mantém bem ternamente unida a você diante de Deus. Vários dos irmãos queriam
escrever-lhe, mas, como esperam sempre pelo último momento, esse momento lhes
faltará hoje provavelmente. Vamos bastante bem, a reabertura das aulas se fez
ontem, após férias bastante bem aproveitadas e muito divertidas, sobretudo pela
festa do 29 de agosto, que foi um perfeito sucesso. Será, no entanto, a última,
sem dúvida, por causa dos cuidados e dos trabalhos que ela exige. Aliás,
teve êxito até agora com a ajuda de Deus, mas tantos acidentes poderiam
atrapalhar-lhe o sucesso, tantos abusos poderiam se infiltrar nela que sempre,
de antemão, era um motivo de preocupação e de inquietude. Vamos plantar o
campo e tudo será acabado para a festa.
Não me assusto, caro filho, por você ter algumas pequenas provações em seus
trabalhos: é o suor de nossas frontes que fecunda o campo que nossas mãos
cultivam, é o preço com que o Senhor vincula um mérito às nossas obras e tira
também delas frutos de santificação. Seja, portanto, corajoso, caro filho,
renuncie à consolação e às doçuras sensíveis que poderia esperar em seus
trabalhos, e o Senhor os tornará duplamente proveitosos para a sua glória e
para sua salvação. Você aprenderá, aliás, com o tempo, como nosso padre
Halluin, a discernir alguns bons movimentos do coração sob as rudezas de uma
natureza mal formada e que a educação não tornou maleável. Enfim, veja as almas
através do invólucro grosseiro que o fere e, no desejo de salvá-las, saiba muito
aguardar e muito agüentar. Se tiver esse espírito de sacrifício, caro
filho, ouso responder-lhe que seus trabalhos obterão resultados e que, um
dia, você mesmo, possuindo, enfim, a estima e a afeição de suas crianças,
achará alguma alegria no bem que seus cuidados tiverem preparado. É uma obra de
longanimidade e de perseverança, o Senhor cuidou de formá-lo antes de colocá-lo
nela, responda a seus votos, trabalhe, tenha paciência e confie-se nele.
Não podemos passar aqui sem L’homme religieux que é livro de fundo, mas
mando comprar para você um exemplar, que dôo com prazer à casa de Arras. Acho,
no entanto, que há muitos bons livros na biblioteca do Sr. Halluin e que,
procurando um pouco, poderia ter achado alguma boa e edificante leitura.
Estou bem satisfeito de que você ensine um pouco de catecismo, é um exercício
bem útil e bem salutar; mas, se o faz a crianças novas, tome cuidado para não
exceder o alcance de seus espíritos, seja simples, preciso, fique dentro de um
círculo restrito, o resto lhes virá na sua hora.
Agradeço-lhe
por sua atenção com minha saúde. Ela se mantém mais ou menos tal como você a
viu; fiz uma viagem de alguns dias na Normandia, mas breve demais para uma
constituição tão cansada como a minha. Não temos o tempo, aqui em baixo, de
sonhar em nossos corpos, felizes seremos se, pelo menos, tivermos cuidado de
nossas almas.
Adeus, caro filho, nós todos os abraçamos, você e os outros bons irmãos, que
amamos também com uma viva e terna caridade.
Seu amigo e Pai em Jesus e Maria
Le Prevost
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