A Obra de
Arras ainda não é nem muito sólida, nem bem assentada; mas Deus terminará o que
Ele começou. Negócios imobiliários. Um jovem postulante voltou a Arras. Os
laços de família podem ser um perigo para os irmãos. O irmão Cousin sonha
com o sacerdócio. O Sr. Le Prevost é favorável.
Vaugirard,
2 de outubro de [1858]
Santos
Anjos
Caro
Senhor padre e filho em N.S.,
Nosso
querido padre Lantiez confirma por suas conversas tudo o que você me diz de consolador
sobre seu grupo, tanto para os irmãos como para as crianças. Bendigo ao
Senhor que se digna utilizar instrumentos tão imperfeitos e realizar o bem com
meios tão fracos. Não me dissimulo, com efeito, caro Senhor padre, que ainda
fica muito para fazer a fim de estabelecer nossa querida obra de Arras numa
situação verdadeiramente sólida e bem assentada. Mas vamos passo a passo, como
apraz ao Senhor nos fazer andar, e usamos os meios que Ele digna-se nos colocar
na mão, esperando de sua bondade que Ele termine as coisas que começou.
Fico
sabendo com prazer sobre as disposições que lhe proporcionaram, bem perto de
sua casa, um terreno para ocupar suas crianças. Acho muito sábio também a idéia
que você tem de não fazer unicamente em seu nome a aquisição da casa encravada
nesse terreno: uma aquisição colocada sobre duas ou três cabeças em forma de
tontina, como fizemos aqui para nossos diversos imóveis e em Amiens igualmente,
é mais segura para o futuro e servirá também a consumar cada vez mais nossa união.
Não será necessário para isso que nenhum de nós se desloque, bastará que o Sr.
seu notário lhe dê um pequeno formulário de procuração, que farei preencher e
assinar por um ou, antes, dois de nossos irmãos. Se seu notário quisesse um
modelo da fórmula de tontina que adotamos, a exemplo da maioria das
comunidades, poderíamos enviá-lo.
Nosso
irmão Georges [de Lauriston] foi visitar o Sr. de Bunneville no endereço que
você lhe tinha indicado, mas não o encontrou. Acho que ele foi vê-lo na casa de
saúde, rua Saint Lazare, onde esse Senhor se retirou. Como esse bom irmão está
fora de casa neste momento, não posso responder bem precisamente em qual estado
o encontrou; se ele voltar antes que eu feche esta carta, vou pedir-lhe para me
informar mais completamente.
Não
pudemos impedir Ferdinand de chegar a Arras. Uma tia sua, boa mulher talvez,
mas que sempre tendeu a fazê-lo sair de nossa casa, como fez também todos os
esforços para fazer sair sua irmã do convento, essa tia, digo, o atraía há
muito tempo, ele queria chegar junto a ela. Escreveu-me, ao sair, uma carta
bastante boa, prometendo voltar para perto de nós, quando estivesse se
tornado um pouco mais firme e mais seguro em sua caminhada. Pobre menino, que
Deus digne-se ampará-lo e dirigi-lo!
Não
perdemos a esperança de vê-lo no retiro, mas, se você não enxergar
possibilidade de vir, seria, ao menos, para nós uma consolação que estivesse no
encerramento. Não estou prevendo que eu vá visitá-lo nesta estação. Estarei bem
feliz se de seu lado, você nos fizer uma pequena visita.
Acho
que é preciso dissuadir afetuosamente o irmão Firmin [Thuillier] de seu
pensamento de ir ver sua família. É uma verdadeira tentação: ele mesmo
concordava que, em Amiens, a proximidade de sua mãe e seus relacionamentos de família
eram um perigo para ele. Aliás, devemos acostumar-nos a entregar nas mãos de
Deus o cuidado de nossos familiares, fora do caso em que a caridade e a
necessidade indicam que temos que agir diretamente.
Parece-me
que não se deveria retirar ao irmão Cousin a esperança de entrar no sacerdócio,
se sua saúde continuar a se restabelecer. Talvez fosse possível, se ele passar
bastante bem o inverno, entender-se com esses Senhores do Seminário e obter
deles que, na primavera, lhe façam concluir seus estudos devagar, talvez até
sem deixar a casa. O coração desse bom jovem me parece perfeito e eu
acreditaria de bom grado que Deus o escolheu, por causa de sua simplicidade e
de sua pureza de intenção. Algumas palavras de encorajamento neste sentido lhe
fariam grande bem, se você partilha esse sentimento. Ele nos seria mais útil
como padre do que como leigo, tendo aptidões, antes, num sentido do que noutro.
Deus lhe inspirará o que se deve fazer.
Uma
dama das amigas e aliadas de nosso irmão Georges, a Senhora Condessa de
Granville, que reside em Nantes, na mesma casa em que a família de Lauriston,
me pede para recomendar-lhe uma obra que a interessa muito e à qual dá todos os
seus cuidados. A obra consiste em obter que os padres, e sobretudo as
comunidades, se comprometam em dar, a cada mês, em dia fixo, uma missa em
reparação dos ultrajes feitos a Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento. A
maioria dos Monsenhores Bispos dão aprovação a essa obra, que está espalhada em
quase todas as dioceses, mas não em Arras, parece. Dona de Granville espera
que, através de você, ela se introduza ali. Já se celebram cerca de 500 missas
por mês nessa intenção. Aceitamos aqui dar uma por mês, felizes demais por
concorrer em reparar assim as indiferenças e ofensas de que nosso divino Mestre
é o objeto.
Adeus,
caro Senhor padre, espero vê-lo logo; abraço-o, assim como nossos irmãos, e
peço aos Santos Anjos da Guarda para vigiar com ternura sobre você e sobre sua
casa.
Le Prevost
P.S.
O pequeno irmão Jean-Baptiste me parece bem novo para fazer ofício de vigilante
de dormitório; acho que será bom que só tenha esse cargo de passagem.
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