Beleza de nossa
vocação. Considerações para firmar-se em sua vocação de irmão de São Vicente de
Paulo e desapegar-se de seus familiares. Evitar provocações e implicações.
Vaugirard,
2 de outubro de [1858]
Santos
Anjos
Caríssimo
filho em N.S.,
Nosso
bom padre Lantiez me alegrou muitíssimo o coração ao informar-me de que nossa
pequena comunidade de Arras andava em boas condições e deixava entrever um
feliz futuro para a obra tão santa, tão caridosa à qual é consagrada.
Volte de vez em quando, caro filho, a essa consideração: o que há de mais
lindo, de mais generoso neste mundo do que viver em sábio, piedoso, sob os
olhos de Deus, santificar cada vez mais sua alma e trabalhar ao mesmo tempo
para o bem de seus irmãos? O que seriam todas essas pobres crianças, todos esses
pobres aprendizes e jovens operários, se sua casa não os abrigasse, não
preservasse sua fé, seus costumes, tanto quanto se pode, preparando para eles
um futuro honesto e cristão, quer dizer a melhor parte para este mundo e a
celeste herança para a eternidade? Estime muito, portanto, o caminho em que o
Senhor dignou-se colocá-lo e em que você tantas vezes reconheceu humildemente
que somente sua graça pôde fazê-lo entrar. Rezamos bem particularmente por você
no dia da festa de São Firmino. Espero que seu santo padroeiro orava conosco e
que, do alto do céu, lhe estenda a mão, para ir cada vez melhor e de grau
em grau para o estado de bondade, caridade e abnegação em que o amor de nosso
divino Senhor nos quer. Mas, caro filho, se sua vocação é linda e santa, exige
alguns sacrifícios. Por isso, exorto-o, com uma afeição toda paterna, a
renunciar a diligências que poderiam dissipar seu coração, enchê-lo de imagens,
de afeições e de interesses totalmente naturais, que o afastariam
inevitavelmente da ordem de sentimentos e de pensamentos em que deve manter-se
habitualmente. Tenha plena certeza de que, se, em espírito de fé, em verdadeiro
desejo da glória de Deus, você lhe oferecer suas orações e seus trabalhos, fará
mil vezes mais o bem à sua família do que por todas as ternuras sensíveis de
que poderia cumulá-la. Todos aqueles, entre nossos irmãos, que agiram assim em
espírito de fé e de sacrifício, obtiveram a salvação e a evidente santificação
de seus familiares. Aí está o grande e o essencial bem que é preciso lhes
procurar. Tenhamos a coragem, caro filho, de merecê-lo por alguns atos de
generosa imolação. Sei, caro filho, que a razão vai facilmente ao seu coração;
por isso, não insisto sobre esse ponto.
Termino,
renovando-lhe a recomendação formal de evitar, com seus irmãos, o irmão
Alphonse [Vasseur] em particular, toda palavra de provocação e de implicância.
O Sr. Lantiez me diz que algo ainda fica para se desejar nesse ponto. Em nome
da paz e da caridade, em nome da obediência, se é preciso, peço-lhe, caro
filho, para lembrar-se de minhas insistentes recomendações a esse respeito.
Adeus,
caro filho, abraço-o paternalmente.
Le Prevost
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