Notícias do
recrutamento. A educação das crianças é coisa árdua e que dá poucas
consolações. É bom não ter sua recompensa neste mundo e só procurar amparo em
Deus.
Vaugirard,
23 de novembro de 1858
Caríssimo
filho em N.S.,
Meu
longo silêncio pôde entristecê-lo um pouco, assim como aos nossos demais irmãos
de Arras que, em aparência, abandonei um pouco há um certo tempo, mas esteja
bem assegurado, caro amigo, de que meu coração nunca está longe de vocês. Durmo
em aparência, mas meu coração vigia e reza por vocês sem cessar. Após o retiro,
caiu sobre nós como que uma saraivada de ocupações, que mal me deixaram
respirar. Além disso, o Sr. Myionnet, que cuida de muitas coisas
ordinariamente, fica confinado em seu quarto e está até acamado, há várias
semanas, em conseqüência da ruptura de um nervo na perna: acidente sem perigo,
mas bastante demorado para curar.
Fora
disso, vamos indo bastante bem de espírito e de corpo, todo o mundo se mantém,
nossas oficinas funcionam com bastante atividades. Chega entre nós, na
quarta-feira, um jovem irmão [Victor Erambert], alfaiate hábil e que poderá dar
impulso aos nossos trabalhos, se Deus dignar-se confirmá-lo em sua vocação. Os
dois últimos que chegaram vão bem também. Recebi, além disso, alguns pedidos de
informações que poderiam trazer alguns resultados, na mesma linha. Deixemos
agir o Senhor, que dispõe sozinho dos corações, e rezemos com muito ardor para
que seus desígnios a nosso respeito se cumpram.
Para
você, caríssimo filho, tenho boa confiança de que também sempre vai em bom e
firme caminho. As pequenas tristezas de que você me falava em sua última carta
não me inquietaram, porque bem sei que há momentos difíceis na direção das
crianças e que é bem possível, às vezes, ter um pouco de desalento, mas nos
reerguemos quando temos, como você, uma sincera dedicação, fundada sobre a fé e
a caridade. Não devemos esperar grandes consolações em nossos relacionamentos
com as crianças: nossos sacrifícios em seu favor os tocam menos do que nossa
necessária firmeza na disciplina os desgosta. Precisa, portanto, trabalhar com
desapego e lembrar-se de que o Senhor ensina que mais vale não ter nossa
recompensa neste mundo, que felizes, até, são os que sofrem perseguição pela
justiça, quer dizer algumas penas, contrariedades ou danos no cumprimento do
dever. Deus o amará muitas vezes tanto mais que receberá menos sinais de
amizade de fora; que sua afeição faça para você as vezes de tudo, se, no
entanto, se pode falar assim, já que você tem as ternas simpatias e os
encorajamentos de seus Superiores. Abrace por mim os irmãos Thuillier e Cousin.
Não posso escrever-lhes hoje, mas penso neles bem cordialmente diante de Deus;
vou escrever-lhes, se puder, em algum próximo correio.
Seu
amigo e Pai em N.S.
Le Prevost
P.S.
O Sr. Myionnet ficou comovido por suas boas cartinhas, agradece-lhe
afetuosamente. Na ocasião, diga uma palavra para o irmão Carment, cuja festa é
no dia 15 deste mês.
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