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Jean-Léon Le Prevost
Cartas

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  • Cartas 601 - 700 (1859 - 1860)
    • 633 - a Dom Angebault
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633 - a Dom Angebault

Apresentação das hesitações e das reflexões dos fundadores sobre a maneira de resolver a situação respectiva dos irmãos eclesiásticos e dos irmãos leigos no Instituto.

 

Vaugirard, 6 de agosto de 1859

 

Monsenhor,

 

Estamos comovidos e agradecidos mais do que poderíamos dizer pela solicitude toda paterna que Monsenhor digna-se conceder à nossa pequena família e da qual está dando-lhe tão constantemente provas desde o dia em que nasceu sob seu olhar, abençoada por Sua Excia., sustentada por seus conselhos, encorajada pelos sinais de sua terna caridade. Não estamos estranhando os novos testemunhos que recebemos dela, de modo todo particular, neste momento. Estávamos, há um certo tempo, mais ocupados do que de costume por nossa situação e por nosso futuro. Tínhamos rezado muito para que o Senhor se dignasse iluminar-nosmostrar-nos claramente em que caminho devíamos andar; sua carta, Monsenhor, chegando com tanta oportunidade, nos parece como que a resposta que o Senhor faz às nossas instâncias.

 

A bênção divina não cessou de ser bem sensível entre nós, vivemos na união e na paz, nossas obras prosperam, nosso número aumenta lenta mas constante e seguramente; tudo, portanto, no momento, parece bom e satisfatório, mas a preocupação do futuro mantém sempre alerta aqueles dentre nós que guiam o barco. A questão, bem especialmente, que pareceu-lhe dever ser submetida a Monsenhor o Arcebispo de Tours [Monsenhor Guibert], concernente à união íntima e à coordenação dos dois elementos eclesiástico e leigo, atrai toda a nossa atenção e nos parece exigir uma solução. Minha saúde é mais do que frágil, acidentes que ainda se renovaram recentemente indicam que um nada poderia pôr fim à minha existência; na presença de uma necessidade que pode ser tão próxima, é impossível deixarmos de dizer a nós mesmos: “O  que deveria ser feito em tal circunstância?” Não estamos vendo resposta bem nítida. Julgando o caso somente a partir das determinações presentes, nosso modo de ser atual tem reais vantagens: eclesiásticos e leigos trabalham cordialmente na obra de Deus sem ocuparem-se de si mesmos e de sua condição. Cada um traz para o conjunto todas as faculdades pessoais e os recursos de que dispõe; resulta disso que todos valem tudo o que podem valer, tendo livre espaço para empregar os dons  que o Senhor lhes fez. Nós, leigos, dirigindo os empreendimentos, sempre estamos dispostos a proporcionar neles um lugar de honra e uma parte eminente aos eclesiásticos, dos quais veneramos o caráter, dos quais pedimos e assistimos o ministério; eles tendo a direção seriam bastante condescendentes para nós, bastante dispostos a nos proporcionar a parte de que precisamos para guardar iniciativa, movimento, poder de ação? É bem duvidoso; estaríamos, portanto, inclinados a conservar o estado presente das coisas; seria ele, acho, igualmente aceito por fora, se conseguíssemos corrigir-lhe os inconvenientes mais salientes. Considera-se, em geral ao nosso redor, com desconfiança e descrédito uma instituição que parece, aos olhos de vários, uma expressão tão caracterizada quanto é possível do laicismo, já que, ostensivelmente, leigos organizam ali obras em que dão, em aparência, somente o secundo lugar ao clero. Digo “em aparência”, pois, de fato, o objetivo supremo de nossas obras sendo espiritual, o princípio espiritual da Comunidade, o elemento que a representa mais particularmente, age e domina realmente no fundo de todos os nossos movimentos, de todos os nossos trabalhos e de toda a vida de nosso Instituto. Não se quer observar também, quando nos criticam, que a Sociedade inteira está organizada assim hoje em dia, que até a maioria das instituições cristãs estão na mesma condição, deixando o movimento exterior e a iniciativa aparente ao elemento civil ou secular, e guardando somente a vida e o poder espiritual para o elemento eclesiástico e religioso. Se se supõe, sobretudo, que o elemento leigo é piedoso, devotado a tudo o que se refere à glória de Deus, deferente, respeitoso, submetido à Igreja e a toda sua hierarquia, não se que seja errôneo e inconveniente constituir obras nessa condição. Mas seria preciso dar satisfação às desconfianças que se tem contra nós em tudo o que elas têm de real ou até de especioso. Seria de desejar que nossos irmãos eclesiásticos tivessem, particularmente para seu ministério, uma direção mais constante e mais ostensível sobretudo; que recebessem exteriormente, como de fato, sua missão, para suas funções, de um chefe eclesiástico, que tivessem, em uma palavra, um resguardo honroso que abrigasse a dignidade de seu caráter e tirasse ao seu ministério até a sombra da dependência frente a uma autoridade leiga. Pensamos em pôr, para chefiar nossa pequena família, um Pai espiritual dando vida espiritual à Comunidade e às suas obras, dirigindo de modo todo particular os irmãos eclesiásticos, dando-lhes missão segundo os pedidos do Conselho e acompanhando de cima o andamento da Congregação sem misturar-se direta nem ativamente a seus movimentos. Mas esse Pai, onde encontrá-lo? Fora da comunidade? Mas é bem difícil; quem vai querer cuidar de nós com o zelo, a prudência, a constância, o desprendimento desejáveis? Se, por impossível, se encontra um, como, quando ele faltar, achar um segundo com as mesmas qualidades e o mesmo espírito sobretudo? Se o procuram na Congregação mesma, é preciso supor que ele seja suficientemente maduro, experimentado; se for jovem e ainda ativo, para onde levará suas faculdades de iniciativa e de ação? Nas obras da Comunidade, ele sairá de seu papel; fora, vai desgastar-se sem proveito para ela.

 

Numa visita que fiz ultimamente à Sua Eminência Monsenhor nosso Arcebispo [Cardeal Morlot], a algumas palavras que tentava dizer-lhe e que foram, é verdade, interrompidas por uma pessoa que sobreveio, ele me  respondeu que talvez fosse sábio para nós ligar-nos a alguma Congregaçãofundada e cuja consistência poderia nos dar apoio. Sem tomar essas palavras como um aviso, sendo que Monsenhor não pudera dar precisamente esse alcance às suas palavras, temos examinado muitas vezes, antes e depois, se não encontraríamos vantagem em unirmo-nos, como ordem terceira, à Congregação de São Lázaro, por exemplo, colocando-nos, em relação a ela, mais ou menos como estão as Irmãs da Caridade que têm sua constituição própria, sua Superiora comum, e que são somente dirigidas e apoiadas de cima pela Congregação de São Lázaro. Sei que a situação seria diferente em nosso caso; muitas coisas deveriam ser consideradas; até onde iria a união e a dependência? O que viriam a ser nossos votos de religião? Para tudo isso, seria preciso esclarecer-se melhor, tomando contato com as regras das Irmãs de São Vicente de Paulo, no que diz respeito a seus relacionamentos com os Srs. de São Lázaro. Supondo, por exemplo, que o Sr. Superior Geral designasse um padre de sua Congregação para nos dar alta direção, se poderia temer que ele cuidasse fracamente de nós, o  que tornaria nossa aproximação com a Congregação da Missão quase ilusória, ou que ele interviesse efetivamente demais no detalhe de nossos assuntos e estorvasse nossa movimentação assim como a livre direção do Superior da Comunidade.

 

Perdoe-me meu bom e venerado Senhor por gastar tanto tempo em dizer-lhe todas as nossas dúvidas, todas as nossas incertezas; elas podem servir a esclarecê-lo, mostrando-lhe melhor como estamos pouco firmes e quanto o seu apoio, as luzes de sua elevada experiência nos serão necessárias.

 

Ficamos felizes em acolher a esperança que sua carta nos permite conceber de uma próxima visita que Sua Excelência faria a seus filhos de Vaugirard; ela seria para nós um verdadeiro bem e, ouso dizer, Monsenhor, uma verdadeira boa obra para Sua Excelência. Nós lhe vamos preparar, se não a desprezar, uma humilde célula; mas não saberia insistir bastante sobre toda a indulgência e o espírito de pobreza de que Sua Excelência teria necessidade, se não achar impossível abrigar-se em nossa pobre casa. Estamos construindo neste momento um corpo de edifício considerável, a desordem resultante, além da vizinhança de nossas oficinas, torna bem pouco agradável deter-se em nossa pobre morada; se Sua Excelência superasse todos esses inconvenientes, nossa gratidãodeveria ser maior por isso. Esperarei de sua bondade, Monsenhor, algumas palavras de parecer sobre o que achar possível decidir a esse respeito.

 

O assunto de uma fundação de nossa pequena Comunidade em Angers parece, com efeito, sofrer muitas dificuldades, como o presume, Monsenhor; as razões de interesse, para dizer a verdade, não entraram nisso para nada: sabemos que lugar elas devem ter nas coisas que a Providência conduz; nossa fraqueza, a insuficiência de nosso pessoal, o peso de nossos encargos presentes foram os principais motivos de nossa decisão; há mais alguns também, inerentes à própria obra que teríamos tido que assumir e às circunstâncias em que ela nos teria colocado. Se tivermos a felicidade de vê-lo, poderei, Monsenhor, dar-lhe, a esse respeito, explicações mais detalhadas. Lamento terminar minha carta tão em baixo da folha e peço-lhe, Monsenhor, para aceitar a homenagem que lhe apresento em nome de todos, de nossos sentimentos de profundo respeito e de filial devotamento.

 

Seu humilde servo e filho em Jesus e Maria

 

                                   Le Prevost

 




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