Incerteza persistente sobre a solução sobre a solução
a dar aos relacionamentos entre os dois elementos eclesiástico e leigo no
Instituto.
Vaugirard, 24 de
setembro de 1859
Monsenhor,
Tínhamos entrevisto, pela
última carta de que Sua Excia. nos honrou, que uma ocasião próxima nos seria
dada de nos vermos reunidos aqui alguns instantes a seu redor, e essa esperança
havia sido bem suave para nossos corações que lhe são tão respeitosamente
devotados. Eu tinha pensado, de meu lado, Monsenhor, que, se essa cara visita
fosse um pouco adiada, Sua Excia. teria a extrema bondade de me mandar por
escrito alguns conselhos no tocante aos pontos importantes de nossa
Constituição que ainda não estão bastante definidos. Mas não recebemos, meu bom
Senhor, nem anúncio de sua chegada, nem carta que nos sirva de
consolação. Com toda a confiança, então, resolvo escrever-lhe para solicitar
algumas palavras de sua afeição paterna, que nos encorajem e nos assegurem que
seus olhos sempre estão sobre nós. Temos necessidade, com efeito, de senti-lo
assim presente para nos dar confiança, pois, embora invoquemos o Senhor a fim
de sermos esclarecidos sobre nosso caminho, não recebemos até agora nenhuma luz
e continuamos no vago e na incerteza. Se essa situação está segundo os
desígnios de Deus, nós a aceitamos bem cordialmente; de outra forma,
parecer-nos-ia melhor sair dela. Essa indecisão, com efeito, torna nossa
caminhada um pouco incerta e impede também nossos desenvolvimentos, pois os
candidatos eclesiásticos ou mesmo leigos estão sendo afastados por uma condição
ainda mal assentada. Ela nos deixa, além disso, numa espécie de solicitude, em
relação ao estado imprevisto em que nos encontraríamos, se a obrigação imediata
de tomar uma decisão viesse a se apresentar; obrigação que nos chama a atenção
neste momento, tanto mais que minha saúde está extremamente enfraquecida e pode
me constrangir a me retirar para preparar as contas que terei de prestar a
Deus, ou mesmo a responder a seu chamado.
Hoje, o Sr. padre Halluin,
homem eminente em virtude e bem conhecido, ao menos de nome, por Monsenhor, me
escrevia de Arras, onde dirige a casa que ele associou às nossas obras, para me
representar que dois eclesiásticos se tinham oferecido a ele, mas que eles,
como vários outros, estavam barrados pelas particularidades de nossa
Constituição. Ele me propunha consultar o Sr. Bispo de Arras, uma das luzes da
Igreja da França. O Sr. Caille, leigo, de seu lado, que dirige a casa de
Amiens, preocupando-se também com esse grande assunto, me perguntava
ultimamente se, pelo intermédio paterno de Monsenhor, poderíamos obter que
nossos Senhores Bispos de Paris [Cardeal Morlot], de Arras [Dom Parisis], de
Amiens [Dom de Salinis] e, talvez, também de Tours [Cardeal Guibert], se
concertassem com Sua Excia. sobre a combinação que poderia convir melhor às
nossas necessidades e unir os dois elementos necessários de nossa comunidade.
Se esse meio lhe parecesse o mais sábio, Monsenhor, eu estaria muito disposto a
seguir para todas as instruções que Sua Excia. acharia dever me dar para sua
execução.
Se julgassem que o elemento
eclesiástico deve nítida e decididamente predominar, a coisa seria logo feita e
a hierarquia bem facilmente estabelecida; seria, nesse aspecto, um grande
descanso para o espírito. Mas, se pode objetar que os irmãos eclesiásticos são
6 e os leigos 30, que a obra foi fundada por estes últimos, ao menos nos seus começos,
assim como os Estabelecimentos dos quais ela cuida, que o temporal foi quase
inteiramente fornecido pelos leigos, enfim, que a natureza de seus
empreendimentos pede que eles tenham bastante iniciativa, liberdade e
influência para operar utilmente nas obras. Não seria possível pôr à testa da
comunidade um chefe supremo eclesiástico, limitando sua jurisdição ao
espiritual somente e à direção mais particular dos irmãos eclesiásticos? Se sua
esfera de ação fosse bem traçada, seria de se recear conflitos e um tipo de
antagonismo entre o chefe eclesiástico e o Diretor leigo?
Se a comunidade tivesse,
como hoje, um Bispo protetor, se encontrariam junto a ele conselhos, em elevada
arbitragem para prevenir os conflitos, ao mesmo tempo que se faria a ligação ao
Episcopado por um laço de dependência filial.
Quando todas essas perguntas
se colocam diante de mim e que tento seguir-lhes as conseqüências na prática,
não enxergo mais com muita clareza e fico na dúvida e na indecisão. Digne-se
rezar conosco, Monsenhor, para que o Pai das luzes nos ilumine, digne-se também
nos dizer se Sua Excia. tem algumas idéias sobre esses pontos tão interessantes
para nosso futuro e, enfim, se acreditaria que se pode esperar um bom resultado
do exame que seria concertado entre Sua Excia. e os Srs. Bispos indicados
acima, no tocante às questões que nos ocupam.
Peço humildemente,
Monsenhor, sua bênção paterna e sou, em N.S.
Seu humilde servo e devotado
filho
Le Prevost
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