Pêsames pelo
falecimento da avó de V. Pavie. Hino à família, “a sociedade de Deus”. Amizade
para chegar juntos a Deus.
Paris, 30
de maio de 1833
Que sem demora eu esteja presente a você por esta carta, meu amigo, para
associar-me à sua dor, para colocar-me com você sob a mão do Senhor, quando ele
o aflige, e adorar com você sua santa vontade. Quando irmãos desgarrados partem
deste mundo, tanto temor mistura-se às nossas esperanças por eles, que sem
querer nos curvamos com terror diante da Justiça de Deus que passa; mas, quando
a obra se realiza no seio de uma família cristã, o coração não se comprime com
angústia, irrompe em lágrimas, em gemidos que o Céu recolhe como um fruto
precioso de submissão e de amor. Assim, seu bom pai ajoelhado desabaria em
lágrimas, assim, você segurando-o, e eu mesmo nessa hora em que identifico-me
tão plenamente a você que sofro e choro como você sofreu e chorou. Mas nesse
momento sobretudo, meu amigo, repito, gritemos: glória e obrigado a Deus! que
nos fez cristãos, que muda a dor em um presente celeste. Diga, a graça não é
bastante sensível e palpável, quando a dor de seu pai, avançando em idade, vai
por ecos sempre encadeados, sempre subindo, levar seu tributo bem aos pés do
Senhor? Oh! é minha convicção, nossos olhos só vêem seguramente a Deus através
das lágrimas e isso aí é um mistério que nos levanta para chegarmos até os
outros.
Não, não vi sua venerada mãe, mas não o lastime tanto; você não sabe até que
ponto minha terna afeição por você me dá, por intuição, sentimento e noção de
tudo o que lhe é caro. Algumas palavras de seu irmão, algumas exclamações suas
me tinham feito ver aqui, pela visão da alma, esse tronco venerável de sua
família. Além disso, seu bom pai não é uma imagem dela? Você e seu irmão não
têm também dela alguns traços? Muitas vezes, eu garanto, meu espírito esteve no
meio de vocês nas horas mais santas e viu sua família como um irmão escolhido
por você havia de vê-la. Doravante, está aí uma grande mudança. A seu bom pai
pertencem todas as virtudes da mãe e Deus sabe se ele suportará nobremente esse
fardo! Mas a você também, meu caro Victor, todo o peso das dela. Meu coração o
diz com alegria, você já era grande, mas deve crescer ainda. Oh! continue sem
interrupção sua família, aumente o tesouro de suas virtudes, guarde-o com
solicitude, com amor. Conserve suas santas tradições, conserve a profissão de
seus antepassados, conserve sua cidade natal e sobretudo seu lar. A família: é
a sociedade de Deus; algumas famílias santas ainda espalhadas entre nós, creio
firmemente, conservam sozinhas com a Igreja esse tipo eterno da ordem diante
de Deus e interpõem essa imagem entre sua ira e a desordem do mundo. É
portanto uma missão, meu amigo, que você tem, missão de paz e de conciliação,
missão santa como a dos patriarcas nos tempos antigos, e meu coração ainda o
diz, você nunca falhará a essa missão. Para tanto sua humildade acolherá todo
apoio, por fraco que possa ser. Ofereço-lhe, portanto, o meu. Quero tender à
perfeição, para sustentar a sua perfeição. Você também me ajudará, e assim
apoiados um no outro, chegaremos melhor a Deus40.
Com esses sentimentos você pensa, meu amigo, se conservarei na memória o dia 18
de junho. Se, nesse dia, serei fervoroso ao pé dos altares. Tudo o que minha
fraqueza puder dar pela oração será inteiramente remetido ao tributo, e até lá,
cada noite direi com você a oração dos falecidos, oração por sua avó
venerada41; oração, esperamos, que ela poderá recolher, ela mesma, e
oferecer por nós em homenagem a Deus.
Seu amigo
Léon
Le Prevost
Hoje mesmo enviarei, se não puder levá-la, sua carta ao nosso amigo. Sua união
absoluta conosco em Deus é doravante um desejo bem ardente para mim. Empenhe-se
para que isso aconteça; eu sinto-me tão fraco agente perto dele, tão superior a
mim, que a coragem me abandonaria, se não tivesse de outra fonte a minha
confiança.
Transmita a seu pai
toda a minha terna veneração por ele; conte-lhe toda a minha sincera dor e como
eu sou seu, pertencendo a todos vocês.
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