Requerimento
endereçado ao bispo de Nantes para inscrever um irmão como candidato ao
sacerdócio.
Vaugirard,
11 de dezembro de 1859
Comunidade
dos irmãos de São Vicente de Paulo
Monsenhor,
Um moço, chamado Jean-Marie Gauffriau,
pertencendo à sua diocese, e que fizera suas humanidades, a filosofia incluída,
no seminário menor de Nantes, não tendo dado prova, por ocasião dos exames, de
talentos bastante eminentes para ser admitido aos estudos teológicos, teve que
se resignar, no começo deste ano, a deixar o seminário e, segundo o conselho de
seus superiores, entrou em
nossa Comunidade para se consagrar nela, como religioso, às
obras de zelo e de misericórdia.
Ele trazia, de resto, um excelente certificado
de seus antigos mestres, que também deram dele os melhores testemunhos à Sra.
de Grandville, protetora de sua família. Aliás, ele não era julgado indigno nem
incapaz do sacerdócio, mas, por causa da abundância dos candidatos na diocese,
por motivo também da presença no seminário menor de um de seus irmãos, a cargo,
como ele, do estabelecimento, havia sido julgado que se lhe devia preferir
candidatos mais brilhantes e de maior esperança.
Uma experimentação de mais de um ano, com
efeito, nos deu oportunidade de reconhecer que, às qualidades de coração e a um
caráter manso e dócil, ele une um julgamento reto, faculdades ao menos
ordinárias e, sobretudo, uma piedade sincera e um zelo verdadeiro pela salvação
das almas.
Essas faculdades, insuficientes talvez para os
ministérios elevados e numa diocese muito favorecida do lado das vocações,
podendo ser usadas utilmente no apostolado das classes operárias que é
nossa parte exclusiva, não hesitaríamos em responder aos votos ardentes
deste jovem, fazendo-lhe começar seus estudos teológicos, se Monsenhor se
dignasse nos autorizar a isso e mantê-lo na lista dos jovens aspirantes ao
sacerdócio de sua diocese. Essa última formalidade seria essencial para ele, a
fim de que pudesse escapar ao sorteio do recrutamento militar próximo, no qual
ele deve ser incluído. Nossas medidas são tomadas para fazer-lhe seguir seus
estudos, seja em Paris, seja em Arras onde nossa Comunidade tem um
estabelecimento, mas, como nossos planos não estão absolutamente fixados e que
temos que elaborar ao mesmo tempo nossos planos para um outro candidato cujas
aspirações são as mesmas, teríamos de recear que novas dilações deixassem o
jovem Gauffriau Jean-Marie sem defesa contra o serviço militar. Temos esperado
que Monsenhor não vá recusar seu apoio a esse bom jovem, que acreditamos
verdadeiramente digno, e à nossa pequena Congregação, que considerar-se-á tão
feliz como honrada por essa prova de sua benevolência.
Não precisamos assegurar à Sua Grandeza que a
proximidade do sorteio para o serviço militar não é, de jeito nenhum, o motivo
de nossa decisão a respeito do jovem Gauffriau, mas, sim, uma convicção sincera
sobre sua vocação. Nos comprometemos, aliás, Monsenhor, em mantê-lo informado
das medidas que tivermos tomado para seus estudos e em solicitar, então, o exeat
de que ele precisará para ligar-se definitivamente à nossa Congregação.
Monsenhor o Bispo de Angers, Pai e Conselheiro
de nossa pequena família desde seus primórdios, digna-se assumir nosso
requerimento; é, para nós, como que uma segurança de que Monsenhor dignar-se-á
dar-lhe um acolhimento favorável.
Tenho a honra de ser, Monsenhor, de Sua
Grandeza,
o muito humilde e muito obediente servo
Le Prevost
Superior
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