O irmão Jules Marcaire abalado na sua vocação.
Vaugirard,
4 de janeiro de 1860
Meu excelente amigo,
Ou conheci muito mal e julguei muito mal até agora nosso irmão Marcaire, ou as
disposições que ele apresenta presentemente são apenas pura tentação. Não posso
acreditar, com efeito, com os sentimentos afetuosos e devotados que sempre vi
nele, que possa, de coração tranqüilo, quebrar em um momento laços de comum
afeição que remontam a 8 anos e que não temos merecido, da nossa parte, ver
assim serem rompidos. Acho que ele cede a algumas contrariedades, causadas
pelos que o rodeiam, e que lhe roubaram sua calma de espírito. Parece-me que
teria sido melhor suportar pacientemente uma pequena provação, que eu tinha
prometido abreviar logo que o poderia; aliás, eu tinha avisado você que, se ela
parecesse realmente dura demais para nosso irmão Jules [Marcaire], eu
esforçar-me-ia, apesar da dificuldade do momento, para remediar sua pena; ele
devia, portanto, abrir-se a mim ou a você e nos dizer que a dificuldade que
encontrava era forte demais para ele. Embora lamentando que ele não tenha tido
em mim a confiança que eu poderia ter desejado, não irei dificultar a mudança
de sua situação atual, num sentido ou noutro, seja dando-lhe algum descanso
aqui para mudar suas ocupações, seja tomando umas medidas para que seja melhor
secundado em Amiens. Mas
desejo que ele entre em si e veja quanto, de um lado, a abertura simples e
confiante é necessária em Comunidade, por outro lado, como ele comprometeria
seu futuro mudando, sem razão sólida, o caminho onde Deus o colocou. Com
efeito, se ele acha que estaria melhor situado no seu devido lugar no Instituto
dos Irmãos das Escolas, que poderia, ali, encontrar uma vida mais interior, menos
cansativa, isso é, na opinião do Sr. Lantiez que conhece bem o caso, uma
grande ilusão; estou, de minha parte, convencido de que ele não permaneceria
ali e que o demônio serve-se desse meio para lhe fazer perder sua vocação.
Temos, na Comunidade, três irmãos de um mérito verdadeiro que pertenceram
vários anos à Congregação dos Irmãos das Escolas; todos os três estão de acordo
para dizer que a parte feita ao espiritual e à vida interior entre nós é mais
real do que no Instituto dos Irmãos. Lamentaria para nós o afastamento de nosso
irmão Jules que sempre afeiçoamos, mas o lamentaria sobretudo por ele, porque,
no meu ver, ele faria a coisa mais comprometedora para seu futuro. Não estou
falando dos votos, é a questão mais grave; acho que nosso irmão Jules vai
ponderá-la diante de Deus. Guardo firme a esperança, meu bom amigo, de que essa
nuvem de desânimo afastar-se-á de nosso querido irmão e que, quando vier aqui
com você segunda-feira, será um filho que virá para seu pai a fim de
consolar-se com ele e recuperar a paz junto a seu coração. Seja como for, meu
bom amigo, o acolherei, assim como a você, com muita afeição e esforçar-me-ei
por ser o agente do Senhor para o maior bem de nosso irmão Jules e das obras
que interessam a glória de Deus.
Até logo, caro amigo; abraço-os a todos afetuosamente em Jesus e Maria.
Le Prevost
P.S. O Sr. Lantiez começou a novena de missas pelo irmão Jules; rezemos muito
ao Senhor a fim de que se digne dirigi-lo.
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